Após ter ouvido o discurso do Primeiro-Ministro, António Costa, sobre o confinamento obrigatório, que entrará em vigor às 00:00 horas da próxima sexta feira, dia 15, o locutor lamentou o encerramento dos espaços de Cultura.
"Durante seis meses, fiz parte de um espetáculo de teatro que levou milhares de pessoas ao teatro, em segurança. Fizemos apresentações, de noite, à tarde, e, até, de manhã. As lotações foram reduzidas, os atores testados, as bolhas das pessoas com quem nos cruzávamos regidas de forma espartana. Não houve beijos na boca, sem três pensamentos prévios. O 'Avenida Q', ainda assim, no meio de uma pandemia, foi um sucesso. [...] A emoção e a beleza desse momento encheram-nos de alegria, e fizeram-nos respirar de alívio, quando acabou: ninguém doente, nenhum caso entre espetadores", começou por escrever, recordando o espetáculo que integrou, em plena pandemia.
"Os protocolos para ir ver espetáculos, em 2020 eram apertados. Distância, timings diferentes para sair, desinfeção, e o público, irrepreensível, a seguir normas. Obrigado. Muitos de vocês viram vários: de teatro, de dança, de música, ou de performance. Muitas correntes de ar para pensarmos", acrescentou.
"Ninguém discute a dificuldade do momento que atravessamos, ninguém põe em causa a violência que é transversal a todos, mas a cultura não vale menos do que as cerimónias religiosas, ou do que eventos desportivos. Talvez seja mais perigosa, porque nos faz duvidar sobre o que há e o que é, mas é saudável, sempre, porque reflete o tempo", continuou.
"Um país que não se pensa a si mesmo definha, e abre, ainda, mais autoestradas para extremismos. Convém lembrar que apenas um dos candidatos presidenciais - que eu saiba - se debruçou sobre a cultura, esse eterno enteado, enfezado, escondido na despensa. Soubemos, hoje, que os espetáculos estão proibidos, durante esta fase de confinamento geral. Repito: não houve casos em teatros. Mas haverá casos de pobreza extrema, fome, gente a ficar sem casa, muitas famílias que nem sequer têm caras conhecidas, e que, provavelmente, não poderão contar com apoios mágicos. Não duvido da exigência do momento, não argumento que a cultura vale mais do que os outros setores que tantos desempregados vão gerar, mas não significa, certamente, menos. Boa sorte a todos. Dê lá por onde der, havemos de dar a volta", concluiu Rui Maria Pego.