Entrevistas

David Carreira sobre livro de estreia: "Senti a necessidade de desabafar"

David Carreira lança esta terça-feira, dia 17, o primeiro livro, "Os Sonhos Não Têm Teto". Em conversa com a SELFIE, o cantor e ator falou sobre aquele que considera "o projeto mais pessoal de sempre".

O que o motivou a escrever o livro "Os Sonhos Não Têm Teto"?
Nos últimos três anos, já tinha recebido vários convites de editoras para escrever um livro e eu nunca achei que fizesse sentido. Normalmente, quem escreve livros são pessoas com mais idade, mais tempo de carreira e eu, neste momento, estou com apenas dez anos de carreira. Então, sempre achei que era muito cedo e recusei, sempre com a resposta "um dia, se calhar. Quando sentir que tenho coisas para contar…" Depois, a seguir ao concerto no Altice Arena, há quase um ano, comecei a escrever um género de diário. Basicamente, os últimos dois anos foram muito intensos, com imensos projetos (álbum, DVD, uma tour, o Altice, imensos videoclipes - para aí uns 20) e, a seguir ao Altice Arena, senti a necessidade de desabafar um bocado. Nesta vida que, hoje em dia, estamos a viver, de estar sempre a mil, estar sempre muito focado, e ter de pôr, às vezes, a vida pessoal de lado, senti necessidade de começar a escrever. Senti, basicamente, a necessidade de contar, de desabafar, mas sem ser através da música.

A pandemia e a consequente quarentena contribuíram para que pusesse a ideia do livro em marcha?
A primeira fase da pandemia, sim. Basicamente, quando fomos todos de quarentena, em março/abril, aí a escrita do livro fez ainda mais sentido, porque tive mais tempo para contar mais coisas e para falar de coisas que eu nunca tinha falado na música. E, então, ao longo da quarentena, acabei o livro que tinha começado a seguir ao Altice Arena.

"É o projeto mais pessoal de sempre": pode explicar esta ideia?
É um livro no qual eu acabo por contar coisas que as pessoas, às vezes, não sabem… Como é a criação de uma música, a preparação de um concerto, a vida pessoal, também, as dúvidas que, às vezes, qualquer um de nós tem, ao nível do trabalho, ao nível da visibilidade pública que a minha carreira na música acaba por trazer. Acabei por escrever este livro sem, inicialmente, pensar em fazer um livro e, portanto, é um livro que é muito pessoal, escrito por mim. É o meu primeiro livro, portanto, não é algo que faça parte da minha profissão, mas achei que o mais importante era que fosse um livro no qual fosse eu a falar, mesmo na primeira pessoa e que quem o fosse ler pudesse conhecer-me melhor. Esse é o tema do livro, perceber de que maneira é que vejo a minha vida e a vontade de realizar os sonhos que tenho desde miúdo e como faço para os realizar. Eu sempre disse que, para as pessoas me conhecerem melhor, o ideal é ouvirem as minhas músicas, porque nas músicas… para mim, é mais fácil escrever sobre mim, sobre as minhas vivências, sobre aquilo que me aconteceu. E na representação é igual… muitas vezes, vou buscar coisas minhas para desempenhar o papel. Por exemplo, agora, na novela 'Bem Me Quer', vou buscar muito do que é meu, do que já me aconteceu, do que já vi e vivi, para conseguir, depois, pôr em prática. Neste livro, acabo mesmo por dizer coisas que nunca disse, aquelas dúvidas de 'será que me apetece abrandar um pouco e ter um bocadinho mais de vida pessoal durante um tempo?'... E, como está escrito como se fosse um diário, as pessoas vão conseguir entrar na minha cabeça e nos meus pensamentos. E, depois, há muito essa ligação com o digital. Por exemplo, eu estou a contar uma história sobre a Altice Arena, estou a cinco minutos de entrar para o palco e o meu microfone desapareceu, e tenho o público todo aos berros, a gritar para o concerto começar, e eu estou a 70 metros de altura, prestes a descer de uma estrutura e não há microfone! Então, eu estou a contar isso no livro e há um QR Code na página, que, com o telemóvel as pessoas acedem e conseguem ver a situação, que foi filmada, na altura. Portanto, além de criarem o seu imaginário, quando estão a ler, conseguem ver o que aconteceu realmente. Acho que isso é brutal em vários momentos do livro!

Então, as pessoas vão quase, literalmente, entrar no mundo do David Carreira?
Sim, é isso. Vão ter acesso a muita informação inédita. Há um capítulo que se chama 'Músicas de gaveta', no qual conto que, normalmente, quando faço um álbum, trabalho em cerca de 50 músicas e as melhores 12/15 músicas é que entram no álbum. As restantes 35 são músicas que vão ficar na gaveta para sempre, por várias razões. Ou porque naquele momento acho que a música não se enquadra com o resto do álbum, ou porque, de repente, já tenho uma música naquela onda no álbum e, então, não faz sentido ter duas músicas na mesma direção... Nos sete álbuns que já lancei, tenho muitas músicas que estão na gaveta. Algumas, às vezes, dou a outros artistas, porque sei que não as vou guardar para nenhum projeto, e outras ficam na gaveta para sempre. Dentro do livro, mostro algumas dessas músicas e, novamente, há um QR Code através do qual as pessoas podem ouvir a maquete que está na gaveta do meu estúdio. Vão poder ouvir a primeira música que eu gravei, um tema que se chama 'Acabou', que nunca lancei.

Dado que o livro é uma espécie de diário, o público pode contar com mais volumes?
Este livro acaba por não ser uma biografia da minha carreira, mas, sim, um diário, no qual eu conto coisas que me aconteceram. Portanto, dá abertura para poder haver outros livros.

Há folhas do diário que ficaram na gaveta?
É verdade, sim. Ainda no outro dia, estava a falar com o meu melhor amigo e ele perguntava: 'Falaste de mim no livro?'. E eu disse: 'Claro que sim'. Há um capitulo em que conto quando comecei a realizar os meus videoclipes e o porquê. Inicialmente, comecei a realizar os meus videoclipes, porque não tinha orçamento para ter realizadores, então, comecei a realizar os videoclipes e esse meu melhor amigo, que trabalha em importação e exportação de produtos, foi o produtor dos videoclipes. Ele nunca tinha produzido videoclipes na vida! Depois, nessa nossa conversa, ele perguntou: 'Contaste aquela e aquela história?'. E eu disse: 'Por acaso, não contei, devia ter posto no livro'. Portanto, há muitas coisas que eu ou não me lembrei ou acabei por não escrever no livro. Acho que vai ser, sobretudo, o público que vai decidir se gosta desta minha faceta diferente, de escrever livros, e é óbvio que, se o público gostar, por que não continuar a fazê-lo? Mas, por enquanto, está a correr bem [risos]."

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