Selfie Sem Filtros

Wanda Stuart mostra-se como nunca a viu, na SELFIE SEM FILTROS

Convidada da rubrica SELFIE SEM FILTROS, Wanda Stuart aceitou abrir o coração, numa entrevista reveladora.

Começando por recuar à infância e à adolescência, a artista confessou só ter boas recordações: "Sou de uma geração que brincava muito na rua. Morava em frente ao Zé Pedro dos Xutos & Pontapés. As festas de garagem, que eram do melhor que havia, e aqueles primeiros amores foram todos na garagem do Zé Pedro... Eu assisti ao nascimento dos Xutos & Pontapés, eles ensaiavam em frente à minha varanda, portanto, foi uma infância recheada de música, também, e acho que tudo isso me construiu enquanto ser humano. Se, hoje em dia, sou uma pessoa de afetos, é a essas pessoas que o devo."

Sobre os primeiros amores, Wanda Stuart contou, ainda: "São coisas que não se esquecem! (risos) Tive muitos namorados. Costumo dizer que vou de barriguinha cheia. E sofri imenso por amor! Ai! Um horror… furiosa, dramática... Chorava imenso quando os namoros acabavam, era capaz de estar dias sem comer e sem dormir, a chorar e a sofrer horrores...."

Sendo a mais nova de dez filhos, a cantora admitiu que, em casa, foi, sempre, a "menina da mamã": "Nos almoços e jantares de família, o lugar ao lado da minha mãe estava, religiosamente, guardado para mim e não havia ninguém que se atrevesse a ocupá-lo! (risos). A minha mãe, apesar de ter 45 anos de diferença de mim, era a pessoa mais compreensiva e tolerante que conheci na minha vida. Sempre tive uma grande cumplicidade com ela, contava-lhe tudo o que acontecia na minha vida e ela era a minha maior confidente e a minha maior referência, até como ser humano. Sempre foi uma mãe atenta, mas que me deu, também, liberdade para fazer as minhas escolhas. Sempre foi o meu ombro amigo, sinto muito a falta dela."

Já a relação com o pai era muito diferente, como recordou Wanda Stuart: "O meu pai era militar e tinha uma relação um bocadinho mais distante com os filhos. Era uma pessoas mais austera, impunha muita disciplina, não era uma pessoa de afetos, não sabia exprimir afetos. Acredito que ele gostava dos filhos, mas não o dizia e, portanto, era um bocadinho mais complicado. Depois, havia a agravante de eu ser artista. Quando ele descobriu que a filha mais nova ia ser artista, houve um choque muito grande. E, depois, eu sempre fui um bocadinho politizada e ele também. O meu pai era muito pela autoridade e eu era mais pelo contrário, então, tínhamos grandes discussões, chegávamos a confrontarmo-nos bastante um ao outro. Nos últimos tempos que vivi na casa dos meus pais, eu e o meu pai não nos falávamos. Para ele foi uma afronta ter uma filha cantora. Na geração dele, as cantoras eram vistas de outra forma. Há 50 anos, ser cantora era sinónimo de ser prostituta, na cabeça das pessoas. O meu pai, às vezes, dizia-me, com um tom depreciativo: 'A senhora cantora'. Mas a minha mãe, depois, contava-me: 'Ainda no outro dia, ele estava no café e dizia: 'Aquela é a minha filha'. No fundo, ele até tinha orgulho."

No entanto, para uma jovem, na altura, com 15 anos, não era fácil entender o pai, como confessou a artista: "Até porque ele era uma pessoa que transmitia alguma agressividade. Tive a sorte de ser a mais nova e já o apanhei com uma idade mais avançada, mais calmo, mas os meus irmãos levavam muita pancada e a minha mãe também. Agora, já se fala em vítimas de violência doméstica, mas, na altura, não se falava. Era o 'entre marido e mulher, não se mete a colher'. Cresci a assistir a isso e ainda tinha mais raiva ao meu pai. Levei algumas tareias. Muitas vezes, quando saía para cantar, sabia que, quando chegasse a casa, ia apanhar, mas ia na mesma, o que só demonstra o grande amor que tenho à profissão, porque sabia que ia apanhar quando chegasse a casa, mas isso não me demoveu. Foi a profissão que me escolheu, sem dúvida nenhuma!"

Depois de se incompatibilizar com o pai, Wanda Stuart acabou por sair de casa e foi, então, que surgiu a participação na peça "Maldita Cocaína", de Filipe La Féria.

