As mulheres não se medem aos palmos (nem em centímetros na anca). Vindo de um lugar bafiento, em que noutras épocas era aceitável menosprezar o talento de uma mulher a partir da respetiva silhueta, Alexandre Pais escreveu uma crónica em que compara Maria Botelho Moniz e Cristina Ferreira a duas mulheres de outra estação televisiva. Além de comparar, o "jornalista" associa os atributos físicos ao respeito que têm pelo telespetador (quem respeita tem de ser pouco "robusto" e ter braços tonificados).
Acontece que o tempo em que as mulheres, numa clara luta para ganhar o respetivo espaço num mundo de homens, rejubilavam, quando outra mulher era espezinhada, tem os dias contados. Assim como os tempos em que criticar o aspeto físico de alguém parecia ter piada.
A crónica "cheia de graça" esbarrou numa sociedade de mulheres que levam a sério a palavra "sororidade" e que se uniram contra esta forma de violência psicológica. Um corpo conta muitas histórias que podem, ou não, ser de conforto e paz. Mexer neste aspeto, e, sobretudo, colocar a inteligência e o talento de alguém em causa, devido a ele, é de uma injustiça e falta de sensibilidade tremendas.
Quantas de nós crescemos a sermos alvo de comentários sobre as nossas pernas que não ficavam nada bem naquela saia? Dos toques na barriga, seguidos de risos, que nos humilhavam? De críticas sobre a forma como aquela roupa não dava para os nossos "braços flácidos"? E quantas deixaram de ir à praia, de usar determinada peça de roupa que gostavam ou de tentar até objetivos mais altos por acharem que a respetiva imagem não era suficientemente boa?
Enquanto mulheres (e acredito que homens, também), estamos fartas! Estamos fartas que nos seja exigido um determinado padrão físico. Estamos fartas que acreditem que o nosso talento e a nossa competência têm de caber numa cinturinha de vespa para serem verdadeiros. Estamos fartas de sermos comparadas umas às outras. Estamos fartas que a sociedade pense que tem sequer o direito de falar sobre aquilo que é tão nosso: o nosso corpo Estamos fartas!
A Maria é robusta, sobretudo na sensibilidade com que trata aqueles que se cruzam no respetivo caminho, na forma como foi galgando patamares e atingindo as metas. Os braços da Cristina têm a força de uma mulher que já alavancou tantas outras, que construiu um império a partir do nada, que se estende e reinventa, diariamente.
Se os olhos de alguns não captam isto, o problema está nas respetivas capacidades de verem realmente o outro e respeitá-lo serem demasiado estreitas.
P.S: Que pena daqueles que, contrariamente a mim e às minhas filhas, não têm a sorte de conhecer alguém tão especial como a Maria.