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Pedro Carvalho estreia-se no cinema brasileiro com filme "impactante": "Muitas pessoas que já o viram saem com um nó na garganta"

Numa entrevista exclusiva à SELFIE, o ator Pedro Carvalho falou sobre um dos mais recentes desafios profissionais: a participação no filme "O Segundo Homem".

Como surgiu o convite para participar em "O Segundo Homem"?
O convite surgiu por parte do diretor e um dos autores do filme, o Thiago Luciano, que, durante a época em que estava a gravar a novela "A Dona do Pedaço", sugeriu que nos encontrássemos para que ele me apresentasse a sinopse do filme, a sua ideia, em linhas gerais, o conceito e para me falar de uma das personagens que teria pensado para mim, o Rui Coimbra. Ficámos uma tarde inteira a debater e a falar acerca da sinopse. Sobre os legionários estrangeiros e sobre como uma política extremista de direita pode afetar o país em larga escala, revelando, até, uma certa anarquia de comportamentos, como a questão da hipótese da posse de arma ser legalizada para qualquer cidadão no Brasil, já que o filme assenta na principal ideia de um "possível futuro próximo". Nem hesitei em ler, assim que cheguei em casa. O Thiago é um diretor com um olhar bastante sensível e um excelente diretor de atores. Esta personagem atirou-me para fora de pé completamente. Senti-me muito seguro, sendo dirigido pelo Thiago. E, depois, juntando o elenco de tantos talentos com quem tive a oportunidade de dividir cena. 

O que nos pode contar sobre a sua personagem, que, como o próprio Pedro já definiu, é diferente de tudo o que já interpretou?
O Rui Coimbra é um legionário da legião estrangeira (grupo clandestino que existe no Brasil), completamente obstinado e obcecado pela carreira militar. Ele transformou-me numa verdadeira máquina de guerra pronta para matar a qualquer custo. É frio, bruto, calculista e vai estar envolvido no assassinato misterioso que acontece dentro do quartel e que movimenta todo o cerne da história. Para este filme tive que fazer uma preparação muito intensa a nível de treinos físicos, porte de arma, treino militar... A preparação foi intensiva. Foi um grande desafio que me deu bastante gosto em desempenhar e saí, uma vez mais, completamente da minha zona de conforto, enquanto artista. E essa "transmutação", ser camaleão, nas personagens que vou desempenhando, ao longo da minha carreira, é uma das principais coisas que me move. 

Sendo a sua personagem um militar da Legião Estrangeira brasileira, imagino que passou mesmo por uma intensa preparação física para esse papel...
Sim, a preparação física foi bastante exigente. Fui convidado para o Rui Coimbra ainda durante as gravações da novela que estava a fazer "A Dona do Pedaço", do Walcyr Carrasco, na Globo. Nessa novela, a minha personagem entrava muito na história, gravava muito. Aliado a isso, tinha de conciliar sempre um treino de uma hora e meia, todos os dias, de segunda a domingo, treino de força, bootcamp, preparação militar e cardio. A dieta foi muito apertada, com restrição calórica. A produção disponibilizou sempre treinadores e coaches, nutricionistas, que me acompanharam diariamente e isso facilitou muito o processo.

E também houve uma preparação psicológica?
Sim, assisti a vários documentários de legionários estrangeiros.

Além disso, esta foi a sua primeira personagem a falar português do Brasil. Como foi esse desafio?
Estava ansioso e expectante por este momento. Foram seis anos de aulas de fonoaudiologia e de vivência no Brasil, para conseguir falar o português do Brasil corretamente. Sinto mesmo que foi mais um passo em frente que dei e estou muito feliz com isso.

