Crónicas

Vera Xavier: "Venho com a raiva sagrada de quem está cansada de ver meninas|mulheres violadas, filmadas, expostas - e silenciadas"

Chamem-lhe fúria, chamem-lhe histeria - nós chamamos-lhe revolução. Com uma mão cheia de fogo e outra de ternura, a Mulher já não pede licença. Levanta-se, transforma, protege, e com ela… levanta-se o mundo.

LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida
  • 7 abr, 14:30
Vera Xavier
Vera Xavier

Esta semana… não venho serena.

Não venho com metáforas suaves nem com poesia redentora. Venho com a raiva sagrada de quem está cansada de ver meninas|mulheres violadas, filmadas, expostas - e silenciadas.

 

"A raiz está muito mais funda. A raiz está no medo"

 

Sim, em Portugal. Sim, outra vez. Sim, com 16 anos.

Este caso, infelizmente, não é isolado. É um eco. Um espelho de uma sociedade entorpecida. Um sintoma de um problema muito mais profundo.

A raiz está muito mais funda. A raiz está no medo. Medo de quê? Do feminino. Do poder que ele representa. Do crescimento da mulher independente, que já não precisa de proteção nem sustento. Do brilho das meninas que sabem o que querem, que se conhecem, que falam alto - e que não pedem desculpa por existir.

O que se passa na mente de alguns rapazes - sim, rapazes - para que só consigam "ter" uma mulher se for à força, em grupo, filmando e partilhando como troféu? O que se passa é medo. Um medo inconsciente. Um medo que vem do fundo da História. Um medo que diz: "Se não for à força, eu jamais terei uma mulher assim."

 

"Estamos a viver uma transformação social profunda. Um tempo inquietante"

 

Como é que o homem responde ao estrondoso, imparável, inevitável crescimento do feminino? Com violência. Com força física. Com humilhação. Com ataque em grupo - como os caçadores de outrora. Mas, agora, caçam para alimentar o ego frágil. E esfomeado.

É aterrador, para muitos deles, perceber que as universidades já não são o seu território exclusivo - estão cheias de mulheres, determinadas, brilhantes, a ocupar todos os lugares com mérito e sem pedir licença.

Estamos a viver uma transformação social profunda. Um tempo inquietante. O patriarcado está a ruir - mas o matriarcado ainda não chegou. Estamos no meio. No vácuo. E muitos homens não sabem o que fazer com isso.
Já não são os provedores. Já não sustentam a família. Já não têm o domínio garantido. Então, quem são eles? Qual é o seu papel nesta nova sociedade?

Alguns estão perdidos. Outros estão revoltados. E outros… estão perigosos.

Tenho falado disto há anos. Tenho alertado que esta transição podia - e devia - ser mais suave, mais humana, mais consciente. Mas, para isso, era preciso que nos ouvissem. Não ouviram. E parece que muitos homens não a vão aceitar de bom grado.

Terão medo de quê? De vingança? De quê? Têm a consciência pesada? (contêm ironia)

Por isso grito, em plenos pulmões, que as nossas meninas devem, desde cedo, praticar artes marciais ou qualquer outra forma de defesa pessoal. É uma questão de sobrevivência. É uma questão de dignidade. É uma questão de tempo.

 

"Esta crónica é um alerta. Uma oração de guerra e uma carta de amor às mulheres que não se calam"

 

Foi bom ler a Clara Ferreira Alves a dizer o mesmo. Não sou a única maluquinha. E talvez - só talvez - muitos rapazes deviam fazer… dança. Sim, dança. Para aprenderem a estar confortáveis no corpo. Para aprenderem que contacto não é domínio. Para reaprenderem a tocar sem agredir.

Os responsáveis têm de tomar medidas fortes para que estas situações sejam evitadas. E aos pais… nem consigo imaginar a vossa dor. Mas talvez seja altura de uma reflexão profunda sobre o que pode ser melhorado na educação que estamos a dar. Será que as crianças devem, de facto, ter acesso a smartphones tão cedo? Vejo pais que dão gadgets aos filhos para os entreterem - será esse o caminho ou estaremos a adormecer a consciência em troca de silêncio fácil?

Esta crónica é um alerta. Uma oração de guerra e uma carta de amor às mulheres que não se calam.

Porque se não gritarmos agora 'PERIGO'… quando o faremos? E se não protegermos as nossas irmãs… quem protegerá?

Vera Xavier
LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida

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