Entrevistas

Atriz e nutricionista, Sandra Santos confessa: "Em pequena queria ser cantora"

Sandra Santos acaba de lançar um novo livro dedicado à Nutrição e às refeições em família. Em conversa com a SELFIE, a atriz e nutricionista fala sobre o projeto "Papinhas da Xixa", que criou após o nascimento da filha, Francisca, e dá dicas para ajudar a manter uma alimentação mais saudável em tempos de pandemia.

O novo volume das Papinhas da Xica é dedicado às refeições em família. Como surgiu esta ideia?
A ideia surgiu de uma forma natural, até porque este livro acaba por ser a sequência do primeiro, dedicado à alimentação do bebé. À medida que a criança cresce, passa a fazer parte integrante das refeições da família. Orientar os pais neste processo e sugerir ideias de receitas para as diferentes refeições era algo que me era pedido, muitas vezes, quer em consulta, quer através das redes sociais.

Acha que os portugueses têm uma relação saudável com a alimentação?
Portugal ocupa o quarto lugar dos países da OCDE com a população mais obesa. Em números absolutos, temos 5,9 milhões de portugueses com excesso de peso e um terço das nossas crianças tem excesso de peso ou obesidade. Isso diz muito sobre a nossa relação com a alimentação e do longo caminho que temos pela frente para mudar estes indicadores.

Como gostava de mudar isso?
Enquanto nutricionista, a trabalhar em saúde pública, o meu objetivo é aumentar a literacia do meu público-alvo - mulheres e mães - e inspirar para a adoção de hábitos alimentares saudáveis, através da minha plataforma: As Papinhas da Xica.

Pode explicar o conceito de "alimentação consciente" que defende?
Considero fundamental questionarmo-nos acerca do impacto dos alimentos no nosso corpo e da pegada ambiental associada ao nosso consumo alimentar. Comer é um ato político. As nossas escolhas têm um impacto, também, social e económico. Se eu tenho excesso de peso, consumo mais energia do que preciso, com maior sobrecarga no meu corpo e no ambiente. Uma das maiores fatias do Orçamento de Estado para a Saúde é gasto com doenças crónicas não transmissíveis relacionadas com a obesidade, com fortes repercussões no sistema de saúde e na economia do país. E são justamente os mais pobres que são mais vulneráveis a fazerem péssimas escolhas alimentares, porque, infelizmente, comer bem é mais caro do que comer mal. É urgente mudar este paradigma, que nos deixa a todos mais expostos à possibilidade de pandemias como a que vivemos atualmente, como consequência da pressão que exercemos nos ecossistemas, através do nosso sistema agroalimentar.

Acredita que a pandemia veio trazer hábitos de alimentação mais saudáveis ou foi exatamente o contrário?
Pelo contrário, através da minha prática clínica, a minha conclusão é que muitas pessoas aumentaram de peso, nos últimos meses, desde crianças a adultos. Principalmente, pela redução da atividade física, mas o aumento de peso deve-se, também, a uma má gestão do balanço energético: comemos mais do que precisamos e, possivelmente, comemos pior, uma vez que a diminuição do poder de compra, na maioria das vezes, leva ao consumo de alimentos mais processados, calóricos e menos interessantes do ponto de vista nutricional.

Que cuidados tem diariamente com a alimentação?
Procuro ingerir diariamente todos os grupos da roda dos alimentos, dando especial atenção aos grupos maiores: legumes, fruta e cereais.

Quais são os erros alimentares que os portugueses têm mesmo que abandonar?
O recurso a alimentos processados muito ricos em açúcar, sal e gordura saturada. Deveriam reduzir drasticamente a quantidade de proteína animal que consomem. No que concerne ao consumo diário de carnes vermelhas, o seu aporte chega a ser quatro vezes superior ao recomendado.

Que conselhos daria para se conseguir manter uma alimentação saudável durante a pandemia?
Durante uma pandemia, passamos, obrigatoriamente, mais tempo em casa. Se tivermos no armário produtos com elevada densidade energética, mas desinteressantes do ponto de vista nutricional, será difícil resistir-lhes, tais como bolos, bolachas, batatas fritas, refrigerantes, etc. Em detrimento destes, devemos optar por garantir um bom aporte de legumes, fruta, cereais e leguminosas e mantermo-nos bem hidratados. Sabemos que não existe um único alimento milagroso, no que diz respeito ao reforço do sistema imunitário. Contudo, uma alimentação saudável pode melhor a resposta do nosso organismo, no combate a certas patologias.