"Fazia de prostituta e de dealer de cocaína, portanto, era do melhor para um pai ir assistir! (risos) Estava em pânico, nesse dia, porque não sabia o que ele iria pensar. A minha sorte foi que o Ruy de Carvalho, a Manuela Maria, a Simone, o Curado Ribeiro, o Varela Silva - que eram pessoas que ele respeitava e que já tinham uma grande carreira - foram lhe dizer: 'Deixe lá a sua filha seguir esta vida, a miúda tem jeito e gosta disto, e, como vê, não é de mal'. Foi a primeira vez em que o meu pai chamou 'trabalho' àquilo que eu fazia, e isso marcou-me. Ele foi ao meu camarim, deu-me os parabéns e disse: 'Gostei muito de te ver no teu trabalho.' E disse para eu voltar para casa, que aquela era a minha casa. Eu expliquei-lhe que já não fazia sentido, até porque tinha uma vida muito diferente, com horários muito diferentes, e era uma pessoa notívaga, mas demonstrei-lhe que fiquei sensibilizada com o facto de ele ter dito para eu voltar para casa e que sentiu a minha falta."

A propósito daquilo que mudou a partir desse dia, Wanda Stuart não hesitou em afirmar: "Foi fundamental. Mudou tudo, porque também passei a vê-lo com outros olhos, comecei a respeitá-lo mais. Também já tinha 20 e alguns anos e comecei a compreender que se ele era fruto da educação que teve. Mas, com 15 anos, é difícil tu veres os teus irmãos e a tua mãe a apanharem pancada e não ganhares ódio à pessoa. Cheguei a desejar a morte do meu pai. Custa-me imenso dizê-lo, acho que é a primeira vez que estou a dizer isto. Eu, também, sempre fui rebelde, e nessa idade, há um choque de gerações. Mas, passados uns anos, acho que compreendi e perdoei. Hoje em dia, antes de subir a qualquer palco, peço ajuda ao meu pai, portanto..."

Para que esta reconciliação fosse possível, muito contribuiu a mãe da artista:  "A minha mãe e os meus irmãos mais velhos tentavam o mais possível que o meu pai aceitasse a minha escolha profissional e escolha de vida. Até para contar certas coisas ao meu pai, era com a minha mãe que eu contava, claro. Primeiro, tinha que contar à minha mãe, e as duas, juntas, pensávamos em como é que íamos transmitir ao meu pai, de forma a que ele não ficasse assim tão chateado. Claro que ficava na mesma, mas, pronto... Ainda para mais, a minha mãe gostava de cantar e percebia que eu tinha herdado dela esse dom e que tinha como objetivo levar a vida a usar esse dom que Deus me deu. Ela adorava ver-me no palco. Tenho pena de que ela tenha ficado cega, o que fez com que os últimos anos da vida dela não fossem aquilo que ela merecia, até porque foi uma pessoa que sofreu muito ao longo da vida e não merecia o final de vida que teve, mas acredito que ela, agora, esteja numa outra dimensão, sem sofrimento. Ela era de Cabo Verde e uma das maiores dores da vida dela foi não ter regressado à ilha onde nasceu. Tenho pena de não a ter conseguido levar lá. Acho que ela, agora, já lá deve ter ido, espero eu."

Questionada sobre se ficaram coisas por dizer, não teve dúvidas: "À minha mãe, não, e ao meu pai também não. À minha mãe, sempre lhe disse que a amava muito e ela tinha perfeita noção de que eu era a 'menina da mamã' e que ela era a 'mamã da menina'. Era a pessoa que eu mais amava na vida e ela partiu com essa noção. O meu pai, como nós nos reconciliámos já na minha idade adulta, acredito que ele tivesse noção do quanto eu gostava dele, apesar de, muitas vezes, não concordar com a maneira de ser dele."

A maternidade foi algo que, também, transformou a artista: "Ser mãe transformou-me numa pessoa mais forte e ainda mais corajosa, mas, paradoxalmente, com mais medos. Se, antes, já levava tudo à minha frente, agora, para defender a minha filha, venha quem vier! Não há como me segurar. Faço o que tiver de ser feito e luto com quem tiver de lutar para proteger a minha cria. Por outro lado, tenho tantos medos: de falhar, de não poder acompanhá-la até ela já não precisar, de não ter trabalho para a sustentar.... Paralelamente, olho para ela e encontro a inspiração para me fortificar e seguir em frente. E, muitas vezes, é ela que me dá colo, também. Desde muito pequenina, ela é uma menina muito sensata, muito madura para a idade. Desde pequenina que teve noção de que a vida não é fácil. Ainda conheceu a minha mãe, mas a minha mãe já não a viu. Sentiu-a, mas não a viu. Ficou isso por viver. Tenho pena, porque sei que elas iam ser as melhores amigas, tenho a certeza absoluta."

