No Instagram

Anna Eremin fala sobre depressão: "Tive a sorte de me encontrarem num carro no meio do Alentejo"

A atriz Anna Eremin abriu o coração sobre o problema de depressão que lhe foi diagnosticado há dois anos.

É a notícia que está a dominar a atualidade, no mundo dos famosos: Pedro Lima foi encontrado sem vida, na Praia do Abano, em Cascais, no sábado, dia 20 de junho.

Havendo alguma especulação sobre a causa da morte do ator, associando-se, inclusive, a um possível estado depressivo, Anna Eremin decidiu abrir o coração e falar sobre esse problema que lhe foi diagnosticado há dois anos. 

"Confesso que nunca pensei fazer isto. Faz-me muita confusão espetar a minha intimidade numa rede social. Contudo, a vida acontece, a morte acontece, e, se estas linhas tiverem o poder de mudar um destino, então bora!", começa por escrever a atriz.

De seguida, Anna Eremin relata que tudo começou na primavera de 2018, aquele que a artista considera ser "o melhor ano" da sua vida: "A casa mais bonita de Lisboa, dividida com alguém que tem a bondade nos olhos e o Mundo no coração, era eu protagonista de um espectáculo no teatro dos meus sonhos, uma novela com a personagem (provavelmente) mais marcante que tive até hoje. Tudo motivos para acordar banhada em gratidão e sorrisos. Quando o médico de família (sim! Eles também têm esse poder e essa sensibilidade!) me diagnosticou a palavra 'depressão', ri-me na cara dele. 'Burro', pensei. Cancro, 'tá-se bem, agora isto? Pensei. 'Não sou fraca!' Pensei. 'Que merda que sou! Pensei. 'Ingrata', pensei. 'Tenho tudo', pensei. [...] 'Ignorei', arrogante, as palavras dele ('vou marcar-lhe uma sessão de terapia. Pode ser tarde demais'). Arrogante, fui lá e cuspi na cara da terapeuta. Porque não sou frágil, pensei. Porque eu é que me conheço, pensei. Porque é ridículo, disse. Abri uma garrafa de vinho, bebi-a e fui dormir. Estou só um pouco cansada, pensei. E fui trabalhar, porque tenho a sorte dos poucos de fazer o que amo. Porque só se queixam os ingratos, os fracos, os burros. Não dormi. Como dormir, se a adrenalina te corre nas veias? Como não vomitar, se trabalhas horas a mais? É tudo normal, pensei. E continuava a rir. A ansiedade é normal. Todos têm. O cansaço é normal. Não faço mais que a minha obrigação e o meu amor. Depois a voz falhou numa cena e noutra. É o calor, pensei. Depois a arrogância. Ninguém me compreende, pensei, como não compreendemos ninguém. Veio a maldade, as respostas tortas. Não era normal, diziam. Deves estar parva, diziam. Depois as gargalhadas forçadas, a boa disposição desmesurada, a palhaçada, o excesso de emoção. Como não? Estou cansada, dizia. Ninguém tem culpa, dizia. E nas noites sem dormir o calor tinha culpa. E nas viagens de carro, a música não tinha volume suficiente".

"E as multidões começaram a meter medo. Como não? Muita gente no mesmo sítio nunca é uma boa ideia. E toda a gente olhava para mim de lado. Como não? Se sou uma merda. Se sou ingrata. Se não sou suficiente. E é um rodopio, uma nuvem negra. Nada do que parece é. O coração bate depressa de mais o sono nunca vem. E a vontade de parar, carregar no stop, em pausa, em rewind não se controla. E olhas ao espelho e não te conheces. E tens a certeza de que estás sozinho porque é o que mereces.... corta!", acrescentou.

"Eu tive a sorte de me encontrarem num carro no meio do Alentejo. Tive a sorte de ter pessoas num círculo próximo que sabiam que este bicho mata. Quão assustador é. Mas que tem solução. Dura, f*****, não definitiva, mas tem. É possível. Não parece. Eu juro, eu sei, não parece, mas tem. Tomo medicação há dois anos todas as manhãs. Vou ao psicólogo, vou ao reiki e tenho pessoas muito bonitas na minha vida. Eu tenho sorte, sim. Mas eu não soube aceitar ajuda. Não soube. Não tive outro remédio e estou viva só por causa disso. Se calhar devia ter contado isto ao Pedro [Lima]. Não calhou. Estou a contar-vos a vocês. Uma depressão são óculos escuros que não saem. É uma realidade paralela que não existe e está na nossa cabeça. Só. E é possível tirar esses óculos. É mesmo possível. Por favor... já aprendemos a cuidar do nosso corpo, já sabemos correr pela manhã e fazer batidos verdes. Mas, por favor... Vamos cuidar de tudo o resto antes que seja tarde de mais. É só o que vos peço. Por favor", termina Anna Eremin. 

Relacionados

Patrocinados