Este apagão foi diferente. Porque foi um apagão geral, um apagão que, em diferentes escalas, nos afetou a todos.
Não afetou só o vizinho, ou o/a colega de trabalho, ou o primo ou uma comunidade de amigos, assim chamados.
Afetou-nos a todos.
Ficámos literalmente sem energia, ficámos sem poder comunicar, ficámos sem combustível, ficámos até sem poder consumir, nem que fosse pela simples razão de só contarmos à mão com cartões para (não) pagar.
Ficámos sem jeito, tipo órfãos, sem eira nem beira, à procura dos nossos, sem GPS, sem um pombo-correio e ainda por cima na dúvida sobre o tempo que podíamos ficar às escuras, sem circular, sem telefonar, sem poder ligar o fogão ou abrir a torneira, sem ligar a televisão ou colocar o telemóvel a carregar e estar na net.
"Cada vez sabemos menos o dia de amanhã."
De repente, com o apagão, estávamos a dar conta das nossas dependências, das nossas fraquezas, e de uma certa forma de vida que, se calhar, é o produto dos erros em que nos multiplicámos para viver uma vida que não é mais do que o somatório das nossas cegueiras.
Talvez a luzinha que aqui se vê a iluminar este texto seja apenas um sinal de que estamos a ir por um caminho vesgamente errado. E isto pode não ser nada senão o começo de algo muito pior. Para ricos, para pobres, para quem tenta sobreviver à míngua de alguns princípios e para aqueles que se acham donos de tudo, até do Mundo.
Cada vez sabemos menos o dia de amanhã e em vez de gastarmos a energia em coisas supérfluas devíamos pensar no que está ao nosso alcance para parar este halo de impotência, de tão humilhante dependência e até de destruição.