"O Segundo Homem" foi o seu primeiro filme, no Brasil. Como foi essa experiência?
Sim, é de facto a minha estreia no cinema brasileiro. Foi um processo muito árduo e prazeroso que me tirou completamente da minha zona de conforto. Estou feliz com a minha entrega. Todos os meus colegas de cena, a direção e a equipa técnica ajudaram-me bastante e senti-me confiante. Estou a tentar não criar expectativas, mas estaria a mentir, se dissesse que não as tenho. Tomara que o público receba o "Segundo Homem" e o Rui de braços abertos.

E quais são as principais diferenças entre participar num projeto em cinema e numa novela?
Depende sempre muito de quem realiza, de quem escreve. Mas, em linhas gerais, novela é mais imediata, gravamos mais cenas por dia. Cinema é mais detalhista. São processos muito diferentes.

Qual foi a cena mais difícil de gravar (sem revelar muitos pormenores sobre a história, claro)?
Foi, sem dúvida, uma das minhas cenas que aparece no trailer e que é o mote para o desenrolar da história. Foram muitas horas de preparação e de concentração para gravar essa sequência.

Para esta personagem, fez uma mudança radical de visual: teve de rapar o cabelo e tirar a barba, um look pouco habitual nos seus trabalhos. Foi uma transformação fácil, para si? Gostou de se ver com esse visual?
Adoro fazer estas mudanças, cada vez mais despir-me do "Pedro" e criar outro universo completamente diferente de mim.

E em relação ao elenco, como foi contracenar com os atores de "O Segundo Homem"?
O Anderson Di Rizzi [o protagonista do filme] já se tornou num amigo, já é o terceiro projeto que fazemos juntos. Fizemos duas novelas e, agora, o filme. E é sempre um prazer inenarrável trabalhar com ele. Em relação à Lucy Ramos, tinhamo-nos cruzando na novela "A Dona do Pedaço", mas não contracenámos. É uma atriz brilhante. Depois a Negra Li e a Cleo Pires são de uma garra e de uma generosidade muito grandes, em cena. Tive oportunidade de contracenar com o Wolf Maya, que é uma referência de atuação no Brasil.

A realização está a cargo de Thiago Luciano. Por que motivo, na sua opinião, este realizador teve um “olhar sensível e minucioso”, ao rodar este filme?
O Thiago é um realizador com um olhar bastante sensível e um excelente diretor de atores. Esta personagem atirou-me para fora de pé, completamente, e senti-me muito seguro sendo dirigido pelo Thiago.

O tema do filme é o livre acesso a armas de fogo. Por que motivo é que a abordagem deste tema é pertinente?
Muitas pessoas que já viram o filme saem com um nó na garganta. Eu mesmo, quando assisti, senti isso. E a razão foi comum a todos nós: infelizmente, é uma realidade que não está tão longe de acontecer dada a situação político-económica que vivemos atualmente, que, nos últimos anos, tem andado de mãos dadas com uma pandemia que fragiliza e torna ainda mais evidente as diferentes esferas sociais. Tudo isto é muito triste e preocupante. Saímos do filme a pensar: "E se isto acontecer?" Não é uma utopia, não é platónico. É uma ficção que, infelizmente, se poderá tornar real. Esperemos que não.

Qual foi a maior lição que aprendeu com esta experiência em "O Segundo Homem"?
Foram várias, mas, talvez, o maior sentimento seja o de gratidão por ter tido esta oportunidade de trabalhar com uma equipa tão talentosa.

"O Segundo Homem" vai estar disponível numa plataforma de streaming. O que representa, para si, esta nova forma de ver cinema?
Acho que é mais um passo em frente. Com tudo o que estamos a viver no mundo, com a pandemia, é importante que o cinema se reinvente e a forma de o vermos também. Para que o cinema perdure.

Tem mais projetos em vista, no Brasil?
Tenho, sim. A seu tempo, saberão.

Finalmente, por que motivo os nossos leitores não podem perder "O Segundo Homem"?
É, de facto, um filme impactante, um hino à conscientização e ao altruísmo. Toca em pontos muito sensíveis de todos nós e deixa-nos a pensar.

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