Crónicas

"Se sou feminista? É evidente que sim!", por Vera Xavier

Crónica para quem ainda acha que é um insulto.

LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida
  • 3 jun, 13:19
Vera Xavier
Vera Xavier

Punchline: Sou feminista, sim. E se isso te incomoda… talvez estejas mais perto do problema do que da solução.

Claro que sou feminista. Não por militância cega nem por modas de Instagram, mas por decência.

Sou feminista porque não me esqueço que há 30 segundos, em Teerão, em Cabul ou em certas esquinas das nossas próprias cidades, as mulheres podiam sair à rua de saia leve e hoje não podem nem mostrar o branco dos olhos. Num mundo que deu tantas voltas, parece que algumas cabeças continuam a girar no sentido errado.

Sou feminista porque não aceito que a liberdade da Mulher seja tratada como um dado adquirido. Ela foi conquistada a ferros, a prisão, a fome, a solidão, a chacota pública.

Beatriz Ângelo, Simone de Beauvoir, Malala, a tua avó e, com sorte, até a tua mãe, todas fizeram o que podiam. E nós?

Vamos mesmo usar a liberdade para dizer que "isto do feminismo já chateia"?

"Sou feminista porque não aceito que a liberdade da Mulher seja tratada como um dado adquirido."

I beg your pardon? Chato é ainda ter de explicar o óbvio em 2025. É incrível que ainda se esteja a discutir este tema nesta altura, surreal. 

Sou feminista porque vejo miúdos e… miúdas a idolatrarem misóginos mal-amados de microfone na mão, como se fossem gurus iluminados.

Coitados, digo eu. São meninos com feridas mal resolvidas, provavelmente criados sem colo, sem espelho, sem chão - mas com wi-fi.

E atenção: eu também não fui criada a algodão doce. Também tive uma infância com falhas, ausências e silêncios.
Mas fiz terapia e não um podcast.

Ser boa pessoa é uma escolha. Não é genética, não é destino, não é karma. É decisão.

É uma escolha mais provável quando o córtex pré-frontal já amadureceu, é certo, e deixámos de viver ao sabor da amígdala, essa parte do cérebro que adora tretas fáceis cheias de testosterona e teorias da conspiração. MAS, deve haver momentos em que a alma berra lá de cima qualquer coisa como: Ó criança, pensa lá uma beca! Isso soa bem? Faz-te sentir bem? A tua mãe ficaria orgulhosa de ti, a tua avó?
Por isso, sim. Sou feminista com gosto, com memória e com futuro.

"Ser boa pessoa é uma escolha. Não é genética, não é destino, não é karma. É decisão."

Sou feminista com salto alto e cérebro afiado e atento.

Com amor pelos homens conscientes e uma certa comichão pelos que ainda acham que isto é uma guerra de sexos.
Porque feminismo não é superioridade - é paridade.

E quem não percebe isto… ainda está a tentar fazer fogão com pedras.

Mulher ou homem, se ainda não és feminista, algo de profundamente desalinhado se passa contigo. Ainda não compreendeste que somos opostos complementares, não adversários. Ninguém é melhor. Ninguém é pior. Somos diferentes e, por isso mesmo, indispensáveis uns aos outros.

"Sou feminista com salto alto e cérebro afiado e atento."

E talvez esteja aqui todo o busílis: há quem ainda confunda equidade com rivalidade.

Porém, quem está em paz consigo, não precisa de rebaixar ninguém para se sentir inteiro.

E quem ama à séria, não teme o poder do outro - admira-o.

Vera Xavier
LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida

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