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Pedro Chagas Freitas lamenta: "63 dias aqui fechados. Vivi e morri"

O escritor Pedro Chagas Freitas não tem vivido dias fáceis.

Benjamim, o filho de Pedro Chagas Freitas, está internado há 63 dias, depois de ter sido submetido a um transplante de fígado em junho.

O escritor recorreu às redes sociais, na passada terça-feira, dia 30, para fazer o já habitual desabafo.

"'Pai, sabes qual é a parte mais gira da montanha-russa?'. 'Qual?'. 'Quando pára'. A nossa não há maneira de parar, raios. 63 dias aqui fechados, entre corredores, exames e cirurgias. Vivi e morri", começou por escrever.

"A vida vale pelas mortes que nos vai dando — e pela quantidade de ressurreições que isso nos traz. Quanto mais nos vão matando, mais vivos vamos ficando, num processo que tem pouco de lógica e muito de amor. O que nos sustém é o que não vem nos livros de medicina, só nos de poesia", continuou Pedro Chagas Freitas.

"Visitei a biblioteca dos profissionais daqui do hospital e não vi lá um livro de poesia, e ainda se consideram eles médicos. Não há médicos sem poemas, como não há empreiteiros sem poemas, como não há professores sem poemas, como não há vendedores sem poemas. Somos o verso que fazemos no meio de uma frase cheio de erros", referiu, ainda.

"A vida é uma frase mal escrita, mal pensada, mal planeada. Só um poeta consegue ver nela algo mais do que uma amálgama de palavras sem sentido. O que dá sentido à vida é aquilo que vemos nela, nunca o que ela é. A vida não é muito recomendável. Há dor, há perdas, há sofrimento, há medo, há angústia, há uma quantidade interminável de me**** que só servem para dar cabo de nós. Raramente as coisas boas cobrem as outras. O que cobre as outras, o que nos faz superar as outras é o que construímos com elas. Quando o meu filho estava a ser transplantado, estive 13 horas à espera de notícias, num sofrimento que não seria, nem serei, capaz de definir. Nessas 13 horas, poderia estar ali, só a sofrer, mas aproveitei para amar. Amei o meu filho, desde logo. Passei aquelas horas a amá-lo, a vê-lo em imagens, em vídeos, a querer cada vez mais ser o pai dele. Amei, também, a maneira como a minha mulher e eu andámos pelo meio desse momento: ficámos mais profundamente apaixonados um pelo outro, mais capazes de saber quais os limites de um, quais os limites de outro. A vida é saber qual é o nosso limite, e obviamente, e regularmente, ultrapassá-lo. Tu, meu filho, ultrapassas os teus todos os dias. Já não falta muito para festejares. Eu acredito. Tu também?", rematou o escritor.

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