Como recebeu o convite para ser jurada do programa "All Together Now", da TVI?
Não vou mentir. Fiquei bastante assustada, porque a televisão deixa-me sempre bastante nervosa. Ao mesmo tempo, pensei: "Isto é uma oportunidade incrível de ajudar algumas pessoas a cumprirem os seus sonhos, a lutarem pelos seus sonhos na música. Ao mesmo tempo, desafia-me estar num programa de televisão, não sei quantas vezes por mês..." E, então, não pensei duas vezes.
O início da sua carreira, marcado por algumas dificuldades, ajuda-a a perceber melhor os concorrentes?
Nunca concorri a um concurso, mas as dificuldades para se conseguir vingar na área da cultura, em Portugal, são imensas. É muito difícil! Aliás, o que mais me custa, no programa, é quando alguém não passa. Eu dou uma palavra a essa pessoa, tento sempre que seja uma palavra de aconchego e de impulsionamento, para fazer com que essa pessoa não pare de sonhar e perceba que isto é apenas uma pedra pequenina no seu percurso, e que nós temos de saltitar por muitas pedras, até chegarmos onde queremos. Isto é transversal a qualquer área. Quando se vai a um programa de televisão em que se está tão exposto, sinto que, com as minhas competências e com aquilo que já vivi, posso alertar, encaminhar e tentar dar algumas luzes às pessoas que me aparecem à frente. Acho que é esse, também, o meu papel, além de jurada. Na verdade, nem gosto de me ver como jurada, porque quem sou eu para julgar seja quem for? Só que estes concorrentes estão expostos a milhares de pessoas que estão em casa a ver e que, provavelmente, nunca vão falar com eles, diretamente. Estão expostos à crítica dessas pessoas - isso é muito assustador, não é? -, pelo que é muito importante que não saiam dali a pensar "pronto, isto não é para mim", porque pode ser! Para mim, é muito importante conseguir instigá-los a que continuem a tentar.
Mencionou as críticas nas redes sociais. Como lida com isso?
Faço com as redes sociais aquilo que faço na vida. Dou a importância necessária às coisas. Não tenho muito tempo a perder com críticas que não são construtivas, que não me agreguem nada, e é isso que tento passar aos concorrentes. Não se centrarem nas críticas más e, até, às vezes, nem nas críticas boas, porque o foco tem de ser seguir aquilo que eles querem e procuram, e só assim conseguem vingar.
Nas imagens promocionais, percebemos que a Gisela se emociona bastante. Tem ficado boquiaberta com o talento que se revela no programa?
Tem sido incrível ver uma coisa de que nunca duvidei: acho que temos muito talento, é preciso é dar palco a estas pessoas. É ótimo ver que este programa explora o talento e não as coisas mais caricatas que possam acontecer, porque pode aparecer tanta coisa, podiam seguir tantas direções diferentes... Deixa-me tão feliz e de consciência tranquila que o foco do programa seja a qualidade e o talento verdadeiro. Às vezes, na televisão - sempre na guerra das audiências -, parece que vale tudo e, neste programa, não vale tudo! Isso deixa-me muito orgulhosa, porque a televisão tem este papel de mostrar às pessoas coisas novas, de as encaminhar, de as fazer pensar. A bitola deste programa é a qualidade e fico satisfeita por saber que as pessoas, ao verem este programa, vão estar a ver qualidade, bons conteúdos, coisas boas, e que lhes vai fazer bem à alma e ao ouvido.
Mas haver tanto talento dificulta a tarefa enquanto jurada...
Se dificulta! Estou farta de chorar naquele programa... [risos]
E como é ser presidente de um júri composto por 100 pessoas tão diferentes?
É fácil! Vou ser muito sincera: dos 100 jurados só conhecia mesmo uma pessoa. As restantes conhecia de nome, ou das redes sociais, ou por causa do trabalho que fazem e, neste momento, sinto que a rede que se criou ali é quase como uma família gigante. É super interessante perceber a individualidade e o gosto de cada um. Além disso, este programa também me veio trazer outra perspetiva. Ao princípio, achava que, sendo um programa de música, de cantores, o que faria sentido era que o júri fosse todo composto por pessoas da área da música, e não é! É todo composto por pessoas de diferentes áreas do espetáculo, e, de repente, dei por mim a pensar: "Isto é super interessante e faz todo o sentido!" Isto prova aquilo que passo a vida a dizer - até aos meus amigos mais próximos -, que toda a gente tem direito à sua opinião e ao seu gosto. Às vezes, as pessoas estão em casa a ver estes programas, ouvem um professor de música ou um cantor falar, e pensam assim: "Pois, eu não sou da área da música, não percebo tão bem como estas pessoas." Mas, se as pessoas estão a ouvir, estão no seu direito de gostar mais ou menos, de sentir mais ou menos. Este júri, composto por pessoas de diferentes áreas, a meu ver, pode fazer com que as pessoas em casa sintam: "Ok, eu também tenho uma opinião, também posso dizer que esta música me toca mais ou me toca menos." Acho que, desta forma, se democratiza bastante esta questão.
Com este júri de diferentes áreas, sente que as pessoas se sentem mais representadas?
Acho que é muito importante haver um bocadinho de tudo. Não gosto é que as pessoas que não são da área da música não se sintam confortáveis ou se sintam menores. Às vezes, oiço: "Gosto muito desta musica, vê lá se gostas… mas eu não percebo nada de música." E eu digo sempre: "Percebes!"
O "All Together Now" vem, também, dar a conhecer melhor certos artistas que fazem parte do júri?
Sim, claro! Também lhes dá trabalho nesta fase de pandemia, em que estão todos mais parados, e em que é urgente olhar-se para a importância da Cultura no nosso país. Uso, também, a minha visibilidade para dar voz a estas questões todas. E as pessoas podem passar a ouvir estes 100 jurados, quando só conheciam três ou quatro. Vão passar a conhecê-los melhor e a ouvir os seus pedidos. São mais pessoas a ter voz!
Está mesmo a adorar este desafio do "All Together Now", não é?
Mesmo que não estivesse lá, acho que ia ficar colada ao ecrã. Vale mesmo a pena ver, porque o programa é mesmo giro!
Se estivesse em início de carreira, era capaz de concorrer?
Não! Não tenho personalidade para concorrer. É por isso que me apetece sempre dar um abraço às pessoas que não ficam, porque é muito doloroso esse momento de mandar aquela pessoa embora. Só penso: "Meu Deus, posso estar a destruir o sonho daquela pessoa." Não posso deixar que isso aconteça! Quero é estimular aquelas pessoas. Elas merecem muito, mas mesmo muito, carinho, só pelo facto de terem a coragem de, em antena aberta, irem ali cantar, correndo o risco de irem embora, de serem criticados… Acho que todos merecem todo o respeito da nossa parte.