Entrevistas

Inês Herédia sobre "Festa é Festa": "A Nelinha é inspirada em duas pessoas"

A SELFIE acompanhou as gravações do genérico da novela "Festa é Festa" e aproveitou para falar com Inês Herédia acerca do novo desafio da atriz.

Como estão a correr as gravações de "Festa é Festa"?
Acho que está a correr bem. É sempre difícil, nestes primeiros dias, perceber se está a correr bem, ou não, pois são dias de testagem. Nós, atores, gostamos de ter o mínimo de cenas possível, no início, porque estás mesmo a testar. Se tiveres muitas cenas, no primeiro dia, já estás a comprometer muitos episódios, que foi o meu caso. Desta vez [risos], gravei logo até ao episódio 18, gravei umas 12 cenas, mas acho que correu bem. Deu para perceber e explorar muita coisa. Foram cenas no consultório médico, maioritariamente, comigo e com o José Carlos Pereira, e encontrámos ali coisas com muita graça, que acho que vão resultar. Agora, é esperar para ver. O plateau riu-se e isso, normalmente, é bom sinal, em comédia.

O que nos pode contar acerca da sua personagem?
Para mim, a melhor definição da Nelinha é a de alguém que está sempre em casting. A Nelinha tem, ou acredita que tem, mais talento do que qualquer pessoa neste país e que é só uma questão de tempo até a descobrirem. Portanto, vive na aldeia, acha que eles são todos uns pacóvios, mas gosta deles. Cresceu com este grupo de amigos, com estas referências dos mais velhos, também, mas sabe, perfeitamente, que o mundo dela não é aquele e que é só uma questão de tempo até a descobrirem e ela dar o grande salto. Vai ser uma Cristina Ferreira da vida. Ela acha mesmo que vai ser incrível, aliás, as referências dela são do mundo da televisão. A Cristina Ferreira, a Rita Pereira, a Kelly Bailey… Ela quer e aspira ser igual a elas. Se tem talento, ou não, para ela, é uma coisa que não interessa muito. É uma pessoa cheia de ideias, mas daquelas pessoas em que as ideias se encavalitam umas nas outras… Primeiro, quer fazer isto, depois, quer fazer aquilo e, depois, lembra-se de outra coisa que queria fazer primeiro… É por isso que ela continua aqui, porque um idiota, em termos de ideias, tem tantas ideias, tanta urgência, que, depois, acaba por não conseguir concretizar nenhuma como deve ser. Agora, vamos ver se as concretiza, ou não.

No que se inspirou para construir esta personagem?
Não é uma coisa consciente, mas acabo, sempre, por ir buscar coisinhas pequeninas a algumas pessoas. Portanto, é inspirada em duas pessoas, completamente, diferentes. A Nelinha é a conjugação de duas pessoas, com muitos ingredientes misturados, porque não é nem uma, nem outra, nem a mistura das duas, é mais coisas do que isso, mas está a ser interessante construir esta personagem. Ela deixa-me muito cansada, ao final do dia, apesar de eu ser uma pessoa com energia. No primeiro dia de gravações, gravei 12 cenas, o que não é assim tanto, porque chegamos a gravar 30 cenas por dia, mas cheguei ao fim do dia sem energia. Ela sugou-me tudo, e pensei: "Meu Deus, lá vou eu perder, outra vez, não sei quantos quilos." Mas está a dar-me muito gozo!

O que tem a Nelinha da Inês?
É a parte que estou a descobrir agora, enquanto gravo. Ela é, em si, histérica e há uma parte do meu sentido de humor, que eu uso como sentido de humor e que ela usa a sério. Eu uso aquilo a brincar, aliás, já há muito texto que não está escrito [risos]. Já há muito improviso, em dois dias de gravação, o que é uma coisa boa. Há cenas em que não dá mesmo, em que tens de estar, completamente, colado ao texto, porque comédia vive desses tempos, e, depois, há outras cenas. Eu tenho muitas cenas em que começo sozinha ou acabo sozinha e é aí que estou a descobrir a Nelinha. Normalmente, é aí que, quando corta, o plateau se desata a rir [risos] Acho que é bom sinal!

O que podemos esperar da novela "Festa é Festa"?
Uma coisa é certa: é muito raro, quando estás a ler episódios, rires-te. Mas, nestes episódios, não há um em que não me ria e eu não sou de riso assim tão fácil. Acho que as pessoas vão ter, sem dúvida, serões bem passados. As personagens são muito diferentes umas das outras, mesmo o tipo de comédia é diferente para cada personagem. É muito engraçado ver isso. Por exemplo, é muito diferente ver uma cena entre o Tomé e a Aida, em que a comédia está num sítio, completamente, diferente, do que se puseres a Aida com o doutor. Portanto, há muitas camadas na comédia, não é sempre o mesmo tipo de piada, nem a mesma estrutura na cena, são coisas muito diferentes. Estou muito curiosa para perceber como é que a minha personagem funciona com as diferentes personagens, porque são ritmos, completamente, diferentes. Acho que as pessoas se vão divertir muito a ver isto, mesmo!

