O que a inspirou para este tema " Niña Buena" e porquê cantar em espanhol?
Já é o meu terceiro single em espanhol e o segundo que, também, leva uma mistura de português. Basicamente, sou uma mistura de espanhóis com portugueses. Falo espanhol deste muito pequenina, faz parte da minha cultura, cresci com essa língua. Metade do meu ano era passado em Espanha e a outra metade em Portugal, então, é uma herança familiar. Não fui ali tirar um curso de espanhol, para cantar em espanhol [risos]. Já tinha vontade, há muito tempo, de cantar em espanhol.
E porquê agora?
Estive muito tempo afastada da música, mas essa vontade surgiu mais quando viajei para Miami e acabei por conhecer produtores dominicanos e latinos, que trabalham com artistas importantes, como o J Balvin, a Anitta, entre outros, e que me desafiaram a cantar em espanhol. Na altura, percebi que era algo que gostava muito de fazer e decidi arriscar, e sinto-me muito bem. Sinto que é uma identidade que me fez descobrir o meu lugar na música. Sinto que me expresso de outra maneira. Não quer dizer que não faça nada em português, é uma coisa que, também ,tenho vontade e gosto muito de misturar o espanhol com o português. Mas, neste momento, sinto uma grande vontade de continuar a escrever em espanhol.
Os ritmos latinos são aqueles em que se sente mais à vontade?
Não acho que tenha um estilo definido, acho é que, desses ritmos que optei por fazer, de facto, o espanhol assenta-me melhor do que o português, tem uma musicalidade diferente, tem uma maneira de nos expressarmos a cantar diferente e fazia sentido. Surgiu muito naturalmente, não são ritmos que, normalmente, sejam feitos em português, mas gosto da mistura, tanto que o "Dámelo" e o "Niña Buena" têm algumas frases em português, pelo meio. Acho que futuras canções vão ter ainda mais português. Gosto muito da fusão do português com o espanhol e sinto-me muito à vontade a fazer essa junção. Acho que é interessante, porque nunca houve um casamento espanhol com português de Portugal. Acho que é uma coisa nova e um bom casamento entre dois países, que, no fundo, estão aqui ao lado um do outro.
Cantar em espanhol também ajuda numa carreira internacional. Tem essa ambição?
Tenho muito essa ambição. Não há ninguém que não tenha a ambição de uma carreira internacional. Tenho essa ambição, vou lutar muito por isso, porque acho que o nosso teto não deve ser baixo. Nós devemos sempre almejar, sonhar com o impossível. Não consigo fazer música só a pensar num país, faço música a pensar no mundo, faço música para quem me quiser ouvir, seja de Portugal, seja do outro lado do mundo, na América Latina, seja na Rússia, seja na Islândia. Ou seja, não faço música de uma forma geográfica, a pensar apenas em que ela funcione no meu país. Quem quiser ouvir, ouve. Agora, é óbvio que não deixo de pensar numa carreira internacional, se isso acontecer vou ficar muito contente.
Nas redes sociais, recebe comentários de fãs de vários pontos do globo?
Acho que a música é universal. Acima de tudo, fico muito contente com o meu público português, tenho-lhe muito carinho. Portugal é o país onde nasci como artista e onde nasci, também, e fico muito contente quando vejo os portugueses, também, a comentarem e a ficarem orgulhosos por verem que há uma artista, em Portugal, a fazer música que pode chegar ao mundo, e isso é bom. Acho que nos devemos sentir sempre orgulhosos. Eu própria fico orgulhosa quando vejo outros colegas ou portugueses de outras áreas a conseguirem chegar longe. Quando aparece algum comentário de um espanhol ou de alguém que fale espanhol, a dizer que gosta do tema, fico muito feliz, também! Primeiro, porque não é a minha primeira língua. Sou eu que escrevo as minhas letras e certifico-me, sempre, de que estou a escrever no melhor espanhol possível e a honrar a língua, também. Por isso, quando vejo algum comentário positivo nesse sentido, deixa-me muito feliz, claro!
Esta é a primeira vez que escreve os seus temas?
