Big Brother

Psicóloga Teresa Paula Marques sobre polémica no "Big Brother": "Aborto empoderador? Menos… muito menos!"

Foi com profundo espanto que assisti ao modo como uma concorrente do "Big Brother Famosos 2" contava aos colegas que tinha feito um aborto.

Doutorada em Psicologia
  • 15 mar 2022, 10:01
Teresa Paula Marques
Teresa Paula Marques

Todos sabemos que, no nosso país, se pode fazer uma interrupção da gravidez nas primeiras dez semanas de gestação, pelo que nem sequer me estou a referir a questões de ordem jurídica, nem religiosa, mas apenas me vou cingir à esfera emocional.

Ao longo da minha já longa carreira, muitas vezes, atendi mulheres que tinham feito abortos. O sentimento comum era de tristeza, frequentemente misturada com culpa. Procuravam ajuda para se livrar desse peso que era sentirem que, de um modo ou de outro, tinham tirado a vida a outro ser humano, ainda para mais um filho. O aborto tinha sido a derradeira alternativa, depois de esgotarem todas as outras hipóteses.

Nesta conversa, assistimos ao associar o que para a esmagadora maioria das mulheres fica marcado para toda a vida como um momento triste, a algo "bonito", "lindo", em que se sentiu "Super Deusa"…  só se pode tratar de uma brincadeira de muito mau gosto. Parece-me que há aqui uma mistura de conceitos, associada a uma grande confusão emocional.

O conceito de empoderamento refere-se a "aumento ou fortalecimento do poder". É óbvio que, numa situação de aborto, o poder está do lado da mulher, já que o feto não tem voto na matéria. Mas será que isso acrescenta à mulher alguma espécie de empoderamento? Sinceramente, não estou a ver a que nível.  Mas acima de tudo, não nos podemos esquecer que se trata de um programa de televisão com muita audiência, da qual uma grande parte são jovens.

Posto isto, estamos a correr o risco de passar uma imagem distorcida da realidade, o que nunca é benéfico, para quem ainda está em processo de crescimento. De facto, desde 11 de fevereiro de 2007 que o aborto foi despenalizado, mas isso não significa que passe a ser tratado com esta ligeireza, como se se tratasse de algo banal e que leve ao empoderamento feminino. Menos… muito menos!

Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia

Relacionados

Patrocinados