"Eu tinha o sonho de ter uma filha. E Deus, juntamente com o Nelson (risos), deu-me essa bênção que ainda saiu melhor do que a encomenda. A minha filha sempre me acompanhou, sempre pude levar a minha filha para o meu trabalho, sempre tive muito tempo com ela, sempre conversei imenso com ela... Ela adora conversar comigo. Somos as melhores amigas. No entanto, lá por eu ser muito liberal, - porque sou, tenho conversas com ela sobre tudo - ela sempre soube que há uma barreira que nunca poderá ultrapassar, que é o respeito pela mãe."

Ter mais filhos acabou por não se proporcionar, como contou: "Não aconteceu. Se tivesse acontecido, seria muito bem vindo, mas nunca senti necessidade de ter mais filhos. A Eva preenche-me, em todos os aspetos. Eu queria uma menina bem formada, doce... a menina perfeita... e ela ainda superou tudo isso. Realmente, tenho sorte… não só pela educação que nós lhe demos, mas porque ela já veio um ser iluminado. Nós dizemos muitas vezes 'amo-te', não tenho nenhum medo da palavra 'amo-te'. Embora seja a cara chapada do pai, em termos emocionais, é muito mãe e, depois, ainda para mais, é uma cantora maravilhosa. Embora a voz dela não tenha nada a ver com a minha. Eu sou um cantora mais de garra, com voz rasgada potente, ela não, é suave, o que não deixa de ser interessante. O facto de ela ter nascido com esse dom aproximou-nos ainda mais. A nossa relação é de muita intimidade e muita cumplicidade. Ser mãe é o melhor do mundo, realmente!"

Também o marido mereceu os maiores elogios da artista: "Quando conheci o Nelson, que é o meu atual companheiro e que espero que seja para o resto da minha vida, já tinha vivido muito, portanto, não há aquele sentimento de 'ainda gostava de ter experimentado...'. Conheci-o, apaixonei-me, e pensei: 'É com este que vou querer envelhecer'. É o meu pilar, o meu apoio em tudo, nem é preciso falar.... E, depois, compreende os meus dramas, compreende que, antes de ir para o palco, às vezes, sou insuportável, porque fico muito nervosa, e cada vez é pior. Portanto, ele trata de mim para eu estar bem, subir ao palco e fazer o meu trabalho. Hoje em dia, viver sem ele, não é que eu não sobrevivesse, mas, como diz o anúncio: 'Não era a mesma coisa!'" (risos).

O orgulho na filha não podia ser maior, mas os receios também são cada vez mais. "Tenho o maior orgulho, porque a miúda já compõe desde os 12 anos e está com umas músicas… Eu sou suspeita para falar, mas, ao mesmo tempo, também não sou, porque consigo distanciar-me, consigo perceber se as músicas são boas, ou não. Por outro lado, temos muito receio, porque sabemos que não é fácil, muito menos em Portugal", assumiu.

Com a filha decidida a apostar numa carreira artística, Wanda Stuart encaminhou-a para o Conservatório: "Queremos é que ela tenha uma base, para que, caso não dê certo a carreira musical, possa sobreviver e ganhar vida dela, dentro daquilo que a faz feliz. Acho que não há melhor na vida do que podermos viver daquilo em que somos felizes. Eu adoro sair de casa para ir trabalhar. Portanto, não somos ricos por causa da música, mas, se der para pagar as contas e se tivermos saúde para trabalhar, e assim nos deixem trabalhar (isto já é um recadinho), não peço muito mais da vida!"

As comparações não são, no entanto, uma preocupação para a artista. "Vai haver sempre comparações. Na nossa profissão e em Portugal, há esse preconceito, mas também há casos de médicos ou advogados com filhos e netos que seguem a mesma carreira. No Brasil, era engraçado, porque me diziam muitas vezes: 'Você acha o máximo a sua filha também ser artista…' E eu pensava: eu acho o máximo, mas sei que, no meu país, as coisas não são vistas com essa leveza'. Há muito aquela coisa do 'já tem a vida feita, porque…' e não é bem assim. Às vezes, até há mais responsabilidade, há mais cobrança da parte do público, Já no Brasil, temos imensos pais atores e cantores cujos filhos seguem as pisadas. Aqui, tenho medo que as pessoas pensem que ela, às vezes, possa conseguir certos trabalhos porque é minha filha, quando eu sou a primeira a dizer: 'Nem penses que vais ter a vida facilitada'."