Atriz e nutricionista: qual a vocação que surgiu primeiro? O que sonhava ser em pequena?
Em pequena, quis ser muitas coisas, mas recordo-me, sobretudo, de querer ser cantora. Felizmente, desisti da ideia e rapidamente percebi que não tinha qualquer talento para o efeito. Depois, ainda na adolescência, comecei a fazer teatro. A nutrição só surgiu na faculdade.

Esteve recentemente em cena com a peça "O Mundo é redondo", de Gertrud Stein e encenação de António Pires. Como correu esta experiência?
Já trabalho com o António Pires há muitos anos e é um encenador que respeito e admiro. Para além disso, é muito bem-disposto, então, cada projeto é uma lufada de ar fresco do ponto de vista criativo.

Como tem sido fazer teatro em tempos de pandemia?
O processo de trabalho em si não mudou muito, porque, inevitavelmente, temos que ter algum contacto com as pessoas com quem contracenamos diretamente. O que mudou foi a relação enquanto grupo. Cada espetáculo, embora dure pouco tempo, comparativamente com um dia de trabalho "normal", é sempre muito intenso. Antes da pandemia era usual o elenco ir jantar ou ficar a descomprimir e a conversar após o mesmo. Agora, termina a peça e vai cada um para sua casa. É um pouco triste...

E em televisão, o que tem feito?
Protagonizei um dos telefilmes da série "Trezes", que foi exibido, no passado dia 18 de dezembro, na RTP: "O rapaz do Tambor".

TV, Cinema ou Teatro? O que a apaixona em cada uma delas e qual a realiza mais?
Não vale a pena fantasiar com o formato em que mais gosto de me exprimir enquanto atriz, porque tudo depende do projeto. Normalmente, existe um preconceito relativamente a TV, mas cada vez vemos mais atores internacionais consagrados em séries de grande qualidade da Netflix, HBO, Amazon, etc.. Costumo dizer que se o projeto for bom, tanto me faz que seja em TV, Cinema ou Teatro.

Que projetos tem em curso atualmente e o que vai fazer a seguir?
Neste momento, tive que recusar alguns projetos enquanto atriz, porque estou a preparar o lançamento da minha marca de produtos alimentares para bebés e crianças. Se tudo correr bem, estará no mercado já em janeiro. Tem sido um processo muito exigente, ao qual precisei de estar inteiramente dedicada.

A maternidade mudou-a? De que forma?
Sem dúvida, hoje em dia, sinto uma maior segurança em me afirmar como sou e tenho uma maior confiança para pôr em prática todos os sonhos e desafios a que me proponho. É quase uma segunda vida, manifestamente melhor do que a primeira.

Sempre sonhou ser mãe? Deseja ter mais filhos?
Em miúda, brincava com bonecas e projetava ser mãe, no futuro, mas, depois, passou e confesso que não pensava muito sobre o assunto. Assim como, neste momento, também não penso se gostaria de ter ou não mais filhos, até porque estou focada noutros aspetos da minha vida.

Filha de pais atores, a Francisca [fruto da relação, entretanto terminada, com João Catarré] já mostra dotes para a representação?
Ela é muito expressiva, chega até a ser cómica, porque a forma como comunica é, em si, muito teatral, mas daí a ser atriz vai um longo caminho.

Gostava que ela seguisse as pisadas dos pais?
A mim afligem-me, sempre, os pais que têm determinadas expetativas para os filhos. É-me indiferente a profissão que ela escolher, desde que ela se realize e se sinta feliz com a escolha.

Pode partilhar algumas rotinas de beleza que não dispensa?
Todos os dias, limpo e hidrato bem a pele, de manhã e à noite, e, infelizmente, todos os meses, pinto o cabelo, porque a idade não perdoa e a genética também não...

O cuidado com a pele e o cabelo tem de começar de dentro?
Sim, não é por acaso que quando vemos uma pessoa que passa por um trauma ou pela perda de um ente querido parece que envelhece dez anos, em muito pouco tempo. O tempo passa por todos, quanto a isso não há nada a fazer, mas, sem dúvida, que uma boa alimentação, o exercício físico e o bem-estar emocional podem fazer toda a diferença.

Pratica exercício físico com regularidade? E que modalidades pratica?
Essencialmente, faço treino funcional, mas não tenho sido tão regular como gostaria.

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