Conforme vem sendo hábito, Pedro Chagas Freitas partilhou mais um excerto da obra "Hospital de Alfaces", que escreveu durante o internamento do filho, Benjamim.
"Hoje, chorei sentado no chão da casa de banho do quarto. Há uma liberdade exótica, um deixar ir absoluto, quando se chora num lugar assim", começou por confessar o escritor, numa publicação realizada no Instagram.
"Não há nenhum pedaço de chão deste Hospital que não tenha sido usado para alguém, um dia, se sentar, chorar. Quando me cruzo com um ou outro pai, com uma ou outra mãe, quase sei desenhar o caminho por onde a lágrima correu há pouco; quase adivinho que estiveram sentados nos seus próprios chãos. A dor pesa, obriga a sentar quando fica insuportável", continuou Pedro Chagas Freitas, antes de acrescentar: "Quem nunca teve de chorar no chão de uma casa de banho, ou de uma rua qualquer, não sabe a sorte que tem; ou o azar, sei lá eu. Talvez só o que amamos tanto que nos atira ao chão seja também capaz de nos fazer voar como a vida deve ser voada. Voar, às vezes, só exige que não haja cordas amarradas aos pés."
"Hoje, chorei sentado no chão da casa de banho do quarto de Hospital. Não quero escondê-lo. Quero que seja normal a dor. Somos também dor, vazios temporários, descrenças, braços caídos às vezes. Perdemos tanto na vida por medo da nossa fragilidade. A felicidade precisa de fragilidade, uma fragilidade só nossa. Torna-nos indestrutíveis por mais espatifados que estivermos", frisou o escritor, confessando: "Hoje, chorei sentado no chão da casa de banho do quarto de Hospital. No começo, foi porque doía muito; no final, foi só porque amava muito. Amo, sou amado. Basta."