"Às vezes, sou má pessoa", começou por escrever Pedro Chagas Freitas, acrescentando logo de seguida: "Às vezes, somos todos más pessoas."
"A desculpa é sempre a mesma: o mundo fez-nos assim. Como se o mundo fosse uma entidade externa. Como se o mundo fosse uma coisa invisível que nos molda sem que tivéssemos escolha. Como se não tivéssemos culpa", avaliou o escritor.
"Dizemos que foi a pressa, que foi o cansaço, que foi o dia difícil. Dizemos que foi o chefe, que foi o trânsito, que foi o governo, que foi a chuva. Dizemos tudo. Não dizemos a verdade", considerou Pedro Chagas Freitas, para quem: "A verdade é que, por vezes, ser mau é um alívio momentâneo: um prazer quase infantil."
"Depois, sentimos uma leve culpa. Queremos convencer-nos de que somos boas pessoas, de que foi um acidente, de que não voltará a acontecer. Mas voltará. Não foi o mundo que nos fez assim; fomos nós. Resta-nos agarrar-nos ao que nos sobra: a possibilidade de, hoje, sermos um bocadinho melhores do que fomos ontem. Já tentaste?", rematou Pedro Chagas Freitas, citando o livro A Raridade das Coisas Banais.