Entrevistas

Luís Mateus lança livro especial e afirma: "Ninguém me faz calar: este Mundial é comprado"

A SELFIE esteve à conversa com o jornalista Luís Mateus, que lançou, recentemente, o livro "O Campeonato do Mundo - A História e as Estórias".

É o seu primeiro livro?
Já participei em vários livros, mas este é o primeiro a solo. Foi algo que sempre quis fazer.

Jornalista desportivo e fã assumido de futebol: foi fácil chegar a este tema?
O tema resulta de vários pressupostos que têm que ver comigo. Para mim, o campeonato do mundo sempre foi um acontecimento muito especial. Sempre foi a partir do campeonato do mundo que aprendi, de certa forma, a ver futebol ou que mais me motivou a ver futebol, mais até do que o campeonato nacional, por exemplo. Estava muito associado, na minha infância/juventude, à descoberta de novos jogadores de novas equipas. Hoje em dia, vivemos numa sociedade em que temos acesso a praticamente tudo. Na altura em que eu comecei a gostar de futebol, havia pouca informação, poucos jogos. Praticamente não havia transmissões e nós descobríamos muito dos jogadores nestas competições, campeonato do mundo e da Europa.

O livro foi lançado em outubro, pouco antes do início do Mundial do Catar.
Queria um tema que fosse importante para um mercado que não gosta muito de ler. Neste sentido, o facto de o lançamento ter acontecido nesta altura foi pensado propositadamente, porque as pessoas estão a procurar mais do que qualquer outro tema. Não queria escrever um livro só por escrever, queria que fosse impactante. Passo um bocadinho a publicidade, mas acho que é um livro muito bem conseguido, porque vai buscar muitas histórias e tenta ser mais ambicioso daquilo que seria a ideia inicial, porque acrescenta muito do contexto histórico de cada campeonato do mundo. Acrescenta um pouco da evolução táctica que resulta desses campeonato do mundo e dos momentos que antecedem essas competições.

O primeiro Mundial aconteceu em 1930, no Uruguai. Como conseguiu descortinar histórias tão antigas?
Recorri a muitos autores e a outros livros, porque era impossível ter acesso a tanta informação.

Quase cem anos depois, deparamo-nos com uma edição muito polémica, esta do Catar. Toda a revolta que se instalou, à escala global, é inédita?
Não! Os Mundiais têm imensas histórias desagradáveis para quem está de fora. O futebol é propaganda para os regimes, para tudo. Não muda! Neste sentido, embora seja um bocadinho diferente, é propaganda para o Catar. Ninguém me faz calar: este Mundial é comprado, tal como foi o da Rússia, em 2018, e tem aqui situações graves. Mas situações graves que duram há 12 anos, altura em que foi comprado, digamos assim. Ninguém falou ou quem falou rapidamente perdeu a força e só a semanas do começo é que essas pessoas se revoltaram por se ir jogar no Catar, perante um regime que tem vários problemas. Que os problemas existem, parece-me claro. Agora, acho que não era preciso ter-se esperado 12 anos para se abrir a boca. Acho que, quando houver um campeão do mundo, toda a gente se vai esquecer do que aconteceu no Catar, como se esqueceram que o Gianni Infantino [presidente da FIFA] recebeu de Vladimir Putin [presidente da Rússia] várias condecorações depois do Mundial da Rússia. O futebol apaga tudo. Por um lado, é bom. Por outro, é mau. Mas é preciso não esquecer que muitos Mundiais foram realizados em situações deploráveis. Por exemplo, a edição de 1978, na Argentina, foi realizada como propaganda de um regime de direita que perseguia e matava pessoas.

E os jogadores, como ficam neste processo?
Temos de excluir os jogadores, que estão a fazer o seu papel. Se calhar, até mais do que era suposto, porque quiseram expor-se. Deviam ter sido os próprios países e federações a ameaçar que não iram estar presentes nesta competição. Se lhes fazia tanta confusão, não era necessário chegar-se a semanas do pontapé de saída deste torneio para que as pessoas manifestassem o seu descontentamento. E é importante destacar que a FIFA não é uma empresa normal. Tem os seus próprios interesses e não quer ser, propriamente, democrática ou qualquer coisa parecida. Quer fazer dinheiro e o seu principal interesse é o lucro.

Gostaria de escrever mais livros?
Admito que, se fosse em Inglaterra, talvez fosse mais fácil. Aqui, nem tanto. Em Portugal, há um mercado muito específico. Mas ambiciono e terei muito gosto em escrever mais.

O prefácio do livro, importa ainda dizer, foi assinado pelo jornalista Carlos Daniel.

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