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Joana Amaral Dias: "O caso do Renato Seabra continua a ser um desassossego"

Após ter lançado, em 2019, o livro "Psicopatas Portugueses, 13 Histórias Reais de Morte, Perversão e Horror", Joana Amaral Dias apresenta, agora, a sequela e deixa um aviso: a obra é desaconselhada a "mentes sensíveis".

Por que motivo é que três anos depois, decidiu lançar um segundo livro sobre psicopatas portugueses?
O livro primeiro foi um sucesso retumbante junto do público, que, desde então, não tem parado de me pedir um segundo volume. Mas como a análise psicológica forense dos homicidas portugueses é uma fonte inesgotável - há centenas de casos arrepiantes - decidi fazer uma trilogia. Penso que assim os leitores ficarão satisfeitos e poderei continuar também a escrever sobre outros temas, como vou sempre fazendo.

Considera que, perante casos como os descritos no livro, Portugal já deixou de ser um país de "brandos costumes"?
Nunca foi. Tal epíteto foi um mito criado por Salazar - um povo que acredite que é manso mais facilmente se comporta como tal. Na verdade, o século XIX português foi dos mais sangrentos na Europa, por exemplo.

Como foi feita a seleção dos 13 casos que detalhou no livro?
O critério preside a toda a triologia. Assassinos que tenham matado mais do que três pessoas ou cometido homicídios particularmente bárbaros. Depois, naturalmente, há casos que me interessam mais do que outros, porque deixaram pontas soltas ou questões mal resolvidas - como é o caso do "Mata Sete" ou o do Renato Seabra - ambos constam deste livro segundo. 

Como decorreu o processo de investigação dos casos?
Primeiro, varro sempre a Internet, para ter um escopo amplo. Depois de escolher os eleitos, vou à caça: hemeroteca, bibliotecas, arquivos.

Entre os casos, há o crime de um filho, esquizofrénico, que acabou por matar a própria mãe. Considera que este exemplo é uma consequência extrema do desinvestimento na saúde mental, no nosso país?
Sem dúvida. O Luís do Pinhal Novo, que acabou a arrancar os olhos à mãe, era um grave paciente psicótico, mas que estava bem integrado, com uma profissão inclusivamente. Acontece que ninguém vigia estes pacientes ou dá seguimento clínico.

Já agora, a apresentação de 13 casos por livro é uma coincidência? Ou é "uma piscadela de olho" à associação habitual desse número a maus eventos?
É uma brincadeira com o 13. Mas quem ler esta triologia compreenderá melhor o que é a cabeça de um assassino, percebendo que estas sangrias não são fruto do acaso, da sorte e do azar - mas, sim, obra de longos percursos de privação e de violência.

A que se deve a escolha de apenas crimes de homicídio para a análise destas mentes perversas? É por que se trata, tal como refere na introdução do livro, do "crime-rei"?
Exato. O poder de tirar a vida a alguém é o poder maior, superior, divino. Já pertenceu aos homens traídos, aos imperadores com o verso police e police verso. Agora, é monopólio apenas de alguns Estados. E dos assassinos. 

Este tipo de crimes - e seus autores - sempre foi um tema que a interessou?
Sim, sempre. Muito antes do True Crime estar na moda, já eu queria ser psicóloga clínica forense, criminóloga. Claro que também na política não podia deixar de me interessar em particular pelos crimes de colarinho branco. Os crimes de sangue e os homicídios, em particular, são fascinantes, mas o assassino de fato e gravata - para adaptar uma expressão do Chico Buarque - tem uma complexidade também curiosa.

E a paixão pela escrita, quando surgiu?
Surgiu com a leitura. Lia muito em criança, leio muito, hoje. Depois, sempre que tropeço numa
história abandonada, ou abafada, tenho esse impulso de tentar iluminá-la como também aconteceu com o Dilúvio Sem Deus, o meu livro sobre a mais trágica noite portuguesa - nas cheias de 1967 (ocultadas, pela ditadura, e esquecidas, pela democracia).

Quais são as suas principais inspirações literárias?
Os grande escritores russos, sem dúvida.

Com algum humor, refere que este livro é “totalmente contra-indicado a quem não está sozinho em casa”. Mas, para os leitores conseguirem ficar um pouco mais descansados, como é que podemos identificar mentes perversas no nosso círculo de amizades e familiar?
Este livro segundo, sendo um trabalho de divulgação científica e não uma obra académica - também se foca em dicas muito concretas para identificar psicopatas - há um em cada dez, logo, todos temos algum no nosso anel de proximidade. É ler. E ter cuidado com os sedutores.  

São termos parecidos, mas com significados diferentes: o que são psicóticos e o que são psicopatas?
Psicóticos não distinguem o bem do mal, estão gravemente doentes e podem/devem ser tratados. Psicopatas diferenciam o bem do mal, mas não o respeitam. São perigosos e incuráveis 

Mesmo com tantos anos de experiência em Psicologia, algum dos casos investigados conseguiu perturbá-la, em especial?
O caso do Renato Seabra continua a ser um desassossego. Um homicídio bárbaro, num contexto cinematográfico e com uma peritagem forense medíocre.

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