Selfie Sem Filtros

Toy: "Cheguei a ter de vir do Canadá para fazer um teste de ADN"

Convidado da rubrica SELFIE SEM FILTROS, Toy aceitou abrir o coração, numa entrevista reveladora, na qual falou sobre a carreira, os rótulos, o escrutínio público e, ainda, uma polémica bem antiga.

Questionado sobre quem o conhece melhor, o músico não teve dúvidas: "Os meus filhos. Talvez o mais velho me conheça ainda melhor, porque foi cúmplice em muitas coisas na minha vida, havia coisas que, provavelmente, só o Leandro sabia. E o João Pestana, que é o rapaz que conduz o meu carro, há 30 anos, para os concertos. Ele soube muitas coisas da minha vida, coisas que se foram passando e que eu não podia contar a ninguém. Eles diriam que eu era autêntico, que era um bocado doido... Mas sabem que, quando as coisas são de responsabilidade, eu estou, sempre, pronto e sabem que as coisas acontecem como deve ser. E que sou justo! Acho que ser justo é muito importante, mesmo quando temos de nos prejudicar. Ainda agora, com esta pandemia, em relação ao meu pessoal, tenho procurado ser justo: 'Vocês deram-me tanto, tenho que vos dar alguma coisa. Não há concertos, a gente arranja concertos. Pedem-me para ir atuar sozinho, eu levo-os e a minha parte do cachet vai para eles. Isso é ser justo! É dar trabalho às pessoas, é compensar as pessoas pelas descompensações que elas tiveram."

Olhando para trás, Toy confessou que, apesar de o percurso não ter sido simples, valeu a pena: "O caminho é difícil, mas por ser difícil é que é bom, porque as coisas fáceis são como o arroz doce. As coisas difíceis sabem muito melhor, quando aprendemos a gostar delas, e a vida é uma coisa muito difícil, é preciso aprendermos a gostar da vida e aprendermos a gostar de nós."

Já os rótulos são aquilo de que menos gosta: "Tenho cerca de três mil obras registadas na Sociedade Portuguesa de Autores, já fiz de tudo um pouco em termos de composição: música erudita, música para cinema, para teatro, para novelas, para outros cantores... Uma melodia é uma melodia, ponto final, e uma harmonia é uma harmonia! Não consigo perceber o que é isso dos estilos, sinceramente. Um cantor canta tudo. E não me venham dizer que há cantores de rock e cantores de fado. Um cantor que sabe cantar, canta tudo! Por acaso, até vou lançar um single diferente em outubro... O que gosto menos são os rótulos: 'Este é cantor de não sei do quê!' Põem-te um carimbo na testa. E tudo podes cantar a melhor coisa do mundo que não deixas de ser 'aquilo'. Sabes quando deixas de ser? Quando vais lá fora e gravas com um estrangeiro qualquer! Mas, enquanto estiveres aqui, nesta aldeia, tens um rótulo. Os rótulos, a mim, não me afetam, mas custa-me que as pessoas não tenham uma mente mais aberta para perceberem que cada um faz aquilo que quer, tem é que fazer bem! A música foi, sempre, uma certeza absolutíssima. Não tinha dúvidas nenhumas. Achava era que, no tempo em que estava parado, tinha que fazer outras coisas. Até porque o saber nunca ocupou lugar e, portanto, mesmo tendo tirado o curso de contabilidade e tendo ido para a Alemanha trabalhar numa empresa metalúrgica, sempre acreditei, tive, sempre, a certeza absoluta. Nunca pensei em desistir!"

Hoje, com 58 anos, tem, também, uma noção mais clara de quem são os amigos: "Tenho amigos neste meio. Amigos é o que não me falta, felizmente! E, hoje, tenho muita noção de quem são os amigos e os pseudo amigos. Cada vez mais!"

Já nas redes sociais, o músico tem-se deparado com fãs e haters. "Percebemos que temos uma série de gente que gosta de nós e uma série de gente que não gosta, claro, isso é normal! Quando vejo uma mensagem em que me chamam 'chulo', apago! Há muita maneira de ver as coisas. Tu podes olhar para uma cena e ver a coisa de maneiras diferentes. 'O Toy está em todas as televisões, é um chulo' ou 'o Toy desenrascou-se e conseguiu ir às televisões todas'. Mas, pronto, quando vejo algo que não me agrada, apago (risos). Já lá vai o tempo em que me chateava. Alguns, até, têm graça! Um conselho que eu dou a quem me ofendeu nas redes sociais: não se atrevam a ir chorar uma lágrima quando eu morrer e a dizer: 'Coitado, era tão bom artista...'. A pior coisa que podem fazer é falarem mal da pessoa a vida toda e dizerem que a adoravam quando ela morre ou quando está em baixo. O maior sintoma da inveja é mandar uma pessoa abaixo quando ela está lá em cima e dizer que é coitadinha quando está em baixo. A inveja é o cancro verdadeiro da sociedade, é o que mata tudo. Se nós ajudarmos os outros a subirem na vida, nós, também, somos compensados com isso. A ingratidão é outra coisa que me tira do sério, e o egoísmo, porque eu penso sempre nos outros, não penso só em mim. Antes de dizeres uma coisa a alguém, pensa sobre como é que gostarias que te dissessem as coisas, se estivesses no lugar desse alguém. Isto chama-se altruísmo. Tira-me do sério as pessoas serem egoístas!"

