Estamos cansadas de ser "guerreiras"!
"Está a criar os filhos, sem o apoio de ninguém, é uma guerreira".
"Sofreu horrores no parto, foi até mal tratada pela equipa e aguentou, é uma guerreira".
"Não tem tempo nenhum para ela, está sempre a cuidar dos outros, é uma guerreira".
"Chega a tudo e nunca diz estar cansada, é uma guerreira".
Ser guerreira, para muitos, é esquecermo-nos das nossas necessidades, dos nossos direitos, engolirmos o choro, vivermos para servir e abdicar, suportar tudo, tal como vimos fazer. É ainda ser a trabalhadora exemplar, a mãe paciente, que carrega toda a carga mental e a concretização das tarefas sozinha, a amiga disponível e a esposa atraente, que chega ao final do dia cheia de desejo sexual.
É demasiado, é irrealista, e chega a ser cruel aquilo que nos pedem em troca de um título que só serve para a sociedade se desresponsabilizar do seu papel.
Nós não queremos ser guerreiras. Queremos, sim, que aceitem os limites que criamos, que nos escutem e abracem, que nos permitam chorar sempre que precisamos, que não nos façam sentir culpadas por não sermos perfeitas, que entendam que não chegaremos a tudo da mesma forma todos os dias, que nos deixem comunicar as nossas necessidades e também cuidem de nós, que abram espaço para termos momentos em que nos priorizamos, que nos relembrem que somos sempre merecedoras de amor; queremos viver alinhadas com a nossa essência.
Estamos cansadas de ser "guerreiras", só queremos ser vistas como seres humanos.
Psicóloga Tânia Correia: "Estamos cansadas de ser 'guerreiras'!"
Num artigo de opinião, a psicóloga Tânia Correira deixou um desabafo sobre os desafios impostos às mulheres.
- 22 abr 2023, 12:35
Tânia Correia
Psicóloga, mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental na área da infância e adolescência / OPP: 24317