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Após sofrer acidente de viação, João Espírito Santo regressa às corridas de automóveis: "Tudo tem uma razão de ser"

Numa entrevista exclusiva à SELFIE, o Dr. João Espírito Santo falou sobre o regresso às corridas de automóveis, no Algarve, quase três anos após ter sofrido um aparatoso acidente de viação.

Após o acidente, quanto tempo demorou até conseguir voltar a conduzir?
Depois do acidente, demorei algum tempo para voltar a conduzir. A primeira viagem que fiz foi com um amigo meu, o João Dias. Viemos até Lisboa. Quis parar em Fátima e cumprir uma promessa. Acima de tudo, foi uma viagem para perceber se tinha medo de voltar a conduzir, na autoestrada. Correu bem. Correu muito bem. E não há nada como agradecer a quem me ajudou a superar esse momento, porque, ao fim e ao cabo, são as pessoas que nos acompanham, nos momentos difíceis, que contam.

Sente, agora, mais receio?
Sim, sinto sempre receio de sofrer um novo acidente, por culpa de terceiros, o que já me aconteceu. Houve uma mota que não respeitou um sinal de STOP, num cruzamento, e destruiu-me a parte frontal do automóvel. Fiquei em choque. Por ter esse receio, hoje em dia, sou muito mais cauteloso, ao conduzir. Faço uma condução muito mais defensiva, porque tenho uma maior consciência dos riscos. Planeio muito bem as viagens, verifico sempre se está tudo bem: os pneus, a pressão do ar... Mal oiço algum ruído, vou ao mecânico... Tenho as marcas [do acidente] presentes no corpo, ainda hoje em dia, com o meu neuroma que vai viver comigo, para o resto da vida. Mas cá estou, a superar. Nós temos de vencer certos medos e superei totalmente o medo de voltar a conduzir e é por isso que estou aqui, hoje.

E para a família, como foi o processo de "voltar a andar de carro"?
Demorei um ano para conseguir voltar ao local do acidente, com a minha família. E, no dia em que passei, com a minha família, no local do acidente, chorei. Vinha com os meus três filhos, que, felizmente, nessa altura, estavam a dormir. Recordo-me, perfeitamente, de dar a mão à minha mulher e chorar. Demorei algum tempo a conseguir passar no local do acidente, porque queria fazer isso com a minha família. E foi planeado passar lá, com eles, após esse tempo, porque foi a minha família quem mais sofreu com o acidente.

Como foi tomar a decisão de voltar a correr?
O regresso às corridas é um "bichinho". Sempre disse que queria correr no Algarve. Já tinha dito isto, antes do acidente. E, simplesmente, tudo se combinou. Vinha um carro por correr, o meu cunhado disse que não ia fazer a corrida e, então, aceitei o desafio. Era uma vontade que já tinha há muito tempo: correr no Autódromo Internacional do Algarve. É um autódromo exigente, um circuito muito bonito, difícil, mas que, acima de tudo, me vai libertar de alguma situação que ainda não esteja bem resolvida, nomeadamente com a velocidade. Hoje em dia, não conduzo depressa e vou ver se consigo superar isso. É um tratamento de choque.

Como encarou este regresso às corridas? Tem receio? E a sua família também sente esse receio?
Tenho medo, muito medo de voltar a ter um acidente. Mas é por isso que tenho de voltar a superar-me, a conseguir ter esta capacidade de me superar. E superar-me é isto: é perceber que estou no local mais seguro, para conduzir depressa, para fazer curvas com carros perfeitamente preparados e testados... Tudo tem uma razão de ser. E a razão de ser desta corrida é fechar todo o processo de recuperação. A minha família tem muito receio das corridas. Aliás, o meu filho João até me pediu para não ter um acidente.

Quem vai ter a assistir?
Pedi para os meus filhos não assistirem aos treinos, porque quero, primeiro, superar-me a mim próprio. Hoje em dia, quero só que eles vejam as alegrias. E, agora, espero que venham ver-me, na corrida, se quiserem, porque o objetivo é mesmo a superação pessoal.

O que mais o atrai nas corridas de carros?
A competição, a adrenalina da velocidade e percebermos que estamos sozinhos, com o motor, e que só dependemos de nós e, por isso, temos de estar concentrados, focados e disponíveis, mentalmente, para o nosso objetivo: terminar a corrida, em segurança, e divertirmo-nos. Devia haver mais circuitos para as pessoas se divertirem, em vez de andarem feitas "loucas", nas estradas. É muito importante as pessoas conseguirem separar uma coisa da outra.

O que sente quando está na pista e o que "leva" dali para as rotinas do dia a dia?
Na pista, descarrego a adrenalina, descarrego tudo o que tinha receio - de conduzir, rapidamente. E, da pista, "levo" foco, concentração, o que é algo que aplico, no meu dia a dia. Sou muito disciplinado, desde as coisas mais simples até às mais complexas.

Qual a pista na qual mais ambiciona conduzir? E ao volante de que carro?
Gostava de correr no Jerez de la Frontera ou no Le Mans. Gostava muito. E gostava de correr com um Aston Martin. 

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