"A Tássia Camargo perdeu uma filha aos dois anos", começou por escrever Pedro Chagas Freitas, no início do emotivo texto que dedicou à atriz brasileira, antes de acrescentar: "Não há metáfora que aguente isto, não há anestesia para essa amputação. Quando uma mãe perde um filho, não enterra uma criança; enterra-se a si própria em várias camadas. Ninguém volta. No máximo, continua-se."
"A Tássia podia ter ficado ali: soterrada. Podia ter ficado amarga, seca, opaca. Podia ter olhado para o mundo como se tudo fosse uma ofensa pessoal. Em parte, seria justo. Mas não. A Tássia escolheu o improvável: ser ainda mais humana, ainda mais intensa: ainda mais imensa", continuou o escritor, elogiando a artista brasileira.
De seguida, Pedro Chagas Freitas relatou algo que o marcou: "Durante o internamento do Benjamim, em plena sala de espera da incerteza, houve poucas presenças tão constantes, tão generosas, tão absolutamente comoventes. Raros foram os dias em que a Tássia não escreveu, não perguntou, não quis ajudar. Com palavras, com energia, com atenção verdadeira. Nunca decorativa, nunca forçada. Genuína: dolorosamente genuína. Falou-nos do que viveu, da sua menina, da sua Maria Júlia, que onde quer que estivesse estava a cuidar de nós; falou-nos do que sentia: das vibrações que o Benjamim lhe transmitia, da beleza do seu olhar, da esperança que sentia nele. Estava a dizer-nos que procurava proteger, à distância, a vida de uma criança como se fosse a dela. Talvez fosse. Quem perdeu uma filha pequena guarda um radar, uma forma de escuta que os outros não têm."
"Ainda hoje, pergunta por ele, pergunta por nós. Um gesto simples, que vem de um abismo. Quem vem do abismo e ainda assim é luz é um milagre. Ou é a Tássia. Vi-a pela primeira vez em 'Tieta': o Brasil parava para a conhecer. Ali, percebi que era uma atriz maior. Hoje, percebo que é uma alma rara", prosseguiu o escritor, antes de rematar: "Obrigado, Tássia. Pela arte, claro; mas, acima de tudo, pela coragem de continuares a iluminar."
