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Melânia Gomes recorda abuso sexual de que foi vítima em criança: "Contei e nunca ninguém fez nada"

A atriz Melânia Gomes concedeu uma entrevista reveladora, na qual contou que foi abusada sexualmente, na infância.

Numa entrevista, concedida ao programa "Alta Definição", Melânia Gomes revelou que foi vítima de abusos sexuais. "Tinha cinco, seis, sete anos", começou por recordar.

"Fui abusada por uma pessoa da minha família, numas férias. Reprimi, volta e meia tinha flashes, imagens que me apareciam concretas, situações, cheiros, tudo, tudo, tudo muito sensorial, tudo muito forte. E, de repente, da mesma forma que vinha, ia. E tinha as mais variadas reações. Ou batia na pessoa com quem estava, ou chorava, ou ficava sem reação nenhuma. E foi preciso bastante tempo para trabalhar isto. Fiz psicoterapia, fiz tudo. Fiz muita coisa para poder enfrentar o que aconteceu", explicou a atriz, que tem, agora, 38 anos.

Melânia Gomes recordou em que momentos aconteciam esses abusos: "Quando me encontrava sozinha na casa de banho. Porque me ia dar banho, para ver se me estava a lavar bem. Ou quando eu estava a dormir, ou quando eu estava a brincar, sempre sozinha. Aquilo foi estranho, aquilo foi gradual. E as coisas foram escalando e, embora não tivesse conhecimento sexual, há uma intuição que te diz que aquilo não devia estar a acontecer e que não queres que aquilo aconteça. Fiz um telefonema e disse que queria ir embora e fui embora."

"Contei tudo [à mãe]. E estava à espera de uma reação, porque a minha mãe sempre 'rodou a baiana' na escola para qualquer coisa que fosse [...]. Na altura, a pessoa nunca foi confrontada e a coisa 'morreu' por ali. Nunca ninguém fez nada com a esperança de que eu era muito pequena e ia esquecer", assinalou.

Após os abusos, Melânia Gomes voltou a cruzar-se com o abusador em situações sociais. E nunca chegou a confrontá-lo: "Fica a raiva daquela pessoa. Não lhe aconteceu nada. Sofri tudo sozinha. Pedi ajuda e ninguém ma deu. Resolvi, mas àquela pessoa não lhe aconteceu nada. E não sei a quantas mais pessoas não terá feito o mesmo. É importante falar, é importante denunciar e as coisas deviam ser mais facilitadas, porque é preciso muita coragem para falar sobre isto."

Entretanto, o abusador faleceu e esta morte foi essencial para que Melânia Gomes começasse a processar tudo o que viveu: "Parece que foi preciso a pessoa morrer para ter força para falar. [...] Tu, muitas vezes, ignoras e tentas seguir a tua vida. Nem falas. Por isso é que os prazos para fazer as queixas me deixam 'revirada'. Cada pessoa tem o seu tempo, cada caso é um caso."

Em modo de alerta, Melânia Gomes ainda decreveu o perfil típico de um abusador: "São sempre  de um meio familiar, de um grupo muito fechado. São sempre pessoas intocáveis, muito credíveis. Por isso é que é muito importante explicar à criança que o ser crescido não é o importante. Porque há muita gente crescida sem juízo nenhum e a fazer muito mal a crianças. Quando estas coisas acontecem, que são normalmente no seio da família, ou próximo, não se acredita na criança, se ela tiver a capacidade de falar... porque, às vezes, estes crimes sexuais acontecem desde sempre e a criança nem sabe que aquilo não está certo. Isto é uma coisa que, obviamente, mexe comigo e que ninguém fala, porque é muito difícil falar."

 

Recorde-se que caso tenha sofrido - ou continue a sofrer - de abuso sexual, pode contactar, gratuitamente, o número da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima): 116 006. Assim como a Rede CARE - Apoio a Crianças e Jovens Vítimas de Violência Sexual, pelo telefone 22 550 29 57

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