Crónicas

"Eu não sou exigente - tenho padrões", por Vera Xavier

Não é exigência. É critério. E critério salva auto-estimas… e vidas.

LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida
  • 16 abr, 16:05
Vera Xavier
Vera Xavier

Um dia disseram-me: "Tu deves ser exigente…" Respirei fundo e respondi com um sorriso de monja enigmática: "Não, meu querido. Eu tenho padrões." E acrescentei mentalmente: não se nota, troll de jardim zen?

Sim, é verdade. Já não me contento com frases feitas ou convites para "Netflix and chill" de alguém cuja biblioteca emocional se resume a três volumes: futebol, finanças e teorias da conspiração mal enjorcadas. Também não fico impressionada com carros nem com a habilidade de citar o Dalai Lama… fora de contexto. ("Se amas alguém, deixas-me ir…" - Por quem sois! Preferes ir de trotineta ou patins?) Ah, e essa frase é de Sting.

Eu não sou exigente. Apenas aprendi que há uma diferença abismal entre estar apaixonada e ser ingénua, entre ter empatia e ser um tapete. E aprendi da forma mais bonita (e mais dura): sozinha.

 

"Eu não sou exigente. Apenas aprendi que há uma diferença abismal entre estar apaixonada e ser ingénua"

 

Porque nunca aceitei migalhas emocionais. Frases como "Não estou à procura de nada sério" recebiam de mim um sereno: "Nem eu! Tira daí a ideia." — e pronto, desarme completo. "Não tenho muito tempo livre…" — ao que respondia: "Pois, mas eu ocupo espaço. Tens 10 segundos para decidir e deixava-lhe a minha cuequinha no bolso do casaco." Era pura magia como o tempo aparecia…

Nunca me fascinaram os desafios do tipo "Vou conquistar-te, vais ver! Vais comer na minha mão!" I beg your pardon? A ideia não era apaixonarmo-nos e escolher alguém que nos queira tanto quanto o queremos? Joguinhos… ultrapassam-me. A sério, isso é charme ou viste demasiados episódios do "Big Brother"?

 

"A ideia não era apaixonarmo-nos e escolher alguém que nos queira tanto quanto o queremos?"

 

Irmã, imagina que dizias a um homem que, na morada tal, ele ia encontrar um milhão de euros. Achas que ele não ia a correr?! Então pensa comigo: quando ele te diz que te liga para a semana, ou que se encontram "em breve"… isso é amor? É entrega? Ou é o GPS emocional dele que está avariado? É nem paixão é. Um homem apaixonado faz tudo.

Temos de aprender a ler o que é dito, o que é calado e, acima de tudo, o que vibra nas entrelinhas. Quando as minhas clientes me dizem, entre lágrimas: "Ele ainda não escolheu com quem quer ficar…" Eu respondo com o sorriso mais doce que tenho: "Escolheu, sim." Uma não resposta é uma resposta. E geralmente vem embrulhada num "vou só ali viver a minha crise existencial e já volto" ou "Vou continuar com a vidinha que tenho mesmo sendo infeliz."

 

"Temos de aprender a ler o que é dito, o que é calado e, acima de tudo, o que vibra nas entrelinhas."

 

Sempre soube que o amor não se mendiga. Eu vi. Eu presenciei. Ele constrói-se, escolhe-se, renova-se. Portanto, se alguém não está à altura… agradeço e sigo. De salto alto, playlist poderosa - a Daniela Mercury ajudou-me imenso - e alma limpa.

Medo da solidão? Tenho mais medo da má companhia, do silêncio gritante, do desrespeito mal disfarçado, da insanidade que brota na solidão acompanhada — essa, sim, é letal.

A solidão é liberdade mal gerida. Temos tanto medo da liberdade… talvez porque, lá no fundo, sabemos que ela pode ser maravilhosa. Especialmente quando ninguém tem o teu controlo remoto.

E o mais bonito — e irónico — é que é possível ser livre dentro de uma relação. Desde que seja uma relação madura, saudável, na qual o respeito não seja negociável.

 

"A solidão é liberdade mal gerida."

 

Eu quero - para mim - uma presença inteira. Alguém que saiba conversar, não competir. Que ouça o que digo… e o que silencio. Que esteja resolvido. Ou, vá, pelo menos, desperto e em processo. Sem fantasmas no armário. Ou com eles, mas domesticados.

E se isso é ser exigente? Então, serei. Com gosto. E sempre com batom vermelho.

Porque aprendi que quem me chama exigente… é, geralmente, quem não consegue sequer alcançar os mínimos olímpicos.

Vera Xavier
LifeCoach, Hackeadora de Destinos & Criadora de Novas Histórias de Vida

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