Já sobre o segredo para o sucesso, Wanda Stuart sublinhou: "Trabalho! Trabalhar sempre muito, nunca me encostar… eu, ainda hoje, tenho a noção de que não sei quase nada. Dou aulas, há sete ou oito anos que tenho o meu grupo, Kids On Broadway, e é muito giro, porque, também, aprendo imenso com eles. Comecei como cantora de bares e acho que foi a melhor escola que podia ter. Quando entrei no teatro, tudo o que o Filipe La Féria fazia eu pensava: deixa ver como é que ele faz - e eu era das poucas que ele deixava estar na plateia a assistir aos ensaios dos veteranos. Ele sabia que eu estava lá a absorver tudo o que pudesse aprender com os mais velhos. Eu fui ganhando cada vez mais destaque, porque, também, fiz por merecer. Trabalhava muito. Enquanto os meus colegas tinham de saber os seus papéis, eu tinha que saber o guião todo, todas as semanas. A qualquer momento tinha que entrar para substituir alguém. Às vezes, as artistas convidadas ficavam com medo do Filipe La Féria, do método de trabalho dele - ele gritava muito, toda a gente sabe - e não apareciam mais. Então, o Filipe La Féria chamava-me e dizia: 'Você vai ter de substituir a não sei quantas!' Eu lidava bem com isso, até os gritos, para mim, eram uma aprendizagem."

Mas será que a artista mudava alguma coisa no percurso? "Claro que mudava. Essa história do 'não me arrependo de nada' é mentira. Há coisas de que me arrependo. Arrependo-me, por exemplo, de, na altura em que fui para o Brasil, em 1999, fazer shows com o Wolf Maya, não ter ficado lá quando fui convidada para fazer novelas na Globo. Só que eu acho que não tinha uma estrutura emocional que me possibilitasse estar lá, sozinha, porque tenho pouco espírito de emigrante, faz-me muita falta o meu país e os meus amigos, por muito que estivesse preenchida a nível profissional. Fiz um espetáculo, durante três meses, no Rio de Janeiro, sempre com casa esgotada, com os meus ídolos da Globo a assistirem ao meu show e a tecerem-me os maiores elogios. Eu gastava o dinheiro todo que ganhava lá a telefonar para Lisboa a dizer: 'Sabes quem é que esteve a assistir ao meu show?' (risos) Era desde o Francisco Cuoco à Betty Faria… Os grandes da Globo, que admirava desde miúda, estavam a assistir ao meu show, então, para mim era o culminar. Depois, fui convidada a permanecer lá. Se calhar, se tivesse lá ficado, hoje em dia, era uma grande estrela no Brasil e a vida teria corrido de outra forma, mas a vida é como é. Quando voltei cá de férias, como estava a fazer sucesso no Brasil, de repente, recebi uma série de convites e fui ficando. Quando voltei a estar com o Wolf Maya no Rio de Janeiro, já tinham passado sete anos anos e perguntei-lhe: 'Wolf, se eu voltar, ainda tem espaço para mim?' E ele respondeu-me: 'Aqui, sempre tem espaço para quem tem talento!' Comecei logo a chorar e ele perguntou porquê e eu disse-lhe: 'Porque eu nunca ouvi isso no meu país...' Fica sempre a dúvida sobre o que poderia ter acontecido, sim. E, durante anos, todos os dias me arrependia de não ter ficado lá, até que conheci o pai da minha filha e, aí, pronto... Eu sou muito positiva e tento, sempre, ver o lado positivo das coisas, então, quando conheci o Nelson, pensei: 'Eu não tinha que ficar no Brasil porque tinha que conhecer o Nelson'. Vou tentando arrumar os meus arrependimentos de uma forma que não me magoe, basicamente."

