Foi no Centro de Tratamento Internacional de Villa Ramadas, em Alcobaça, que José Carlos Pereira lutou contra a toxicodependência, "durante cerca de quatro meses", em 2014.
"Foi muito, muito, muito difícil, mesmo. Foi muito bom, de reconhecimento, da parte espiritual, da resiliência. Mas o isolamento é muito complicado. A privação da liberdade é uma coisa... Nem gosto de me relembrar, gosto de uma parte, mas não gosto da outra. Realmente, custou-me muito", começou por dizer o ator, recentemente, num podcast dedicado à saúde mental, do Observador.
"Não havia telefones, não podia sair. Temos sempre a liberdade de poder sair, mas temos de lutar contra essa vontade. Não podia estar com as pessoas. Há uma altura, ao fim de três semanas, que uma pessoa pensa que já está bem, que já percebeu tudo. E não é assim que funciona. Temos de vencer várias barreiras contra nós próprios. É uma prova de humildade brutal e de resiliência enorme", continuou.
Durante o tratamento, o, também, médico foi desafiado a escrever o que tinha feito de errado. "Quando andamos em roda viva, parece tudo normal e minimizamos as coisas. Escrevendo, começamos a ter consciência daquilo que se passou. É uma viagem ao nosso passado, que vamos ter que aceitar, não esquecer, mas aceitar. Temos de nos perdoar, porque vamos olhar para muita porcaria", recordou.
No momento da alta terapêutica, José Carlos Pereira revelou que sentiu medo. "Sente-se medo, porque a realidade passa a ser outra. As primeiras saídas são complicadas. Mais tarde, experimentei voltar a beber, mas fiquei com medo. Sempre fui balizado e continuo a ser. Há reuniões cá fora, que frequentava, regularmente. Até à pandemia, frequentava as reuniões semanalmente", adiantou.
Por fim, o artista admitiu que o facto de "ter ficado rotulado" foi "das coisas mais difíceis", em todo o processo.