Não é propriamente a primeira vez, mas é de uma forma mais consistente. Antes, fazia temas muito espaçadamente, compunha os temas em conjunto com outras pessoas. Todos os artistas, quando fazem uma colaboração com outros artistas, escrevem em conjunto. Ou cada um escreve a sua parte. No meu caso, a solo, tinha outras pessoas que escreviam, mas senti que não era eu, que não era a minha identidade, que não era aquilo que eu queria dizer e acho que escrever as minhas próprias letras é, no fundo, passar a minha mensagem e dizer exatamente aquilo que quero dizer nas músicas. Acho que só dessa maneira é que consigo que o meu público me conheça enquanto artista, porque quero que se identifiquem com o que quero dizer, com a mensagem que quero passar. Por isso, quando escrevemos alguma coisa que o público ouve e se identifica e adora, e fomos nós que escrevemos, essa sensação é levada ao expoente máximo. Ou seja, haver alguém, de outro lado do país ou do mundo, a identificar-se com aquilo que escrevi é uma sensação maravilhosa.
O que a levou a estar alguns anos afastada da música?
Esse afastamento deveu-se a eu achar que não sabia quem era como artista, ainda. Nós, às vezes, pensamos: "Vou deixar a música e as pessoas vão deixar de me ver como artista." Há esse lado um bocado ingrato, mas achei que, para estar a fazer coisas com as quais não me identificava, preferia estar parada e, como não sabia o que queria fazer a nível musical, não fazia sentido estar a pôr coisas cá fora com as quais não me identificava e que não faziam sentido, para mim, enquanto artista. Esse três anos de paragem foram a melhor decisão possível, para mim, porque acabei por chegar a um ponto em que sei quem sou, o que quero fazer a nível musical e sinto que os meus fãs e as pessoas que ouvem a minha música também sabem quem sou, finalmente. Ou seja, gostam da artista que sou, e isso, para mim, era o mais importante. Por isso, esse afastamento foi só mesmo por essa razão, porque precisava de tempo para me encontrar musicalmente.
Houve um amadurecimento musical?
Houve um amadurecimento musical muito grande. Primeiro, porque nós para escrevermos temos que viver e talvez eu ainda não soubesse muito bem transmitir aquilo que estava a viver. Há alturas da nossa vida em que nós precisamos de saber, primeiro, quem somos para podermos mostrar aos outros. Quando não sabemos quem somos, ainda, ou o que é que representamos é difícil passar isso para o público. Então, acho que vivi três anos que me deixaram com uma segurança maior para poder escrever as canções que, hoje, escrevo, com confiança. Acho que foi um tempo precioso.
A Diana, a nível pessoal, também saiu diferente dessa pausa: quem é a Diana agora?
A Diana é uma mulher segura, que sabe o que quer, que não vê barreiras, que não vê estigmas, que não questiona se deve escrever isto numa música ou não, que não tem medo de expressar a sua opinião e que não tem medo de ser a artista que quer ser, porque isso, às vezes, para uma mulher, também é difícil. Acho que ainda temos ma batalha muito dura, pela frente, para todas as mulheres no mundo perceberem que estamos em pé de igualdade com os homens, no que diz respeito, também, à escrita musical, que podemos expressar-nos da mesma maneira e dizer as mesmas coisas, desde que o estejamos a fazer com verdade e que, realmente, seja a nossa postura e a nossa maneira de pensar. Ou seja, sinto que, agora, a Diana que vocês veem a nível musical é aquilo, ou seja, não estou a esforçar-me para... Estou a ser exatamente aquilo que sou e a expressar-me, nas minhas letras, exatamente da maneira que quero. A Diana é uma Diana segura de quem é. Todos nós atingimos essa emancipação, para uns, demora mais tempo, para outros, é mais rápido. Para mim, demorou algum tempo e, sim, acho que estou nessa fase da minha vida. Também sinto segurança no meu trabalho e, portanto, acho que isso ajuda, bem como o feedback. Por muito que as pessoas tentem descartar isto, o artista deve fazer aquilo que sente, que gosta, mas, no fundo, quando nós entregamos as músicas, a música deixa de ser nossa e passa a ser do público, por isso, fazemos música e dizermos que o público não nos interessa é muito egoísta. Como artista, não consigo dizer isso! O que não posso dizer é que faço música a pensar no que as pessoas querem ouvir… não! Faço música que gosto e que me sinto bem a fazer e, quando está feita, a minha verdade está pronta, entrego-a, e, aí, é do público. Nessa altura, expressem a vossa opinião à vontade. Já não deixo muito que as opiniões alheias interfiram no meu processo artístico, que era algo que fazia, antes, e isso levava-me a não entregar totalmente aquilo que sou, porque tinha medo de não estar a tomar a melhor decisão. Ouvia daqui, ouvia dali… e acabava por não fazer aquilo que, de facto, queria fazer. Isso tudo mudou!