Como está ser trabalhar com este elenco?
O elenco é muito pequeno e vive na claustrofobia daquela aldeia. Vou trabalhar muito com o José Carlos Pereira, a Ana Guiomar, o Pedro Teixeira, o Manuel Melo, a Marta Gil… Como estou no consultório, acabo por me cruzar com todos. A Marta Andrino é a minha melhor amiga. Já tinha trabalhado com o Pedro Teixeira e com o [Rodrigo] Paganelli, mas vou cruzar-me muito pouco com o Paganelli, e acho que não tinha trabalhado com mais ninguém. Andava louca para trabalhar com a Sílvia Rizzo e a Ana Brito e Cunha, porque elas são muito cómicas. Estou com muita vontade de ter cenas com o Manuel Marques e com a Maria do Céu Guerra… Principalmente, com a Maria do Céu Guerra, porque fiquei muito feliz quando soube que ela estava no projeto. Ela é uma raiz da nossa representação, portanto, estou com muita vontade de contracenar com ela, mas ainda não tenho cenas com ela. Vamos ter cenas em que nos cruzamos, mas ainda não há uma relação entre as duas personagens. Vai ser delicioso vê-la ali, de qualquer maneira.

Como tem vivido estes períodos de confinamento, fruto da pandemia Covid-19?
No primeiro, estivemos as duas em casa, sozinhas, com os miúdos [a atriz é casada com Gabriela Sobral e tem dois filhos gémeos]. No segundo, estávamos as duas a trabalhar, com os miúdos em casa. O primeiro foi muito mais fácil, em termos de gestão familiar. Já o segundo foi muito complicado. Acho que, no primeiro, tudo era mais fácil, porque toda a gente estava fechada e, quando olhavas, tinhas aquela claustrofobia, mas, ao mesmo tempo, havia um consolo: "Estamos, todos, no mesmo barco". No segundo confinamento, já não foi assim! Havia muita gente, completamente, fechada em casa, em teletrabalho, e muita gente a trabalhar fora de casa. Foi mais difícil esse equilíbrio e, também, estar presente para as pessoas que estavam, completamente, fechadas em casa. Eu estava atolada de trabalho, porque estava a gravar o "All Together Now", a fazer locuções como se não houvesse amanhã, a acabar uma campanha que deve estar a sair, a começar este projeto, também. Portanto, estava mesmo com muito trabalho! A Gabi também estava com muito trabalho e não estava em teletrabalho, pelo que foi muito complicado fazermos a gestão dos miúdos em casa. Nós saíamos e parecia que, dentro da nossa rotina, a vida estava muito normal, de acordo com o que foi o último ano, mas, eles estavam, completamente, fechados em casa. Para mim, essa foi a gestão mais difícil, porque eu saía de casa e queria trazê-los comigo, porque era injusto e eles estão numa idade em que não lhes consegues explicar. Agora, estão de volta à escola e estão felizes da vida. Acho que este desconfinamento faseado é uma boa decisão, vamos ver se as pessoas se portam bem.

E como é gravar em tempos de confinamento?
É um bocado chato gravar assim, mas tenho consciência de que faço parte de um grupo de privilegiados que não pararam de trabalhar. Se calhar, 95% dos meus colegas não estão a trabalhar e não estão a trabalhar há muito tempo, por isso, não gosto nada de me queixar, não gosto de me queixar das máscaras, dos desinfetantes, nem dos testes, e tenho isto presente, constantemente. E, depois, é como em tudo na vida, habituamo-nos. É chato, mas é muito mais chato para todos os outros departamentos. Sempre que tiramos a máscara para gravar, a maquilhagem tem de ser retocada, têm de nos arranjar os cabelos com as máscaras à volta, o departamento do guarda-roupa não consegue comprar nada, porque as lojas estão fechadas, com os adereços acontece a mesma coisa… É tudo muito mais difícil para quem está nos outros departamentos do que para os atores, mesmo para os técnicos. Estarem 11 horas dentro de um plateau, com uma máscara, é muito complicado. Portanto, acho que nós, dentro disto tudo, somos uns privilegiados e não nos podemos queixar.

Por que motivo os telespetadores não podem perder a novela "Festa é Festa"?
Não podem perder, porque isto é, absolutamente, inacreditável! Acho que as pessoas não estão a perceber o que aí vem! É um passo muito grande, é um risco muito grande. Para mim, o que me atrai é isso! É um processo arriscado, vamos tentar fazer diferente. Se falharmos, falhamos todos juntos. Mas acho que as pessoas não podem perder, por isso mesmo! Nós estamos, todos, a arriscar, todos juntos, a querer fazer o melhor, a fazer comédia de maneira, completamente, diferente, todos na mesma onda, e acho que, só por isso, já merecemos o público do nosso lado.

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