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Sara Correia: "As mulheres têm mostrado que são capazes de tudo e já não deviam existir dúvidas sobre isto"

Numa entrevista exclusiva à SELFIE, a fadista Sara Correia, que dá voz ao genérico da novela "Quero é Viver", falou sobre o tema central da nova novela da TVI: o empoderamento feminino.

Como surgiu o convite para cantar o genérico de “Quero é Viver”?
O convite surgiu da TVI e da produção da novela. Quando me disseram que tínhamos esta proposta, fiquei muito lisonjeada, porque pediram, especificamente, para ser eu a cantar a música e isso deixou-me muito feliz. Estar ligada a um legado tão grande como o do [António] Variações, poder entrar, todos os dias, na casa das pessoas foi, e está a ser, para mim, uma oportunidade incrível e só tenho a agradecer quem me escolheu para isto.

Apesar de esta versão contar com uma identidade própria, teve receio de uma possível comparação com o tema dos Humanos?
De maneira nenhuma. Quando entro em algo que se identifica comigo, tento dar sempre a minha identidade… As comparações existem sempre, mas não me importo nada com elas, desde que me comparem a quem tem bom gosto, como é o caso dos Humanos.

A canção é composta por António Variações. Este músico é uma das suas referências?
O António Variações foi revolucionário, vanguardista e muito à frente do seu tempo. Um compositor exímio, e creio que sinal claro disto é o seu repertório continuar a ser usado e recriado por artistas que nasceram muito depois de ele nos ter presenteado com a sua música. O Variações devia ser uma referência para todos. Era uma pessoa diferente, assumia e vivia essa sua verdade, e, para mim, isso é o que mais conta: tanto na música como na vida, que se viva a verdade de cada um. O António Variações é um artista de uma verdade profunda.

Revê-se na letra dessa canção, que pode ser interpretada como uma ode à vida?
Quem não se identifica? Todos queremos viver ao máximo e o mais que pudermos. Penso que é uma belíssima ode à vida e cantá-la ao mundo é quase um grito de liberdade.

Tem tido tempo para acompanhar a novela? Se sim, o que tem achado?
Tenho sim, não perco um episódio e adoro a história da novela. Penso que muitas mulheres se vão identificar com a Ana Margarida, brilhantemente desempenhada pela São José Lapa. Cá em casa, costumamos dizer que esta novela até poderá ajudar muita gente.

A novela é uma história sobre o empoderamento feminino. Acha que este continua a ser um tema pertinente, nos dias de hoje?
Creio que sim, apesar de a força das mulheres ser exemplificada todos os dias - no trabalho, na maternidade, na vida pública -, ainda nos faltam mais mulheres em lugares de poder, por exemplo. Esse caminho está a fazer-se, mas precisamos de que as meninas, as jovens e as mulheres acreditem que são capazes de ocupar posições que, outrora, eram apenas reservadas a homens. As mulheres têm mostrado que são capazes de tudo e já não deviam existir dúvidas sobre isto.

Este é mais um tema da Sara que é produzido por Diogo Clemente. A que se deve uma parceria musical tão bem-sucedida?
Somos uma dupla com grandes laços, dentro e fora da música, e isto torna tudo mais fácil! O Diogo é muito talentoso e contámos, também, com o Stego na produção, que é outro caso sério de talento. Quanto a mim, basta-me cantar a minha verdade e todo o nosso trabalho casa na perfeição.

Sempre quis fazer do Fado a sua vida? Nunca pensou que poderia seguir outra profissão?
Sempre quis cantar Fado. Nunca pensei seguir outra profissão, o Fado é a minha pele.

Existe um momento determinante em que sentiu que o que queria fazer era mesmo cantar Fado?
Quando venci a Grande Noite do Fado, em 2007, não tive dúvidas nenhumas de que era tudo o que queria. Depois, foi cantar todos os dias e estar ao lado de quem acredita em mim.

Cantar Fado e ser fadista é a mesma coisa? Quando é que se descobriu enquanto fadista?
Toda a gente pode cantar Fado, mas existe algo mais que não se consegue identificar ou explicar, um je ne sais quoi, uma matriz de alma muito forte, e sem par, que se sente. E é esta que determina quem é, ou não, fadista.  

No começo do seu percurso musical, o Fado era um género associado a uma faixa etária mais avançada. Atualmente, já não é assim?
Sim, antigamente o Fado era associado a uma faixa etária mais avançada, mas isso tem-se vindo a modificar, e ainda bem. Cada vez há pessoas mais novas interessadas no Fado, enquanto expressão ímpar da história, cultura e alma do povo português. Fico extremamente feliz por ver este interesse crescente.

Sente que a roupagem que o Fado tem ganhado - graças à nova geração na qual a Sara se inclui - é criticada pelos puristas? 
Não sinto que exista essa crítica. Acredito que se possa dar uma roupagem diferente a algumas músicas e sentir o Fado que existe nelas. Eu pertenço ao Fado tradicional, à verdadeira raiz.

Para essa nova geração, cantar - por si só - já não é suficiente? O cuidado com a imagem é igualmente relevante?
Quando não é forçado, acho que temos a liberdade de sermos o que quisermos e vestirmos o que entendermos, essa é a beleza da vida. Apesar da questão de a imagem ter muito que se lhe diga, creio que, quando alguém que canta nos toca no coração, a imagem pouco importa.

E que preocupações tem com a sua imagem?
Sou muito simples, tenho cuidados, gosto de me arranjar e de me sentir bonita.

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