Entrevistas

Paulo Cardoso afirma: "Sinto-me responsável por ter mudado a imagem da Astrologia"

A propósito do livro "Guia de Astrologia 2021", Paulo Cardoso revelou à SELFIE as principais previsões para este ano, mas, também, contou como tem sido "desbravar caminho", na Astrologia, ao longo de mais de 40 anos de carreira.

Paulo Cardoso
Paulo Cardoso

Em que medida o "Guia de Astrologia 2021" é diferente dos anteriores?
É diferente, por uma razão muito forte. Sou astrólogo há mais de 40 anos e, apesar de acreditar profundamente na Astrologia e nas leis da Astrologia, ainda fico estarrecido com aquilo que conseguimos obter através da Astrologia, em termos de previsões ou de definição do carácter. Há estatísticas que indicam que, pelo menos, 85% da maneira de ser de cada um de nós se vê num horóscopo. Quanto às previsões, essa percentagem já desce para 65%, dependendo, essencialmente, do intérprete que usa as tais leis da Astrologia, que, provavelmente, são perfeitas, só que os homens não são perfeitos. Ora, no ano passado, algo me fez mudar a perspetiva, a política do livro. Nos últimos anos, mencionava os nomes das pessoas que estão abrangidas pelas minhas previsões e houve uma série de previsões relacionadas com certas pessoas muito conhecidas no nosso país e no estrangeiro que, mal ou bem, acabaram por se verificar, até de uma maneira um bocadinho exagerada.

Quer referir algum caso em particular?
O nome do Pedro Lima estava justamente num grupo que era dos mais afetados do signo de Carneiro. Esta coisa de pôr os nomes responsabilizou-me, por um lado, mas, também, me admirou, por outro lado, tal a exatidão das previsões. Aquilo que me distingue da maioria dos astrólogos é que faço previsões para os 12 signos e para os 365 dias do ano, que são 30 vezes mais rigorosas do que aquilo que se faz normalmente. Assim, dá muito trabalho e nem toda a gente tem paciência para fazer tantos cálculos, mas os resultados estão à vista.

O que mudou, então, neste livro?
É que, antes, dirigia-me às pessoas que estavam em maus lençóis astrológicos sob previsões muito negativas, mas esquecia-me de que as pessoas que vivem à volta dessas pessoas que estão em crise podem ter um papel extraordinariamente importante. Este livro é completamente diferente, porque eu, quando as pessoas estão debaixo de coisas muito graves, escrevi: 'Se tiver alguém, amigo ou da família, das datas tal e tal, tenha atenção, porque essa pessoa pode não exprimir a mágoa que está a sentir.' Isto é a razão de eu ter mudado. Passei a não fazer só as previsões para a pessoa, mas a alertar as pessoas do seu núcleo, para avisar que aquela pessoa pode estar em crise. Por exemplo, há signos que se recusam a dizer que estão em crise, como é o caso dos capricórnios, dos leões ou dos escorpiões. Alguns nem têm o livro, mas, ao mencionar isso no livro, as pessoas que estão à sua volta vão, pelo menos, saber que ele está em crise, que está em sofrimento e que podem ajudar. Foi baseado nos depoimentos de algumas pessoas, após a morte do Pedro Lima, que diziam "se eu soubesse", que mudei a estratégia do livro.

Acredita que o livro pode ser uma ferramenta importantes nesses casos?
Acredito que sim. Estou mais atento a isso e uso uma linguagem mais incisiva em relação a essas pessoas, porque, se há um grupo de risco e se eu aviso, as pessoas vão estar mais atentas. Ao longo do livro, fiz para aí uns 20 avisos e refiro períodos: nascido entre tal e tal. À medida que o livro vai correndo, vou fazendo estas anotações, porque, muitas vezes, a mãe de família compra o livro e, depois, vai ler sobre os filhos. Se ela se depara com esta frase e se um dos filhos está nesse intervalo, vai estar, ainda, mais atenta, pois, por natureza, as mães já são atentas. Acho que isto pode ter um papel extremamente positivo, porque a Astrologia e a Psicologia não estão muito longe.

O facto de colocar nomes e ser tão preciso nas datas traz maior credibilidade às previsões?
Isto é um fator de credibilidade. A Astrologia é que acerta, eu apenas sou um elemento de interpretação. Os meus livros falavam de uma série de pessoas e as coisas aconteceram. Fui fazendo esta resenha e, de há dois anos para cá, resolvi pôr muito mais nomes, ou seja, em vez de pôr só um ou dois, punha muitos nomes e, portanto, expus-me muito mais, porque estava a falar de pessoas, algumas que iam ter crises, outras que iam ter coisas muito positivas. Esta exposição, nos últimos dois anos, fez com que, realmente, também, ficasse mais seguro do que era um bom processo para a Astrologia e para as pessoas que seguem a Astrologia.

Sente-se, então, mais seguro nas previsões que faz?
Estou mais seguro, sim. De há 48 anos para cá, e até há cerca de há uns dez ou 15 anos, eu só fazia consultas pessoais e ninguém conhecia o Paulo Cardoso. Uma consulta privada acaba por ser esgotante, ao fim de atender duas ou três pessoas, por dia. Creio que fiz umas 20 mil consultas privadas e, se pensarmos que um psicólogo, um psiquiatra ou alguém que atenda pessoas em desespero, ao fim de alguns anos, tem que fazer anos sabáticos... O problema das pessoas acaba por dormir e acordar connosco, e eu, em vez de acabar com a Astrologia, pensei que podia fazer de um modo diferente. Em vez de trabalhar um a um, passei a publicitar e a divulgar a Astrologia para o comum dos mortais. Não apenas para aquelas pessoas que tinham dinheiro para me pagar uma consulta, que não era tão barata quanto isso, e aceitei fazer, pela primeira vez, textos para a revista Máxima, e, a partir de 1996, comecei a fazer mesmo estas previsões que não se resumem ao signo, porque queria algo mais. Criei um método o mais individualizado possível, pois a notícia ou a previsão mais individualizada é que faz falta às pessoas, porque é tudo massificado. Este método, que desenvolvi em 1996, é 30 vezes mais rigoroso do que para o signo. Acho que sou o único no mundo que faz isto, porque são sete mil e tal cálculos e ninguém tem paciência para fazer esses cálculos todos. Eu é que tenho projetos e software que me ajudam a fazer isto.

