TVI

Sandra Felgueiras faz profundo desabafo: "Eu jamais terei medo"

Crítica em relação ao estado da imprensa e da democracia, Sandra Felgueiras usou as redes sociais para fazer uma profunda reflexão e deixar um apelo aos seguidores.

No Facebook, Sandra Felgueiras partilhou um longo desabafo "sobre o estado deplorável da imprensa e da democracia".

"O país não está à beira do descalabro apenas porque os cidadãos perderam a confiança nas instituições e nos políticos que os governam. Daí estarmos nesta situação inédita de termos um triatlo eleitoral à porta, ainda por cima recambolesco", começou por escrever a jornalista da TVI, antes de acrescentar: "O país está assim pela falta de escrutínio real e pela promiscuidade constante entre diretores de alguns órgãos de informação que, em conluio com outros pagos por avenças para serem comentadores, acertam estratégias com alguns políticos."

"Parece a era Donald Trump?", questionou Sandra Felgueiras, respondendo logo de seguida: "Não, somos mais uma espécie de Venezuela armada em Paris. Uns agentes envergonhados que tratam os frontais por loucos para alimentar o sistema que os beneficia e empobrece o resto da população. E não me refiro só à falta de emprego, de casa e de uma escola digna. Falo, também mas não só, do depauperamento a que assistimos na Global Media que tem um efeito imediato: limitar a capacidade intelectual dos leitores."

"A falta de qualidade, cada vez mais visível, mede-se, também, pelos ordenados miseráveis que se pagam a pessoas qualificadas que estudaram quatro anos na universidade para não receberem sequer um salário. Efeito dominó? Cada vez mais pessoas acreditam em fake news, porque as notícias deixaram, muitas vezes, de fazer sentido e as redes sociais, através de Inteligência artificial, dão respostas ao que procuram. Respostas quase sempre falsas, mas estudadas para fazerem sentido. E assim o mal prospera. Com o silêncio dos bons. E quem deveriam ser os bons em democracia? Nós, aqueles a quem confiamos o dever de informar, mas que não prestam contas dos erros que cometem, porque quem os pode investigar são colegas. E colegas que investigam colegas são...maus colegas. Pois, comigo nunca será assim", assumiu a jornalista.

"O bem e o mal não vestem camisola. E, acima de tudo, porque acredito nisto: o país chegou onde chegou porque muitos de nós, jornalistas, permitimos nivelar os assuntos sérios pela mediocridade que passou a ter audiências e pactuamos criminosamente com o inaceitável. Ao abrigo dessa máxima que me envergonha, mas que tanto ouvi de que damos a notícia 'porque é sexy ou porque vende'. Vende? Talvez. Mas à custa da exploração sentimental e da vulnerabilidade. E também porque, à custa do 'roubo' permanente das notícias dadas no dia anterior pela imprensa séria, se cria a ideia de que se está a dar algo novo, quando, em bom rigor, é só mais um enlatado requentado. Aliás, basta fazer um exercício simples. Liguem todos os canais às 20h e vejam as aberturas. Comecem hoje!", apelou Sandra Felgueiras.

"Zapping pelos quatro canais generalistas: RTP, SIC, TVI e CMTV. Sim, porque a CMTV não é um canal de notícias, apesar de se comparar, por estar no cabo, com os canais de notícias. Ela está registada como um canal generalista, num país com cobertura de cabo de quase a 100%. Mas acha que 5% de share contra 17% da TVI é um grande resultado. Não acha, na verdade. Mas é o marketing disponível", acusou a jornalista, frisando: "A CMTV apenas dá mais notícias, porque as notícias são o parente pobre de qualquer televisão. Custam muito menos do que qualquer programa. E um canal low cost tem de funcionar assim."

"Façam este zapping e contem quantas notícias sobre assuntos sérios veem onde, e quantas histórias do dia anterior veem onde ou, simplesmente, vejam quem passa horas a especular sobre o que não fazem a menor ideia que aconteceu, transformando o jornalismo num reality show, já que não podem fazer um 'Big Brother'. Vejam quem faz o quê. No dia seguinte, abram as capas dos jornais e reflitam sobre a diferença", apelou, novamente, Sandra Felgueiras, antes de continuar: "Depois deste exercício simples que vos peço, pensem nos vossos filhos. E lembrem-se que educar não é dizer que sim a tudo. Ceder ao fashion e trendy como os miúdos agora adoram dizer. Pensem no que lhes faz bem. Ensiná-los a consumir boa informação e não os deixar viciarem-se em 'lixo' digital e audiovisual é tão importante como explicar-lhes que devem preferir comida saudável."

"Na última década, a comunicação social foi empobrecida a um ponto tal em que os jornalistas passaram a ter medo de dizer o que eu aqui escrevo. Aliás, viu-se essa miséria de congresso de jornalistas onde só se falou do politicamente correto. Mas eu jamais terei medo", afirmou, taxativa, Sandra Felgueiras, antes de frisar: "Por uma razão simples. Sei quem sou. Sei que tudo o que conquistei foi por mérito. Sei o quanto estudei e as notas que tive. Toda a minha vida. Sei os obstáculos que me colocaram injustamente e sei como os venci. Com carácter. Com justiça. Com vontade de querer um país onde só a meritocracia sirva de motor à sociedade. É isto que ensino à minha equipa e a todas as que tive. É isto que dou de exemplo à minha filha. Era bom que todos fizessem este exercício simples. Pelo menos durante uns dias. Talvez percebessem melhor quem é quem na pantalha. Portugal precisa de uma cidadania ativa. Comece hoje. Não deixe para amanhã. E já agora, obrigada pela audiência. É sinal de que começam todos a perceber a diferença. Mas precisamos de consistência. Ou seja, precisamos de si."

Relacionados

Patrocinados