Entrevistas

João Lança, filho de Linda de Suza, abre o coração: "Nunca quis ter a nacionalidade francesa"

Em entrevista à SELFIE, o músico João Lança fala sobre o novo álbum, o afastamento do mundo do espetáculo e o peso de carregar o título de "filho de Linda de Suza".

Como está a correr a promoção do álbum?
Muito bem! O lançamento oficial foi no dia 7 de outubro, com a editora País Real e com o agenciamento MSpecialevents. Já está disponível em todas as plataformas e chama-se "A Cor da Minha Alma".

É um álbum inteiramente em português?
Tem as duas versões. Fiz questão que assim fosse. Passei quatro meses em estúdio. Quis que quatro canções ficassem só em português, porque não sentia necessidade que houve uma versão em francês. Ao todo, são 18 temas: quatro apenas em português e sete temas com duas versões, uma em português e outra em francês. Tudo num só álbum.

Pegando no título do seu novo trabalho, qual é a cor da sua alma?
Acho que depende do momento... Sou um bocadinho como um camaleão. Vendo as notícias, atualmente, sou mais ucraniano. Sem esquecer que, no fundo, sou lusitano. A minha alma é fundamentalmente portuguesa! Agora: sou também um ser do mundo. Tudo o que se passa, atualmente, no mundo, deixa-me mais numa cor vermelha, de raiva, do que numa cor de alegria. Portanto, a cor da minha alma pode variar, dependendo do humor com que estou.

Porquê este título para o álbum e para uma das canções?
Quis mostrar que pouco importa onde se está, onde se nasce e de onde se vem. As minhas raízes são portuguesas. Estou a viver em Portugal há 26 anos. Nasci em Portugal e nunca quis ter a nacionalidade francesa.

Porquê?
Nasci português e vou morrer português. Para mim, nunca fez sentido ter dupla nacionalidade.

Em França, nunca se sentiu em casa?
Senti, mas isso é diferente... Aliás, nunca me senti emigrante em França. Quando fui com a minha mãe para França, eu devia ter três ou quatro anos. Com essa idade, não sabia o que era ser emigrante. Sempre me senti em casa em França. Sem dúvida. Eu tenho a cultura francesa. Agora, a alma foi sempre portuguesa. Sou saudade, sou fado...

Em Portugal há tantos anos, nunca teve saudades de viver em França?
Não. Vou lá com alguma frequência... Sinto-me tão bem em Portugal! E os meus filhos estudaram no Liceu Francês. Nasceram em França e vieram para cá quando eram crianças.

Então, fizeram o percurso inverso ao do pai.
Exatamente. A minha filha tinha oito anos e o meu filho quatro. Senti que era cá que eles deviam crescer.

Porquê?
Senti esse apelo das raízes... É incrível! Há coisas que não se sabe porquê. Senti que era cá que eles deviam fazer-se homem e mulher.

Como justifica esse apelo? Cresceu a ouvir falar muito de Portugal, nomeadamente da parte da sua mãe, Linda de Suza?
É engraçado, porque eu, em casa, não falava português. De vez em quando, na infância, vinha cá passar férias, em casa dos meus avós paternos. Depois, a partir dos 17, 18 anos, comecei a sentir mais esse apelo mais forte.

Quando começou a ganhar consciência?
Isso mesmo. Eu era daqueles que dizia: "Portugal? Nunca! Casar-me com uma mulher portuguesa? Nunca!" [risos]. Hoje, estou muito mais à vontade para dizer isto, porque fiz tudo ao contrário [risos]. Se calhar, eu é que criei esse destino...

Porque esteve algum tempo afastado da música?
Bom, para ser sincero, nunca estive afastado da música. Do mundo do espetáculo, sim.

Porquê?
Nunca tive uma equipa ao meu lado. Faltava-me a estrutura. E o estilo musical que faço, dito por outras pessoas, não é carne nem é peixe. Foram 12, 15 anos em que estive afastado.

E o que fez durante esse tempo?
Abri um restaurante no Areeiro, onde ficámos dez anos. A seguir, fizemos uma pausa de uns bons meses, para descansar um bocadinho do mundo da restauranção. A partir daí, conheci o que era é o mundo do management, não do showbizz mas de campanhas de grandes empresas francesas. Mas isto tudo sem nunca esquecer a música.

Ser filho de quem é também teve influência no seu afastamento do mundo do espetáculo?
Não ajudou... Sem dúvida! Muitas vezes, as pessoas têm a tendência de comparar o que é incomparável. É muito estranho, mas não posso fazer nada contra isso. É, simplesmente, deixar o tempo passar.

Mas houve alguma fase em que se zangou com isso?
Zangado, nunca. Estive um bocadinho desapontado, mas nunca senti raiva. Pensava sempre que o momento chegaria. Nunca desisti. Há uma palavra que define bem aquilo que sou: tenacidade.

Agora, o foco está na divulgação do álbum.
Sim. Vou fazer uma apresentação em Paris, no Théâtre Bobino, no dia 9 de novembro. A produção deste concerto está a ser feita por uma associação que me é muito querida: Les amis du plateau.

Gostaria de já poder contar com a sua mãe na plateia?
Se for possível, claro que sim. Seria bom.

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