As minhas deambulações gastronómicas ensinam-me uma coisa muito importante: há restaurantes incríveis, por todo o país, e os grandes centros urbanos não têm o exclusivo da melhor oferta.
Por alturas do Natal, aumenta o stress gastronómico de grupos de amigos e de empresas na procura de um local para o chamado almoço/jantar natalício.
Escolher um restaurante para 10 ou 20 pessoas não é tarefa fácil, nos dias que correm. Em primeiro lugar, porque, nas cidades, nem todas as pessoas estão dispostas a gastar mais do que 20 euros no repasto e, em segundo lugar, porque nem todos se importam com o que comem, mas apenas com o quanto comem. Sendo assim, agradar a gregos e a troianos só nos leva a um lugar, ao mínimo denominador comum, ao restaurante mais barato.
O cenário pode parecer desanimador, mas apenas para quem vive nas grandes cidades. A realidade do “outro país”, do Portugal não urbano, interior ou mais esquecido, é bem diferente e, no que ao custo/benefício de uma boa refeição diz respeito, é mesmo uma realidade paralela. Comer bem e barato não é uma excepção no país que não aparece nas televisões, nos jornais, e nos tops da gastronomia. Nesse “país real”, servir bem e barato é uma necessidade de sobrevivência.
Já se imaginou a comer doses generosas de sopa, pão, vinho, prato principal (à discrição), sobremesa, café, por 6 ou 8 euros? Se não o imagina é porque vive numa grande cidade, porque quem vive em Amares, Escoural ou Castro Laboreiro isso não passa de uma inevitabilidade.
Posto isto, se está numa metrópole e quer planear o almoço de Natal da sua empresa ou dos seus amigos, aproveite o espirito natalício e dê uma prenda a si próprio e a eles: afaste-se 20 km da sua zona de conforto, saia do seu bairro e olhe para o que existe à volta da sua cidade, nos arredores. Há lá gente que cozinha com o coração, que sabe quanto custa a vida e, até, que se recusa a aumentar preços, por consideração aos clientes. É desses que nos devemos lembrar, quando a ocasião é celebrar os prazeres da amizade e da boa mesa. Vai ver como, para o ano, um dos seus convivas lhe dirá: “Ouve lá, e se fossemos àquele restaurante, ali, naquela aldeia perto de Loures, que tinha um cabrito incrível e não era nada caro?”
Paulo Salvador, jornalista e autor da rubrica Mesa Nacional, do Jornal das 8.
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