Recordando o pai, Toy confessou que acabou por realizar, em parte, o sonho do progenitor.
"Acho que ele viu em mim o seu desejo realizado. [...] O meu pai foi um bocadinho frustrado na música. Era um homem que passava a vida a ver os homens a tocar guitarra e teve pouca sorte. Quando veio para Lisboa, meteu-se logo nas associações em que se podia tocar nas bandas e, portanto, era um homem dos conjuntos, mas foi, sempre, um amador na música, nunca teve muito tempo e nunca saciou a sede de ser um músico profissional. O meu pai dizia que música não era futuro, porque, para ele, não foi, e ele achava que, para mim, também não era. Era o pensamento dele e eu respeito muito. Foi por isso que ele me mandou estudar, e ainda bem que o fez, porque o saber nunca ocupou lugar. Agora, eu perdi tempo a estudar contabilidade e podia ter estudado piano ou outra coisa que fosse importante para um maior desenvolvimento musical. Eu não tenho nenhuma formação em música", lamentou.
O músico fez, também, questão de agradecer o papel que a irmã teve nos últimos tempos de vida do pai, que sofria de Alzheimer.
"A minha irmã foi muito importante nos últimos dias de vida do meu pai, porque me substituiu, muitas vezes, quando o meu pai precisava de mim e eu não podia estar. A minha irmã esteve, sempre, pelos dois. Os 'alzheimers' e as demência são, sempre, complicados e o meu pai já não estava entre nós, porque já não era o meu pai, já não me reconhecia, já não era o meu pai. Como eu costumo dizer: as pessoas só estão vivas enquanto pensarem. Quando deixam de pensar, deixam de existir. Lembro-me de, um dia, ele me dizer: 'Quem é você?' E eu: 'Então, pai?' E ele: 'Ah! És tu! Desculpa!'. Isto foi gradual e quando as coisas são graduais, se calhar, custa menos, não há aquela coisa do choque, porque tu vais-te apercebendo de que alguma coisa não está a correr bem", recordou.
"O aspeto mais positivo da última fase foi que o meu pai esteve lá em casa. O positivo disto foi poder estar perto dele, antes de ele se ir embora. Quando se perde alguém, é, sempre, muito complicado. Tu estás à espera, mas, quando acontece dói. Chorei muito a morte do meu pai e a morte da minha mãe. Lembro-me do último Natal com ele. O meu pai comeu e quis ir dormir, eu deitei-o no quarto e ele aparece-me à 01:00 horas com um sobretudo e perguntou-me: 'Então, vamos embora?'. De ano para ano, foi sendo, sempre, cada vez mais complicado. Lembro-me dos natais em que eu tocava, com o meu cunhado, com o meu pai… Depois, foi, sempre, piorando e sendo um Natal com menos gente", confessou o cantor.
Ainda sobre a mãe, contou: "A minha mãe foi-se embora com 61 anos. Foi, talvez, o dia mais difícil da minha vida. Eu costumo dizer: as pessoas morrem quando deixamos de olhar para elas como pessoas. Há pessoas que estão debaixo da terra ou nas cinzas e estão vivas, porque nós pensamos nelas, falamos nelas... e isso é manter as pessoas vivas. Aliás, é a única eternidade em que acredito, como agnóstico que sou. Não há vida depois da morte, na minha opinião. A vida depois da morte é mantermos as pessoas vivas desta forma. Agora, há pessoas que ainda respiram e que ninguém fala delas, ninguém as ama, ninguém as quer. Estarão vivas para alguém, mas para outras pessoas já não estão vivas. A vida é muito mais do que isso. 'Sou amado, existo'!
Também da progenitora guarda muitas recordações: "A minha mãe era muito asneirenta, como eu. Embora fosse setubalense de gema, parecia uma mulher do norte. O meu pai dizia sempre: 'Cuidado, vê lá o que vais dizer. Olha as pessoas.' O meu pai era tipo pai dela, era muito púdico… a minha mãe era o oposto. A minha mãe era como eu, de emoções muito fortes. Uma mulher super apaixonada, ciumenta, possessiva (isso eu não sou, já fui um bocadinho). O meu pai era mais frio e eu acho que tenho um bocadinho do meu pai, nesse aspeto. Sei cortar relações com uma pessoa para sempre, a pessoa deixa de existir para mim. O meu pai era assim, eu também sou um bocado assim. O meu pai foi a minha referência, a minha referência da honestidade. Não ficou nada por fazer, nem por dizer. O meu pai não via o irmão desde que tinha uns oito anos, quando o irmão foi para a argentina. E, quando o meu pai fez 70 e tal anos, eu ofereci-lhe um bilhete de avião e fomos à Argentina. Estivemos lá uma semana. Foi tão bonito aquele reencontro de irmãos, será, sempre, uma recordação brilhante e comovente."
"Quando perdes os pais, sentes-te órfão. É como o trapezista, que tem a rede… ele não vai usá-la, porque não vai cair, mas a rede está lá e ele sabe, portanto, se cair… e é um bocado essa sensação... Fiquei sem rede, mas, também, já tenho idade para ser eu a rede dos outros e, portanto, é esse o meu exercício", sublinhou.
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