O endeusamento das figuras públicas é outras das coisas que o cantor dispensa: "Nunca me senti bem com isso. Eu costumo dizer que nós somos só pessoas normais, que têm a sua vida e o seu trabalho. Quando me fazem muitos elogios, não tenho assim muito presente... mas quando me ofendem, não me esqueço. Nunca fiz nada para receber elogios. Faço porque faço e, se receber elogios, fico contente, na altura, depois, já não me lembro. Eu costumo dizer que uma pessoa, quando tem talento, não precisa de ter comportamentos parvos para chamar a atenção. O talento chega para chamar a atenção! Não é por acaso que os meus músicos trabalham comigo há mais de 15 anos. Acho que tenho intuição. Claro que houve pessoas que se aproximaram de mim por interesse, tanto nas amizades, como nos relacionamentos amorosos. Eu, até, senti na grande maioria das vezes, senão todas, mas, às vezes, até, fingia que não sentia, porque, também, tirava algum proveito de algumas coisas. Acho que o segredo é tirares proveito de tudo aquilo que te acontece na vida. E eu costumo dizer que não me arrependo de nada do que fiz, porque as coisas boas foram boas e as más serviram para aprender e para começar a fazer melhor."

Do passado, há um episódio que o magoou especialmente e que não esquece: "Foi quando tive um filho que não era meu (risos). Tive imensos problemas com isso, tive de fazer testes… cheguei a ter de vir do Canadá para fazer um teste de ADN. E o filho não era meu! Mas escreveu-se muito. Alguns exageraram. Acho que, se alguém me quis prejudicar com isso, se virou o feitiço contra o feiticeiro, porque, depois, quando se soube que eu tinha razão, ainda fiquei melhor perante o público. Não me arrependi de nada do que fiz, mesmo as coisas piores, que não foram muitas e, também, não foram assim tão más, não mudava nada. Fazia, exatamente, tudo da mesma maneira, porque, se fizesse de outra maneira, não chegava a esta felicidade que tenho neste momento."

Ser alvo do escrutínio público foi algo a que se habituou: "Acho que é, sempre, muito difícil, para quem não nos conhece, fazer uma avaliação daquilo que nós somos. Ao longo da minha vida, ouvi muitas vezes: 'Achava que você era uma coisa e, afinal, é outra!'. Ser louco não é metermo-nos em substâncias. Temos de ter algum cuidado. Quando somos mais velhos, sim, podemos dar um passinho fora do sítio, mas isso são coisas que se devem fazer quando estamos muito conscientes do que estamos a fazer. E só há uma coisa que não se deve ter: vícios! Isso nunca se deve ter, seja que vício for. Não há vicio de beber, nem de jogar, nem de drogas… eu nem sequer fumo. Bebo vinho à refeição, ao almoço, mas, ao jantar, não bebo. Há aqui uma série de circunstâncias que são importantes, porque uma coisa é passarmos a nossa boa disposição, outra coisa é as pessoas confundirem a nossa boa disposição com outras coisas que, enfim, fazem parte da minha vida e que tenho muito orgulho em não esconder nada. Gosto muito de mim! A pessoa de quem mais gosto é de mim."

Lembrando o AVC que sofreu há 12 anos, Toy falou sobre as preocupações e as prioridades que tem atualmente.

"A minha preocupação é emagrecer, portanto, só almoço, o jantar é, sempre, fruta ou sopa, bebo muita água, evito beber demasiado... Acaba por ser uma forma mais saudável de viver. Faço desporto, tenho muita atividade. A minha grande preocupação são os meus filhos e, agora, a minha neta! Essas são as preocupações inerentes a qualquer pessoa de bem. Se eu morrer amanhã, não tenham pena de mim, nem chorem, porque já fui muito feliz, já vivi momentos maravilhosos, também tive momentos complicados, mas o meu ativo de felicidade é muito maior do que o passivo", frisou. 

"Se eu fosse uma canção, seria a 'Estupidamente apaixonado', porque é uma canção que tem a ver com a minha forma de estar na vida: ou se gosta, ou não se gosta, não vale a pena fingir que se gosta... e toda a minha vida tenho sido assim. Cada vez tenho sido mais puro, ao longo da minha vida. Aos 58 anos, acho que já não vale a pena ter filtros. Sou aquilo que sou, está à vista de toda a gente, e os poucos esqueletos que tinha no armário já os destruí, portanto, neste momento, não tenho telhados de vidro", rematou.

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