No entanto, era no Brasil que gostava de usufruir da velhice: "Era onde gostava de acabar a minha vida, num barzinho de praia, onde cantasse quando me apetecesse, de chinelo no pé, em biquíni, a servir os clientes enquanto cantava, se me apetecesse... Era assim que gostava de fazer a minha reforma. Vamos lá ver se consigo (risos). Ainda para mais, uma artista como eu que nunca teve uma estrutura por trás. Sempre estive sozinha. Nunca tive um manager, aliás, tive, mas a experiência correu tão mal... que a pessoa ganhava três vezes mais do que eu, então, decidi ser eu a tratar dos meus assuntos. Para editar o meu disco, fui eu que tive de pagar, mesmo com toda a gente a dizer que eu era das melhores vozes do país, portanto, nunca tive uma estrutura que me apoiasse ao nível da carreira, sempre construí, sozinha, o meu caminho, e isso ainda é mais difícil... manter-me no ativo, continuar, a mal ou a bem, a sobreviver do que eu faço... Por isso é que eu digo: 'Deus que me continue a dar muita saúde para trabalhar até ser velhinha.'"

A propósito da saúde, a artista partilhou, ainda, que experienciou, recentemente, a menopausa e que tomou uma decisão importante: "Depois da menopausa, engordei um bocadinho… eu era mais magra. Custa um bocadinho a aceitar que, agora, estou com uns quilinhos a mais. Deixei de fumar no primeiro confinamento. Senti muita diferença em relação à minha voz e, portanto, estou super contente por ter conseguido, porque fumava há muitos anos."

E trabalhar com a Wanda Stuart, é fácil? A cantora é perentória na resposta: "É fácil, porque adoro dividir protagonismo, mesmo com quem está a começar, puxo-os para mim, ponho-os ao meu lado, a brilhar tanto como eu e a mostrar o melhor que eles têm. Por outro lado, também exijo muito, mas não exijo mais aos outros do que exijo a mim própria, portanto, é justo."

Questionada sobre o respeito que conquistou junto da classe, a artista confessou: "Até podem não gostar de mim, mas que me respeitam, respeitam. Uma vez, o Tozé Brito disse-me uma coisa que, na altura, me deixou um bocadinho triste: 'Devias focar-te só num estilo musical, embora cantes bem todos os géneros.' E eu disse-lhe: 'Mas versatilidade é bom!' Percebo que, se me tivesse focado num estilo, se calhar, era mais fácil ter uma editora que pegasse em mim, mas não sei, é uma incógnita... E ele também me disse: 'Mas tiro-te o chapéu: no meio, és muito respeitada!'".

Um respeito que foi conquistado, sobretudo, com "honestidade": "Sempre levei muito a sério o meu trabalho, com muito respeito. Sempre respeitei o trabalho dos outros, posso não gostar de determinado artista, mas sempre o respeitei. Cada pessoa tem o seu estilo, respeito muito o outro e acho que todos os estilos têm o seu lugar. Sou amiga de pessoas cujo estilo musical não tem nada a ver com o meu e que eu nem sequer gosto da maneira como cantam ou das canções que cantam!"

Daí que a cantora não veja com bons olhos as rivalidades que existem no meio: "A desunião, o preconceito.... Eu já sofri imenso de preconceito de alguns pseudointelectuais do meio que acham que o meu trabalho pode ser menor. Até me verem cantar no palco! Porque as pessoas veem que me entrego, que dou tudo o que tenho no palco. Até podem não gostar de determinadas coisas que eu faça, mas dizerem que está mal feito, não podem dizer. Dou mesmo muito, não me poupo para o espetáculo do dia a seguir. Se tiver que morrer no palco, eu morro ali. Depois, amanhã, logo se vê. E, depois, claro, chego a casa, esgotada, e são as pessoas que vivem comigo que me dizem: 'Tu nasceste para isto! Se tu desistes, o que vai ser de nós?' Por isso, nem sequer me pode passar pela cabeça desistir. Eles não me deixam, e ainda bem (risos). Eu sou muito acarinhada pelo público, graças a Deus, e as pessoas dizem-me sempre: 'Nem imagina a força que me dá. Quando estou em baixo, penso na Wanda, que é uma mulher de garra!' E eu só penso assim: 'Se soubesses que eu, às vezes, também estou em baixo....' Não posso nunca mostrar o lado frágil, porque as pessoas veem em mim um exemplo de força, então, obrigo-me, muitas vezes, a ser esse exemplo. Daí, muitas vezes, não mostrar a minha vulnerabilidade."