Parte dessa emancipação passou pela criação da sua própria editora?
Sim, criei a minha editora. Neste momento, o propósito é esse: ter controlo total da minha carreira. Tenho a minha equipa, tenho as minhas pessoas, as pessoas que fazem isto tudo acontecer - porque não estou sozinha, nenhum artista deve achar que está sozinho ou que faz tudo sozinho. A editora nasceu da necessidade de editar a minha própria música, sem precisar de outras pessoas, mas, quem sabe, no futuro, não sei o que pode acontecer. Uma editora edita música, se é só a minha… Para já, é só a minha, no futuro, não sabemos.
A empresa surgiu nesta fase de lançamento dos singles?
A empresa já existia, não foi criada com esse propósito. Só que, entretanto, lancei o meu primeiro single e, logo a seguir, deu-se a pandemia. Não queria estar sem editar e achei que fazia sentido… Se estou a fazer a minha própria música, estou a investir na minha própria música, estou a contratar pessoas, mais vale a minha empresa ser uma editora, porque já sou a minha própria editora, sou eu quem faz tudo, sozinha. Não foi uma coisa sequer pensada, do género: "Vou, em tempo de pandemia, criar uma editora." Não! A única coisa que fizemos foi mudar o propósito da editora, da empresa, porque a empresa já tinha uma artista, que era eu. Ou seja, este projeto não nasceu com o propósito de ser uma editora, mas, depois de se formar, começámos, todos, a ver, tanto eu, como a minha equipa, que poderia ser algo no futuro. Não é uma coisa que esteja, neste momento, em cima da mesa, mas, no futuro, pode ser um projeto interessante para editar outras pessoas e para ter outras pessoas que tenham vontade de crescer na música em Portugal. Gostava que fosse a casa de outros artistas, mas, lá está, não é uma coisa que vai acontecer a curto prazo. Se acontecer, será a longo prazo, até porque não estamos numa altura fácil para fazer este tipo de projetos. Mas a editora está aberta, ou seja, se, algum dia, decidir que faz sentido, vou apoiar outros artistas. Da mesma maneira que gostava que, se calhar, me tivessem apoiado a mim.
E como está a lidar com a ausência de espetáculos nesta fase de pandemia?
Estou numa posição atípica em relação aos restantes artistas, porque nem sequer tive a oportunidade de pisar um palco, nesta fase da minha carreira. Por isso, para mim, nem mudou muito. Não é como se estivesse a fazer concertos e, de repente, me tivessem tirado isso. Custa, claro, mas noutro sentido, porque estava muito ansiosa por pisar um palco e senti que isso me foi roubado. Tínhamos duas ou três coisas apalavradas e estava com muita vontade de montar um espetáculo - curtinho, que fosse -, para que as pessoas ouvissem as minhas músicas e não aconteceu. Pensei: "Ok, não aconteceram os concertos, mas tenho que pôr a música cá fora". Quero que as pessoas continuem a ouvir a minha música para, quando esta pandemia acabar, podermos, todos, voltar ao palco. Contudo, não esqueço os meus colegas que estão parados, o meu setor também está em crise. Todos os artistas que vivem exclusivamente da música, neste momento, estão a passar um mau bocado. Acho que lidar com isto é difícil, mas nós não podemos parar. E é de valor ver a quantidade de artistas que lançaram coisas durante a pandemia. As pessoas não têm noção, isto é tudo um investimento por parte dos artistas, que, neste momento, não está a ter qualquer retorno. É tudo em prol da música e dos fãs.
A pandemia inspirou-a a escrever mais temas?
