Como surgiu este desafio?
Fui convidado pela Plural. A chefe de produção telefonou-me a perguntar se tinha disponibilidade para poderem apresentar o meu nome à direção. A direção aceitou e assim foi.
O que pode revelar sobre a personagem?
Ainda não sei responder muito bem, apesar de já ter lido uma dúzia de episódios, mas as personagens estão, primeiro, na cabeça dos autores. Quem escreve cria umas interpretações e, depois, nós criamos as nossas próprias interpretações, mas só quando começamos a interagir é que uma personagem realmente se forma. Ainda estamos muito no início. Por exemplo, a minha relação com a minha mulher, a Isabel (Marta Melro), é a mais importante neste momento, porque as outras já estão formadas. As outras personagens dominam a cena e nós encaixamo-nos. A relação da minha personagem com a da Marta Melro não é fácil, é muito difícil, e nós não percebemos que desfecho é que vai ter, portanto, estamos a tentar a tentar perceber qual é o desenho que se pretende. Temos de trabalhar para um conjunto, para que tudo se encaixe e para que tudo faça sentido. Sobre a minha personagem... é um jornalista com pouco sucesso, mas é uma pessoa com uma grande autoestima, portanto, tem muitos defeitos... Para mim, agora, é uma questão de gerir estes defeitos e de perceber, exatamente, como é que isso vai valer para o conjunto da novela.
De que forma se tem preparado para o papel?
Há um trabalho que vai sendo feito ao nível físico. Eu gosto de trabalhar fisicamente as personagens: a respiração, o andar, alguns gestos - não trabalhamos toda uma gestualidade, mas basta ter dois ou três, e desses vamos criando outros. E, depois, há uma coisa que é a intenção, o objetivo geral: esta personagem tem um objetivo e, depois, desse objetivo, cada cena vai tendo objetivos particulares, e é assim, mais ou menos, que trabalho. Todos os dias, e a cada cena, tento encontrar um objetivo particular, sem nunca me esquecer de qual é o objetivo geral desta personagem. E o trabalho vai sendo feito assim. Em teatro, o trabalho é fechado, já sabemos o fim, portanto, temos que trabalhar todos os pormenores. Em séries longas ou numa novela, é um bocadinho como na vida, nós até podemos criar uma coisa que, amanha, é contraditória e isso não tem importância. Não há contraditório neste tipo de ficção, nós vamos é tendo que assumir o melhor possível os atos que vamos realizando, à medida que as personagens vão crescendo.
Qual está a ser o maior desafio?
É acreditar um bocadinho naquilo que estamos a construir, porque dar credibilidade às personagens não é só jogar ao "faz de conta". Há uma série de outras nuances. Ainda agora, nós recebemos novos episódios e eu tenho discussões feias e violentas com a "minha mulher", a Isabel (Marta Melro), e nós não nos sentimos preparados para assumir aquilo. Temos que conversar, realmente, porque temos que estar muito bem com o colega para sermos violentos com ele, porque, senão, temos algum pudor… Ao darmos um estalo a um colega, temos de ter a certeza de que ele não vai levar a mal, porque, mesmo sabendo que é a brincar... Curiosamente, já tinha trabalhado com a Marta Melro, há muitos anos, na última novela em que participei como elenco fixo, que foi o "Mar de Paixão". Éramos os dois pescadores, estávamos, até, bastante próximos e, portanto, nessa altura, conhecemo-nos bem.
E como está a ser fazer parte deste elenco?
Já tinha trabalhado com quase todos (risos). Nunca tinha trabalhado com o Pedro Alves, aliás, é a primeira vez que ele está a fazer este tipo de trabalho. Tinha trabalhado com o Pedro Teixeira, com a Sílvia Rizzo… com o Manuel Marques tinha trabalhado há pouco tempo na "Patrulha da Noite", na RTP. Eu, também, já cá ando há muitos anos (risos). O que é engraçado nesta produção é o facto de entrar a meio. Por um lado, é bom, porque, lá está, sentimo-nos apoiados, independentemente das personagens serem o que quer que elas sejam. Os atores, as personagens e este núcleo ajudam muito, porque é-nos muito mais fácil encaixar, uma vez que grande parte delas está, completamente, resolvida. E isso, até, bate certo, porque as nossas personagens também formam uma família que chega e que ninguém conhece, portanto, todo esse ambiente de estranheza acaba por bater certo.
Sente o "peso" da responsabilidade pelo facto de a novela "Festa é Festa" já ser um grande sucesso?
Não, a responsabilidade é deles, eles é que já cá estavam (risos). Mal era se dois ou três vinham de fora e destruíam ou, ainda, enalteciam mais. Acho que nós não podemos ter essa responsabilidade, nem o preconceito nem a veleidade de acreditar que podemos fazer grande mossa numa produção como esta. O que acho é que nos sentimos apoiados pelo facto de isto já ter esta embalagem, sentimo-nos um bocadinho aliviados, porque é só dar continuidade. E, depois, há a questão de, também, acreditarmos no nosso trabalho. Há bocadinho estava a ouvir o discurso da Telma Cardoso, que é diferente, é de alguém que chega… Nós já sabemos, mais ou menos, como é que isto é. Estragar, não vamos estragar, certamente (risos).
A que acha que se deve o sucesso deste projeto?
Acho que não há grande dúvida de que o humor é fundamental nas nossas vidas. Apesar de as pessoas também me conhecerem muito bem pelo humor, não é um humor daqueles mais fáceis, que eu acho que esta novela, também, tem um bocadinho. Apesar de ser um humor muito doido e ousado, não é um humor fácil e, portanto, acho que tem qualidade. Acho que, se calhar, quando isto começou, não se sabia muito bem o que se estava a fazer, mas, depois, soube-se muito bem levar a coisa e criar-se um produto com qualidade. Acho que o sucesso se deve, também, ao facto de estarmos a sair de uma pandemia. E há um outro aspeto: os autores e o facto de serem pessoas que estão habituadas a escrever para outro tipo de formato, mas com um humor que se recria. Acho que são estes fatores: o tempo, a forma e quem está a fazer. Uma aposta que funcionou.
Por que é que as pessoas não podem perder a segunda temporada de "Festa é Festa"?
Porque nós estamos cá e somos a novidade (risos). Portanto, os que já viam têm de continuar a ver, os que ainda não viam vão passar a ver, porque nós estamos cá (risos).