"Eu convido muita gente para trabalhar comigo, mas o inverso não acontece. Essa é outra mágoa que tenho com a minha classe", contou, retomando a resposta sobre aquilo de que menos gosta no meio artístico. "Há pessoas com quem eu vou trabalhar pela primeira vez e que me dizem: Afinal, tu não és nada daquilo que me tinham dito sobre ti. É tão fácil trabalhar contigo! Diziam-me que tu és muito complicada, mas não!' E é aí que sinto um bocadinho de mágoa, mas eu convido muita gente para trabalhar comigo, nomeadamente, pessoas que pouca gente conhece e eu gosto de as puxar, dividir o meu protagonismo com essas pessoas, que, às vezes, estão em início de carreira. Se, depois, as pessoas não sabem dar valor a isso, já é problema delas. Eu só vejo a vida com sentido se nós nos ajudarmos uns aos outros e marcarmos a diferença na vida uns dos outros. Precisamos de dinheiro para pagar as nossas contas, mas, se não temos aplausos... os aplausos são o alimento da nossa alma, sem dúvida nenhuma!"

Sobre aquilo que ainda gostava de fazer, Wanda Stuart lamentou: "Gostava de já ter feito mais coisas. Com esta idade, ainda ter que lutar muito para ter uma estabilidade, que ainda não é estável, então, na minha profissão em que não tenho um ordenado ao final do mês... Tenho pena de ainda não ter conseguido ter essa estabilidade para não ter tantas preocupações, e sei que nunca vou deixar de as ter. Sei que, com 80 anos, ou ainda estou boa a cantar, ou, então, vou ser um peso para a minha filha, e isso não queria, sinceramente. Nunca fiz cinema, e adorava! Gosto imenso de conversar e, também, acho que daria uma boa apresentadora de televisão. Pode ser que, um dia… Se calhar, pensam que o público ainda não está preparado para ter uma apresentadora de televisão com a minha imagem. Talvez, daqui a dez ou vinte anos, já olhem para mim de outra forma.  No Brasil, aprendi um provérbio muito engraçado: 'O homem faz planos e Deus ri.' De cada vez que faço um plano e anseio muito por ele, as coisas não saem como eu queria, então, acabo por ter uma desilusão. Prefiro deixar a vida encarregar-se daquilo que acha que eu mereço."

Já sobre as amizades e a forma como escolhe aqueles que quer ter ao lado, Wanda Stuart confessou que a intuição nem sempre funciona: "Já tive tantas desilusões, avalio muito mal as pessoas. Muitas vezes, dou muita confiança e, depois, não é que me arrependa, porque também não sei ser de outra maneira, mas levo muito na cabeça por ser assim. Dizem que já devia ter aprendido... É com cada facada nas costas. Já tentei ser mais fria, não dar tanto às pessoas, mas era infeliz e não me sentia bem comigo própria, portanto: aproveitem o melhor de mim, se não quiserem aproveitar, o problema é vosso. Vocês é que perdem! É muito fácil magoarem-me, porque confio muito nas pessoas. Acho que as pessoas são todas fantásticas e que, se lhes der o melhor de mim, essas pessoas também me vão retribuir, e isso nem sempre acontece. De maneira que já tive mais amigos, mas, com 53 anos, se eu não aprendesse um bocadinho, burra seria. Só que nas relações humanas, sou muito ingénua ainda. Sou uma parva (risos), mas, pronto, também não sei ser de outra maneira e perdoo muito facilmente."

E o que será que a tira do sério? A resposta foi fácil: "A maldade. As injustiças. Ver pessoas a tratarem mal outras pessoas… Viro fera! Fico doente, é mais forte do que eu e, por mais que tente não me meter, lá estou eu."

Já a palavra que melhor a define é "verdade": "Porque detesto mentiras e só quando estou no palco é que sei mentir bem. Na vida, sou péssima. E se não revelo oralmente aquilo que estou a pensar, acho que a minha cara diz tudo..."

Mesmo tentando não faz muitos planos, daqui a cinco anos, os objetivos estão traçados: "Quero continuar a trabalhar muito, quero continuar a fazer espetáculos, quero estar um bocadinho mais magra, porque quero continuar a dançar e que os bailarinos não se queixem, e, basicamente, quero continuar a fazer aquilo que me faz feliz, quero ver a minha filha já com uma carreira mais ou menos consolidada, quero ouvir as músicas dela a passar na rádio, quero que ela seja muito feliz e quero continuar a trabalhar…até cair para o lado e, quando cair para o lado, que seja num palco, para ter o último aplauso!"

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