Entrevistas

Zulmira Garrido recorda a morte trágica do filho: "Fiquei cá, não sei porquê"

Em entrevista à SELFIE, Zulmira Garrido recorda os dias mais negros que viveu e a dor irreparável que carrega desde a perda do filho, Eduardo, em novembro de 2022.

Para Zulmira Garrido, o dia em que perdeu o filho, Eduardo, em novembro de 2022, foi o momento em que perdeu também uma parte de si — e o mundo deixou de fazer sentido.

"Com a partida do Eduardo, partiu um bocado de mim, aliás, eu também fui com ele. Fiquei cá, não sei porquê, nem para quê, aliás, eu não queria ficar. Na altura, achei mesmo que queria morrer, porque foi tudo muito complicado", assumiu,

Eduardo era DJ e estava prestes a mudar-se para o Qatar para viver um sonho. Na altura, Zulmira Garrido encontrava-se no Egito com o ex-marido, Jesualdo Ferreira. À distância, acompanhava a viagem do filho: "Ele ia fazer Lisboa-Istambul, Istambul-Doha, mas o voo saiu atrasado de Lisboa, portanto, já não apanhou a ligação e ficou em Istambul sem conseguir embarcar. Acho que é o destino, é o que tem que ser... "

O contacto com o filho manteve-se, até ao momento em que o silêncio se instalou. Zulmira Garrido recorda-se como se fosse hoje: "Eu estava sempre em contacto com ele. No dia a seguir de manhã, ainda estava tudo bem, ele estava ótimo, fez inclusivamente vídeos do hotel onde tinha pernoitado em Istambul, e iria embarcar ao final do dia. Ao final do dia, liguei-lhe e ele já não me atendia, comecei logo a ficar em pânico. O meu coração de mãe ou instinto de mãe dizia-me que alguma coisa se estava a passar, porque não era muito normal isso acontecer. Quando chegou à hora de ele aterrar em Doha, eu estava num casamento no Egito mas sempre a tentar entrar em contacto com ele. Comecei a entrar em pânico, porque não era mesmo normal o que se estava a passar, e o que é certo é que ele não chegou a Doha no dia a seguir. Liguei para o hotel para onde ele ia e ele não tinha chegado... Aí, começou o terror."

Desesperada, decidiu viajar para a Turquia para procurar o filho: "Não conseguíamos localizá-lo. Fizemos tudo e mais alguma coisa e ele não foi localizado em Istambul, falámos com a embaixada e nada, até que resolvi viajar, porque eu tinha que encontrar o meu filho, nem que tivesse de percorrer Istambul inteiro. Vim do Egito para Lisboa e daqui para a Turquia."

Mas foi durante uma escala em Frankfurt que recebeu a notícia que lhe gelou a alma: "Vejo que tenho uma mensagem a dizer que o Eduardo tinha sido localizado e que estava hospitalizado em Istambul. Imaginem a minha viagem para Lisboa... Quando cheguei a Lisboa, voltei imediatamente para Istambul e aqueles dias foram um terror."

O que encontrou no hospital deixou marcas impossíveis de apagar: "O meu filho estava numa unidade hospitalar que não era nada. Ele sentiu-se mal no aeroporto, entretanto o INEM levou-o para aquele hospital miserável, onde o mataram, que foi isso mesmo que fizeram, e não me deixaram tirá-lo de lá. Esteve lá durante cinco dias, com os documentos, porque foram os próprios que me entregaram tudo, mas não contactaram ninguém, nem da embaixada, nem nada. Não sei porquê, eles queriam dinheiro, tanto que, quando eu cheguei lá, ele estava à espera de ser operado a um aneurisma, sedado, e não lhe fizeram nada enquanto eu não chegasse para pagar a cirurgia. Pronto, aconteceu o que aconteceu. O meu filho morreu por negligência, o meu filho foi assassinado na Turquia. Eu assisti a tudo o que se passou e foi horrível. Nem gosto de falar sobre isso, porque fico doente, fico desfeita. Foram os dias mais negros da minha vida."

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