Este não é "só" um livro de receitas, é o livro mais pessoal que lançou até hoje. Por que razão fazê-lo neste momento?
Sim, apesar de pôr sempre muito de mim em todos projetos que faço, este é especialmente autoral. Tem muitos registos fotográficos atuais e antigos, notas e receitas com boas memórias. Por que razão fazê-lo neste momento? Não há um motivo muito específico. Eu vou seguindo as minhas vontades, mas também sei ser pragmática e a verdade é que tinha reunidas muitas receitas que ainda não tinham sido editadas em livro e que eu queria que não se perdessem. Além disso, também surge como forma de homenagear as pessoas que eu amo e todas as memórias boas que tenho à mesa.
O que podemos, então, encontrar em Álbum de Receitas?
Receitas para todos os gostos, memórias, cheiros e paladares de infância, de viagens, dos meus pais, avós, amigos. Pequenos-almoços e snacks, petiscos para partilhar, receitas vegetarianas, mas também peixe, marisco e carne. E sobremesas, claro. Sou apaixonada por sobremesas.
Como foi o processo até eleger as 113 receitas?
Precisei de deixar algumas para trás. Vou-me guiando sempre pelas melhores, mais bonitas e que acrescentam mais ao capítulo onde as coloco.
Na introdução do livro, diz que "a comida tem sido poesia na sua vida". Quando percebeu isso?
Desde muito pequenina. Desde a hortelã no jardim da minha avó, da canela no arroz-doce e da manteiga que a minha avó fazia com o leite das vacas que tinha e que punha no pão saloio que era deixado pelo padeiro no portão de casa. A comida é capaz de tanto mais do que nos alimentar.
De quem herdou o amor pela cozinha?
O amor pela comida herdei de todos os meus. Não tenho ninguém que me seja muito que não goste de comer. O amor pela cozinha... Bom, talvez da minha avó Júlia e do meu pai Basílio.
Quem a ensinou a cozinhar?
Eu não cresci a cozinhar. Cresci de roda da cozinha, mas era a minha avó quem tratava dos tachos. Só mais tarde, quando saí de casa dos meus pais, é que comecei realmente a cozinhar. Infelizmente, já não tinha a minha avó a quem perguntar receitas. Mas tinha e tenho o meu pai, a quem ligava e ainda ligo muitas vezes. Ele ensinou-me muitas coisas. A minha mãe também. Que, apesar de não ter grande amor pela cozinha, sabe cozinhar tudo. Mas o que acho que mais me ajudou a aprender a cozinhar foram todas as diferentes experiências gastronómicas que os meus pais me proporcionaram. Eles educaram-me o paladar. E isso vale muito para quem cozinha. O resto, se tiveres mão e vontade, chegas lá!
E sempre soube cozinhar bem?
Não soube cozinhar sempre bem e ainda há muita coisa que não sei. Farto-me de pesquisar, testo muito, não tenho formação académica. Tudo o que sei, ou pergunto, ou chego lá por tentativa e erro.
Quando pensa em cozinha, que sabor lhe vem logo à cabeça?
Refogado.
A cozinha pode servir de terapia?
Completamente. Mas também é capaz de tirar uma pessoa do sério [risos].
Em sua casa, a Filipa é a "dona" da cozinha?
Em minha casa, sou a dona da cozinha nos meus dias. Tentamos dividir as tarefas ao máximo. Queremos educar os nossos filhos para a igualdade.
Quem é o provador mais crítico e exigente da Filipa?
Eu.
Os filhos já cozinham?
Não. Mas ajudam. Principalmente nos pequenos-almoços ao fim de semana.
Qual o prato que eles mais gostam que a Filipa prepare?
Lasanha, bacalhau assado com batatinhas a murro, bacalhau à Brás, sopa suja, bolo de maçã, peixe ao sal, guacamole, panquecas gordalhufas... Agora, não parava! E muitas destas estão no livro.
A Filipa tem um prato preferido?
Não tenho. Adoro comer. Há muita coisa que me faz feliz.
E um que não possa ver à frente?
Dispenso aipo.
O marido cozinha bem?
Cozinha os básicos e safa-se bem. Mas não é algo que adore. Acho que, para se cozinhar bem, tem de se gostar. E o que ele mais gosta na cozinha é fora dela. É fazer grelhas! Ah! E preparar tábuas. O Jorge é fortíssimo no empratamento de petiscos.
Conquistou o marido pelo estômago?
[Risos] Não. Conquistei pelas minhas longas pernas e o meu QI acima da média.
Há algum prato seu de que o marido seja particular apreciador?
Todos os pratos do Sul dizem-lhe muito, como bom alentejano que é. Mas ele é ótima boca. Estamos super alinhados nos gostos gastronómicos e somos os dois bastante ecléticos.
É fácil manter a boa forma física ao fazer tantas iguarias?
Não, é dificílimo. Tenho de despachar muita coisa que faço para amigos e vizinhos, senão já não andava, rebolava. Sempre fui um L, às vezes XL. E, quando acho que o tamanho já está demais, sou acompanhada pela minha nutricionista. É uma luta constante para encontrar o equilíbrio. Mas não vou largar a profissão dos meus sonhos só porque ela não me ajuda a enfiar-me nos cânones de beleza ditados pela sociedade.