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Conceição Queiroz denuncia "ataques racistas diários": "Dizem que me prostituí para chegar onde estou"

Conceição Queiroz usou as redes sociais para denunciar os "ataques racistas" de que é alvo, mostrando algumas das mensagens ofensivas que recebe.

"Não é ficção. Ataques racistas diários", começa por escrever Conceição Queiroz, numa publicação que realizou esta sexta-feira, dia 8, no Instagram, na qual mostra algumas das mensagens ofensivas que recebe.

"Dizem de tudo. Que me prostituí para chegar onde estou - mulher africana é burra. Tem de dormir com alguém para subir na vida -, que não entendem como me dão trabalho que é só para brancos, ordenam que me vá embora, ligam para o meu local de trabalho a pedir que seja afastada - atendi uma dessas chamadas -, dizem: 'Sua preta, tiras o lugar aos portugueses'; 'Devias ser violada', 'Tens essa boa disposição irritante, andas na coca'...", descreve a jornalista da TVI, que, a seguir, explica o que a motivou a fazer a denúncia pública das mensagens que recebe.

"Todos os dias, lido frontalmente com uma história imunda. Mas isso sou eu, com espírito aguerrido e os antepassados a protegerem. Enfrento-os. A minha preocupação são os outros - igualmente destratados -, sem a estrutura que me acompanha. É por isso que não deixo de lutar. Em plena pandemia, desejarem-nos a morte. É patológico, mas, também, maquiavélico. Peço aos agressores que continuem a atacar-me, mas abandonem quem (ainda) não se defende e fica com cicatrizes para o resto da vida. Há quem esteja a comprimidos e em depressão por causa desta clara forma de terrorismo", sublinha Conceição Queiroz.

"Lembro que sou jornalista de investigação há 26 anos. Quando vasculho um pouquinho, descubro uma espécie desprezível. Em relação a mim... não sabem o que fazer. Tanto desespero. Entramos na questão da ascensão social. Um negro não pode atingir um certo patamar. Podes estar abaixo, muito perto, mas, se fazes o mesmo (tão bem ou melhor), és um alvo. Perdão. Há negros bem sucedidos e tolerados, os sem agenda e de espírito servil. Entretanto, as notícias são boas: nós, negros, apostamos ainda mais na formação. Já se riram ao descobrir que estou a tirar o doutoramento. Aos ditos, digo que vou seguir para o Pós-doutoramento. Comunidade... amados e amadas... invistam na formação - não é fácil. Trabalhei, com orgulho, em restaurantes, para pagar propinas", revela a jornalista.

No final, Conceição Queiroz deixa um agradecimento: "Obrigada, aos brancos que estão connosco, pois não generalizo. Não baixem a cabeça, não aceitem o desrespeito. Não sejam violentos, mas afirmativos. Honrem a memória dos que lutaram e morreram por nós. Como diz P.Chiziane - referência da literatura moçambicana - 'Deus não criou África por engano, mas por amor.' Não se esqueçam do vosso valor. Não se esqueçam, também, que não desisto de nós!".

Veja, agora, o vídeo partilhado por Conceição Queiroz.

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