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Sara Barros Leitão: "Tive 40 cêntimos na conta por demasiadas semanas"

Sara Leitão, que iniciou carreira na série juvenil de sucesso "Morangos com Açúcar", em 2007, aproveitou as redes sociais para partilhar, com os seguidores, uma reflexão sobre o percurso de uma jovem atriz.

Sara Barros Leitão
Sara Barros Leitão

No mês em que assinala dez anos de carreira, Sara Leitão decidiu partilhar alguns pensamentos sobre as dificuldades que ultrapassou e as vitórias que conquistou, ao longo deste período. 

Com muitas passagens pelos palcos do teatro, a atriz, mais recentemente, também ficou conhecida por integrar o elenco da série da TVI, "I Love It", com a personagem Cristina Moás.

"Faz este mês dez anos que comecei a trabalhar profissionalmente como actriz. Estávamos em 2007, eu tinha dezasseis anos e mudei-me sozinha para Lisboa. Foram centenas de viagens Lisboa-Porto ao sábado no comboio das 21h30 e Porto-Lisboa ao domingo no comboio das 19h52. Durante o primeiro ano trabalhei de segunda a sábado, cerca de dez/doze horas por dia, e vinha ao Porto todos os fins de semana para passar menos de vinte e quatro horas com a minha família. Durante estes dez anos tive momentos muito felizes artisticamente, outros profundamente frustrantes. Houve alturas em que não sabia como gerir tanto trabalho, e muitos momentos em que não tinha nenhuma perspectiva de futuro. Fosse nos momentos mais áureos ou nos momentos de desespero, pensei sempre: «A única coisa que eu tenho e que não me podem tirar são os meus pensamentos, a minha consciência, os meus princípios. Vou agir sempre dentro da integridade com que acho que devo agir, e, se tudo me faltar, vou ter sempre dois braços e duas pernas para trabalhar.» A esses braços e pernas tenho muito a agradecer. Trabalhei em novelas, estudei, servi às mesas, fiz teatro, limpei sanitas, estudei, fui nomeada para prémios e nos dias seguintes fui fazer animações de festas de aniversário de crianças. Trabalhei como baby-sitter, fiz cinema, fui contra-regra para ver actores que admirava a trabalhar, estudei, trabalhei na copa de restaurantes, distribuí panfletos (milhares, talvez), estudei mais. Houve momentos em que tinha dinheiro para ir de férias e para me aguentar uns meses, outros momentos em que tive 40 cêntimos na conta por demasiadas semana. E sabem que mais? Não sou a única. Esta é a realidade de todos os jovens e não jovens actores portugueses, para não dizer do mundo. Todos os actores e técnicos são obrigados a desdobrar-se em mil e uma coisas para conseguirem fazer o que gostam. Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã e a vontade de desistir aparece todos os dias. Passados dez anos, a única certeza que tenho é que continuo a ter dois braços e duas pernas, aos quais vou, certamente, voltar a recorrer nos próximos momentos de aperto. Nada é garantido e em nenhum momento da vida podemos achar que se conquistou um estatuto e que fazer outro trabalho é indigno. Esta profissão não é uma linha vertical. Uma pessoa que apareça na televisão não está mais acima do que alguém que não aparece. Este endeusamento por pessoas famosas é a maior estupidez que assisti na minha vida. Somos todos iguais, temos inseguranças, fazemos cócó, choramos, trabalhamos: umas vezes estamos a fazer coisas que gostamos, outras vezes fazemos trabalhos que toda a gente inveja e que nós odiamos profundamente. Além disso a felicidade é uma coisa muito individual. Quantas vezes posso estar a trabalhar como actriz num projecto que me deixa infeliz, e fazer trabalhos em part-time que me enchem o coração? Ou ao contrário? É uma montanha russa. Há uns meses, estava a sair de um espectáculo no Teatro Nacional São João e uma senhora estava à minha espera na porta dos artistas. Ela quis cumprimentar-me no fim do espectáculo e perguntou: "Não se lembra de mim, pois não?". Eu fiz um esforço, mas a verdade é que não me lembrava. Ela respondeu: "Eu fui a um restaurante onde a menina trabalhava, em Esmoriz, e fiquei muito chocada por vê-la a servir às mesas, quando eu a conhecia da televisão. Eu agarrei-lhe no braço e disse-lhe: a vida vai dar a volta, vai ver. Segui a sua carreira e quando soube que se ia estrear no palco do teatro nacional, quis vir aqui vê-la. Está a ver? A vida sorriu-lhe." Eu fiquei muito emocionada com este momento, mas não tive coragem de dizer à senhora que provavelmente me iria voltar a encontrar a servi-la e que depois me iria ver novamente no palco e depois novamente a servi-la... Passaram dez anos, dez anos não é nada. Dez anos é apenas um número redondo. Resolvi criar um site onde reuno toda a informação dos projectos que faço, para que estes dez anos não se percam no google. Uso, então, esta data para divulgar esta plataforma que não é nada mais do que isto: uma colecção online do meu percurso como actriz. O resto guardo para mim e para os meus, os que vibram com as minhas conquistas e choram comigo quando falho. Para esses... nem há palavras", escreveu na página de Facebook.

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