No livro encontramos uma previsão quase individualizada?
A predisposição que pode saltar da previsão geral é o ascendente. O ascendente pode corrigir, mas eu alerto para isso e já não posso fazer mais, porque, aí, seriam mais 144 livros deste tamanho [risos].

Mencionou o método único que criou: costuma dar formação para ensinar outros a seguir esse método?
Adoro ensinar! Só não estou a dar aulas por causa do confinamento. Tenho mesmo saudades de dar aulas! Depois de ter dado consultas, durante tantos anos, a tantos milhares de pessoas, aquilo que nasceu logo em mim, que eu desenvolvi, foi a capacidade de ensinar e a primeira coisa que me apeteceu foi dar aulas. Para sobreviver na Cultura - sou, também, escritor e pintor -, tenho que andar a deitar a mão a vários fogos, ao mesmo tempo, mas, se pudesse, dava aulas, como dei, durante tantos anos, e os meus alunos adoram-me. Adoro dar aulas, adoro ensinar, porque é quase uma obrigação. Eu vou morrer, mais tarde ou mais cedo, e as novas gerações vão poder começar a seguir este método. Além disso, tenho gravações e textos feitos, ao longo de mais de 15 anos de aulas.

Tem dado aulas online?
Muitos dos meus alunos são jovens, mas outros não e, portanto, não estão tão dentro desta maneira de trabalhar, através de aulas online. Além disso, para as aulas online é necessário ter uma boa plataforma e todo um background de apoio, que é difícil reunir neste cenário de pandemia.

A pandemia trouxe maior procura pela formação online?
Houve muito mais procura, mas menor capacidade de responder a essa procura, pelos motivos que já referi. Além disso, por videoconferência é mais difícil captar a intimidade e isso é importante na Astrologia. As pessoas que trabalham comigo, também, estão confinadas e, agora, tenho de fazer muitas das coisas que, antes, eram feitas pela minha equipa. Tenho um alojamento local, tenho que tratar dos animais, numa quinta ecológica... Portanto, neste momento, sou agricultor [risos]. Estou a dar comida às galinhas, aos perus, aos patos, a cortar a relva, a passear com os cães, porque preferi estar sozinho do que haver o risco de ser infetado com Covid-19 e, também, quis assegurar, ao máximo, a segurança daqueles que trabalham comigo, até porque alguns são pessoas de idade.

E tem aproveitado para escrever e pintar neste período de confinamento?
Nunca pintei tanto na minha vida! [risos] Quando o sol se vai embora, já não posso trabalhar na quinta, não vou trabalhar muito na Astrologia, porque faço o livro num determinado período do ano, e, então, pinto que nem um desalmado! Estão preparadas, neste momento, duas exposições de pintura, algo que, normalmente, leva cinco ou seis anos a fazer.

Qual a sua previsão em relação à pandemia Covid-19?
Estamos nos piores dois anos do século XXI, tão maus como 1983, 1943, 1930 e 1914… São tudo quebras nesse tipo de gráfico, de tensões astrológicas. Eu sou um astrólogo virado para as pessoas, não para os assuntos pandémicos ou guerras, porque há essa especialidade. Mas, embora não seja a minha área de especialização, fui-me informando, ao longo dos anos, e, em 1980, um dos autores dos livros pelos quais aprendi Astrologia, André Barbault, já tinha feito uns gráficos para o século XIX e para o século XX, em que aparece 2019, 2020 e 2021. A coisa começa a melhorar a partir de 2022, até 2030. Se ele tinha razão, vamos começar a melhorar para o ano e vai ser assim até 2030.

Mas nas suas previsões já aparecia a pandemia?
Volto a frisar que essa não é a minha especialidade (a de fazer previsões globais), embora as pessoas digam: "O Paulo devia ter avisado…" Contudo, no ano passado, 6 a 8% das previsões que fiz eram muito difíceis. Eu não estava era a referir-me à pandemia, mas, sim, àquela pessoa em particular. E, repare, há pessoas para quem a pandemia acabou por trazer coisas boas... O meu filho nunca esteve tanto com o meu neto como neste ano, houve um estreitamento das relações, que, noutra altura, não seria possível. Agora, as pessoas queixam-se, nas redes sociais, que eu não avisei acerca da pandemia... Eu estudo isto há 40 e tal anos e não admito que as pessoas ponham isso em causa. Considero que, em Portugal, se houve duas ou três  pessoas que tentaram credibilizar a Astrologia e eu sou uma delas! A primeira vez que fui à televisão, nos anos 80, foi com o pai da Catarina Furtado, ainda ele era jornalista, e fui explicar por que acreditava na Astrologia. Ando, desde essa altura, a explicar que a Astrologia não é o que as pessoas pensavam. Portanto, eu sinto-me responsável por ter mudado, um bocadinho que fosse, a imagem da Astrologia, neste país.

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