Depois de emocionar o público com "A Revolução do Silêncio", espetáculo bilingue que une língua gestual e portuguesa oralizada, Sofia de Portugal partilha o impacto que a peça teve - tanto em quem a viu como em quem a fez. Fala da importância de abrir caminho para a diversidade no teatro, da alegria de interpretar Esmeralda em "A Noite" e da eterna dualidade entre ser atriz e encenadora. Com uma carreira em constante reinvenção, a artista, de 53 anos, mostra que continua fiel à criança sonhadora que começou a fazer teatro - e que ainda tem muito para dar - sem esconder o desejo de voltar a trabalhar em televisão.
Esteve recentemente em cena com a peça "A Revolução do Silêncio". O que representou para si? E como foi recebida pelo público?
"A Revolução do Silêncio" teve um forte impacto no público, que ficava em grandes grupos, já cá fora, à espera dos atores para poder manifestar o seu agrado. Foi muito gratificante fazer este espetáculo. Foi um espetáculo sonhado e concretizado com muita luta e amor.
O teatro, é normalmente, uma arte de expressão, de espalhar a palavra e, por vezes, nada silencioso. Como foi fazer a peça com estas ausências?
Este espetáculo é bilingue, tem língua gestual e língua portuguesa oralizada, mas é sempre no silêncio e no ver de fora que o Teatro se realiza.
Acha que a peça "A Revolução do Silêncio" pode vir a abrir portas?
Tenho a certeza de que este grupo de atores bilingues têm feito um percurso novo e de que temos aberto muitas portas. Semeamos a riqueza da diversidade. Talvez por isso, sejamos quem menos colhe, mas semeamos e abrimos caminhos e isso devolve-nos a alegria da concretização. É necessário haver uma programação mais diversificada e que os espaços públicos cumpram programações inclusivas.
O que nos pode contar sobre a sua nova personagem em "A Noite"?
Eu faço o papel da Esmeralda, nas digressões de "A Noite". Sou filha de um capitão de Abril. Celebrar essa noite em palco dá-me muito prazer. A liberdade é um bem inegociável.
Atriz ou encenadora? O que a preenche mais? Seria capaz de escolher apenas uma?
Quando represento, divirto-me como uma criança. Quando enceno, estou a tomar conta de todas as disciplinas que o teatro congrega: dirijo os atores, conto a história, balizo toas as áreas para que tenhamos uma mesma linguagem artística, sinto-me sempre mais mãe. Quando estou no papel de atriz, sinto-me mais filha. Gosto das duas posições.
Que planos tem para 2025 que nos possa contar, no campo pessoal e profissional?
Para 2025, como atriz, continuo com "A Ratoeira" e o nosso maravilhoso Ruy de Carvalho, e com "A Noite". Como encenadora, vou fazer uma coencenação com uma equipa incrível, mas não posso revelar já.
Algum plano passa pela televisão? O último projeto na TVI foi a novela "A Única Mulher", em 2016. De que sente mais falta quando está mais afastada? Gostava de ter mais oportunidades em TV?
Gostava de voltar a fazer televisão. Tenho algumas saudades. A Televisão é a arte dos rápidos.
O que é que lhe falta fazer?
Faltava-me escrever, mas, nos últimos dois anos, comecei a escrever Teatro. Adoro escrever, é um lado meu menos desenvolvido, mas que está a crescer. Sinto-me mais feminina na escrita do que na encenação, é divertido constatar isso.
Olhando para trás, guarda algum arrependimento? Algo que fizesse diferente?
Há muitas coisas das quais me arrependo. Sempre fui muito impulsiva e sei que essa característica condicionou muitas oportunidades.
O que diria à Sofia da sua infância/adolescência?
A Sofia da infância é quem faz teatro e quem canta. Ela continua viva em mim. Digo-lhe sempre para não perder o sonho. À Sofia adolescente e rebelde, digo para ter calma, para não falar antes de pensar. Mas foi essa adolescente que fundou grupos de teatro e viajou... por isso, peço que esse fogo nunca se apague.
É hoje a mulher que sonhava ser?
Cada sonho concretizado e tudo o que nunca foi são pilares da minha identidade.
Onde e como se imagina daqui a 5/10 anos?
Daqui a dez anos, quero ter sonhos. Fogo. Água. Terra. Ar. E amigos. E Teatro.