Inspirou muito. Não sei se foi a pandemia, se foi o tempo livre a mais que me inspirou a fazer música. Escrevi o "Niña Buena", durante a pandemia, e outro tema que vai sair daqui a um mês, mais uns quatro ou cinco temas que vão sair nos próximos tempos. Houve alguns com outra carga emocional, mas não escrevi sobre a pandemia. Não acho que as pessoas queiram ouvir músicas sobre a pandemia, acho que as pessoas querem ouvir música que as transporte para outra realidade, que as faça sentir que o mundo está normal. Não estou a dizer que não se deva falar da pandemia, mas acho que não é no contexto musical. Acho que a música deve passar outro tipo de mensagem. A pandemia marcou-nos a todos, de forma muito negativa, tirou-nos muitas vidas, muitos empregos, tirou-nos muita felicidade para, ainda, estarmos a fazer músicas a falar sobre ela. Escrevi muita coisa e tive muito tempo livre e posso dizer que as melhores letras que escrevi foram este ano, acho que, até nesse sentido, este ano foi bom para mim. Tenho muito a agradecer.
Percebemos que, também, tem na calha o lançamento de uma marca?
Sim! A marca vai surgir em 2021, ainda não está decidido concretamente o que será, porque ainda é muito embrionário. Depois, na altura, prometo falar-vos sobre isso.
E como surgiu a carreira de influencer?
Foi naturalmente, mas não me considero uma influencer, no sentido que influencer quer dizer, hoje em dia. Sou uma artista/personalidade pública que fez televisão, que fez imensas coisas e que é próxima do público, e que acabou por se tornar uma influenciadora, porque as pessoas me conheciam e queriam seguir o meu estilo de vida. Mas não apareci nas redes sociais como influencer, é uma coisa que gosto muito de frisar. Cada um é o que é! Existem miúdas a fazer o papel de influencer muito bem, que nasceram nas redes sociais como influenciadoras. Não foi assim que cheguei junto do público. Não decidi: "Hoje, vou ser influenciadora!" Aconteceu! E, ainda bem, porque me fez feliz, durante muito tempo, quando eu não sabia, ainda, se queria voltar à música, se queria voltar à televisão, o que queria fazer e consegui manter-me em contacto com o meu público, que é muito importante, na redes sociais. Hoje em dia, se não estivermos nas redes sociais, as pessoas acabam por nos esquecer um bocadinho, então, foi muito importante na minha vida. Foram três anos, antes de voltar à música, em que as pessoas, constantemente, podiam ver-me e seguir e inspiraram-me, também, a voltar, admito. Havia muitas pessoas a dizer: "Quando é que voltas?"; "Queremos ouvir-te cantar, outra vez." Muitas das pessoas que me seguem foram, também, responsáveis por isso, porque me alimentaram e fizeram-me perceber: "Ok, tenho que voltar". Foram três anos giros, trabalhei com muitas marcas, com as quais trabalho, até hoje, parcerias muito interessantes, muito giras. E acho que qualquer artista é um influenciador, qualquer pessoa que influencie outros é um influenciador.
Planeia um regresso à representação?
Não fecho ciclos, não fecho portas, nem digo que nunca vou voltar a representar ou que vou voltar à televisão, ou que vou voltar a fazer um filme - também já fiz cinema. Há uma coisa que sei que vou fazer para o resto da minha vida, que é música, que é aquilo que sinto que, enquanto artista, é a minha arte. Escrever letras, fazer canções, subir a um palco é onde sinto que estou no meu elemento. A televisão foi uma coisa muito gira, eles foram-me buscar, deram-me a oportunidade de fazer, foi super interessante. Se, um dia, surgir um projeto em televisão que faça sentido com a minha carreira enquanto cantora, não sei. Ou seja, é tudo questionável. Neste momento, só estou a fazer música! Se, algum dia, aparecer um projeto que ache que é interessante… Agora, neste momento, não estou focada em voltar à representação, não é o meu sonho! Não há convites, também. Investi tanto na música, e acho que os convites não vão surgir quando toda a gente já percebeu que não estou para aí virada. Há convites para fazer música, há convites para colaborações musicais, porque quando uma pessoa está a fazer algo bem - e eu sinto que estou a fazer algo bem -, os convites surgem. Há convites para colaborações que vão acontecer, muito em breve. Colaborações nacionais. Além disso, tenho uma música a tocar em Espanha, nas rádios espanholas, por isso, pode ser que surja uma colaboração em Espanha, nunca se sabe. Estou muito contente, porque era um mercado que nos interessava e que não estávamos à espera que acontecesse. Sabemos que é um caminho longo e ainda temos muito que caminhar, mas o facto de algumas rádios estarem a tocar o tema é um bom presságio, acho que vai correr bem.