Jornalista Isabel Moiçó distinguida: "O que me move não são os prémios"

Isabel Moiçó falou sobre a reportagem "Um Pedaço de Ti", que recebeu especial destaque, numa cerimónia que premeia o jornalismo, na área da saúde.

A reportagem da jornalista da TVI, com imagem de Paula Fernandes e montagem de João Pedro Ferreira, retrata o mundo da doação e transplantes de órgãos, em Portugal,  e recebeu, não só o prémio Apifarma -Clube de jornalistas, como a distinção na categoria de televisão.

Em linhas breves, de que fala a reportagem?

"Esta reportagem teve 32 minutos e é sobre um mundo - porque é um mundo efetivamente - de recolha de órgãos e dos respetivos transplantes. Nós mergulhámos de cabeça neste mundo. Aliás, eu não fazia ideia do quão complexo ele era. É uma coisa absurda."

No decorrer da reportagem, qual foi o maior desafio que encontrou?

"A verdade é que os transplantes e as colheitas não aconteciam quando nós queríamos. Nunca aconteceram quando nós queríamos. Muitas vezes, nós estávamos a trabalhar na redação - porque estávamos a fazer a informação diária - e, às vezes, éramos chamados para fazer uma recolha de órgãos, ou para um transplante. O mais complicado foi conseguir gerir isto. Tínhamos alturas em que entrávamos aqui às 8:00 horas, para um dia normal de trabalho, e só saiamos no dia a seguir, às 14:00 horas. Portanto, foi muito difícil de gerir. Isto é uma reportagem que fala de vida, de vida provocada pela morte. É devido à morte de alguém que outras pessoas têm uma segunda oportunidade."

Descobriu algo que não esperava?

"Descobri que os portugueses são muito altruístas. Conheci uma família, os pais do André - que era um jovem de 19 anos, que morreu num acidente de viação - e, esses pais, tiveram a atitude mais altruísta que podemos imaginar, durante um momento de dor profunda, como é o de estarem a chorar a morte de um filho. Os pais tiveram que decidir se doavam, ou não, os órgãos do filho. E decidiram doar. A verdade é que há, todos os anos, milhares de pessoas que são transplantadas, apesar de haver uma lista de espera. Acompanhámos, ainda, o caso de uma senhora, Maria Manuela, que estava à espera de pulmões e conhecemo-la quando a saúde dela estava debilitada, mas não tão debilitada como seis meses depois, quando foi feito o transplante. O engraçado é que ela sempre disse o seguinte: «Eu sei que os meus pulmões vão aparecer. Só não sei quando». E apareceram, já ela estava no fim da linha." 

Quanto aos prémios, como é receber este reconhecimento?

"É giro. É sempre bom quando o nosso trabalho é reconhecido, mas eu trabalho há tantos anos como jornalista, há 25 anos. Não é o primeiro prémio, mas é giro, obviamente. Acumulámos dois prémios: recebemos o prémio televisão e o prémio da melhor reportagem de saúde 2016. É muito giro ver o nosso trabalho reconhecido, mas o que me move não são os prémios."