Entrevistas

Entrevista a Rui Oliveira: das memórias de infância às inconfidências sobre Manuel Luís Goucha

A SELFIE esteve à conversa com Rui Oliveira sobre o projeto que acaba de lançar com Manuel Luís Goucha.

Acaba de lançar um livro com Manuel Luís Goucha, À Moda do Rui - Receitas fáceis e deliciosas para o dia-a-dia.
No fundo, são receitas que fiz durante a minha participação no programa "Goucha".

As pessoas iam pedindo-lhe muito este livro?
As pessoas ficavam muito entusiasmadas e seguiam muito essa participação no programa. Então, muitas delas mandavam-me mensagens e diziam-me: "Tem de lançar um livro!". É, de facto, um livro que vai ao encontro daquilo que são as atuais condições financeiras para as famílias todas. São receitas muito práticas, que qualquer pessoa pode executar. Está muito bem explicado, porque quem escreveu foi o Manuel Luís. Foi ele quem fez o favor de compilar aquilo tudo. É muito simples agarrar no livro e seguir a receita, porque não há nada de complicado.

Aliás, essa é uma das características da sua cozinha.
Dou primazia a uma cozinha de família, com produtos nacionais e de época. É importante que possamos comer sempre produtos da época, tentando evitar tudo o que é industrializado. Sei que é difícil, porque são mais baratos, mas não devemos abusar dos produtos industrializados.

Como está a ser a recetividade do público?
Está a ser ótima! Recentemente, tive a notícia de que é o primeiro livro no top da Bertrand. Ao meu lado, está a minha querida Helena Sacadura Cabral.

Esse lugar cimeiro é sinal de quê?
Acho que é sinal de que, de facto, as pessoas queriam este livro. Por outro lado, acho que as pessoas gostam de nós, sobretudo deste casal. Somos transparentes, não gostamos de provocar ninguém, somos normais... Portanto, acho que as pessoas gostam desta brincadeira, desta picardia que, por vezes, nós mostramos.

Este livro é dedicado à sua mãe. Porquê?
Porque, na realidade, foi ela que me ensinou. Eu não sou um cozinheiro de estudo, ou seja, não frequentei um curso para o ser. Mas tive muita educação a nível de palato e de memórias de sabores que me foi incutido por ela. Éramos muitos e, normalmente, ela tinha de fazer uma gestão muito criteriosa.

Eram quantos irmãos?
Dez. Atualmente, somos nove. Portanto, entre os mais novos e os mais velhos, havia uns que não comiam uma coisa e outros que já comiam tudo. E introduzir os alimentos nos mais novos é sempre um bocado difícil. "Ai, não gosto de feijão verde. Ai, não gosto de favas. Ai, não como isto. Ai, não como aquilo." Mas, a pouco e pouco, foi-nos introduzindo esses alimentos e educando o palato. Mais tarde, na Bélgica, a vida dá-me a hipótese de trabalhar numa cozinha, onde cheguei a ser chefe de cozinha. Claro que, depois, apurei, porque fui confrontado com uma cozinha completamente diferente. A partir daí, comecei a compreender que o que temos para criar um prato são as nossas memórias de sabores que vamos guardando.

Há um sabor que marca a sua infância?
Sim. O arroz doce da minha mãe, cremoso. O que nós mais gostávamos era esperar que ela tirasse o arroz para a travessa ou para os recipientes e ficar o tacho para rapar. Até quase que lutávamos uns contra os outros, porque queríamos comer aquele arroz que quase ficava caramelizado.

Consegue replicar a receita tal e qual a sua mãe fazia ou é impossível?
É difícil... Há ali sempre um toque, que é o que nós chamamos a mão, de quem está a fazer. Portanto, é dificílimo chegarmos a essa mão. Mas tento aproximar-me ao máximo, porque tenho a memória.

Curiosamente, os doces são mais feitos pelo Manuel e os salgados pelo Rui.
Sim. Na realidade, quando era novo, era muito guloso. Hoje em dia, evito comer açúcar. Já o Manuel Luís é muito guloso. Ele apanha um boião de gelado e come-o todo! Apanha um boião de doce de tomate e, em dois dias, vai o boião de doce de tomate. É muito guloso. Eu tento castigar essa parte, porque, para já, não tenho essa necessidade de comer. Mas se me disserem "Queres um presunto, um queijo, um croquete ou uma chamuça?"... Ai, isso estou sempre pronto a comer.

Cozinhar é partilhar?
A cozinha é justamente o local onde a família se encontra. Antigamente, sobretudo nas casas de famílias que não tinham grande abundância financeira, a cozinha era importante porque era onde tudo se passava: aquecia-se, comia-se, conversava-se da vida, falava-se dos problemas dos filhos... Portanto, a cozinha é partilha. E é partilha também quando acabamos de cozinhar qualquer prato e vamos para a mesa partilhar.

No seu caso e de Manuel Luís Goucha, a cozinha também é um local de partilha?
Quando estamos a cozinhar, também. Partilhamos ideias, alguns problemas, conversamos... Por vezes, comemos na cozinha. Outras vezes, vamos comer à sala de jantar.

E falando noutra aceção da palavra "partilha": partilha a cozinha ou é daquelas pessoas que não gosta de estar com ninguém enquanto está a cozinhar?
Partilho. O Manuel Luís pode perfeitamente lá estar enquanto eu estou a cozinhar. A única coisa... Quando estou a cozinhar, o Manuel Luís vem e prova. Eu não gosto é que estejam a comer [risos]! "Não comas já! Espera um bocadinho, que já vai para a mesa!"

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