Big Brother

Psicóloga Teresa Paula Marques sobre gesto polémico de Hélder: "Brincar com coisas sérias"

Defendo que o sentido de humor é uma das maiores expressões de inteligência, mas a questão que se coloca é onde deixa de ser uma simples brincadeira e passa a constituir um insulto, ou falta de respeito?

Doutorada em Psicologia
  • 30 jan 2021, 10:41

Alguns humoristas defendem que tudo pode ser abordado, já que pelo facto de nos rirmos de um assunto não passamos a desvalorizá-lo. Tenho sérias duvidas que assim seja, sobretudo quando se tratam de áreas que hoje em dia são alvo de correntes negacionistas, como é o caso do Holocausto nazi. Negar o Holocausto não é apenas adulterar o passado, mas também passar por cima de todos os valores ligados à dignidade humana.

Recentemente, no Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, a UNESCO pediu aos governos de todo o mundo  para se mobilizarem em iniciativas para combater o negacionismo e o antissemitismo. Posto isto, os responsáveis pelas redes sociais em geral, e do Facebook em particular, assumiram também o combate à negação, à distorção e à desinformação acerca desta temática. A partir daí, esta rede social  passou a redirecionar qualquer pesquisa que um utilizador faça com termos associados ao Holocausto, para o www.aboutholocaust.org, onde está toda a informação correta.

O negacionismo só se combate, dando a possibilidade de as pessoas se informarem corretamente sobre o que realmente aconteceu. Neste contexto, qualquer programa de televisão ocupa um lugar de extrema importância. Uma saudação nazi não é apenas um gesto. É algo que se reveste de um simbolismo que a todos, enquanto seres humanos, nos deveria envergonhar, porque representa tudo aquilo que há de maléfico. Não podemos branquear atos, nem desvalorizá-los com a desculpa de que se trata de um programa de entretenimento, ou de uma simples brincadeira. Não, de modo algum. Se assim fosse, estaríamos, ainda que simbolicamente, a dançar em cima das campas de seis milhões de inocentes, a desvalorizar a dor e a alimentar a falta de empatia.

É vital que, desde pequenos, nos seja transmitida a importância de nos colocarmos no lugar dos outros, já que é a capacidade de empatia que nos torna humanos.  Assim sendo, nesta primeira crónica que escrevo para a SELFIE, não poderia deixar de abordar este tema. Poderá ter sido uma brincadeira. Possivelmente sim, mas, ainda que o tenha sido, quando ocorre num programa de televisão passa a ser grave e não pode ser descurado. Há ainda um outro fator a acrescentar a tudo o resto, que se prende com a situação de pandemia que todos estamos a viver. A todo o momento, morrem pessoas, que são filhas, mães, pais, irmãos, amigos de alguém. Não são números. Não poderemos deixar que estas pessoas sejam alvos de piadas num programa de televisão, mesmo que tal aconteça só daqui a oitenta anos. Consequentemente, para que o possamos prevenir, há que estimular a empatia, sermos  sensíveis à dor dos outros, mesmo que nunca os tenhamos conhecido.

Em suma, esta e outras situações que surjam num programa de televisão devem, a meu ver, ser devidamente sancionadas, pois só deste modo é dado um sinal claro aos telespectadores (sobretudo aos mais novos e aos menos informados) de que há barreiras que não podem ser ultrapassadas, sob pena de estarmos a criar uma sociedade pouco empática.

Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia

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Teresa Paula Marques
Doutorada em Psicologia

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