"'Hoje vai ser um dia cheio de nada'. Acordaste a dizer isto a quem te aparecesse no caminho pelo corredor. Dizes com um sorriso, com mesmo com um riso, a acompanhar, como se fosse essa a grande felicidade dos nossos dias. E é." Foi desta forma que Pedro Chagas Freitas começou por escrever uma nova página do diário dedicado ao internamento do filho, Benjamim, de seis anos, que permanece no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra já há mais de dois meses.
"A maior felicidade dos dias aqui, como dos dias lá de fora (um dia vamos voltar a vivê-los, um dia temos de voltar a vê-los, temos, temos, temos), é haver dias cheios de nada. Dias desocupados de algo que os preencha de medo, de angústia, de exames, de cirurgias, de cateteres, de colheitas. A felicidade pode muito bem ser a completa ausência do que só nos enche sem nos completar, do que ocupa espaço, mas que não preenche vazios. O grande dia aqui, para ti, para nós, é o dia desabitado do que nos alimenta a ansiedade", acrescentou o escritor, comovendo, de seguida, os internautas com uma resposta que deu ao filho.
"'Amanhã vai haver algum exame ou vai ser só pândega?' Perguntas, antes de adormecer. Digo-te que vai ser só pândega, e não sei se vai ser mesmo assim (há surpresas a toda a hora por aqui), mas enquanto for possível, sim, vai ser um dia de pândega. Talvez o grande enfermeiro tenha de ser um grande especialista em pândega. Não sei mesmo como não há a cadeira de pândega no curso, em todos os cursos, na verdade. Só a inconsequência nos salva das consequências m******* do que nos magoa", completou, na legenda de uma fotografia, na qual posa com o pequeno Benjamim.
Veja, agora, a imagem partilhada por Pedro Chagas Freitas, na galeria de fotografias que preparámos para si.