"Todo o Teu Tempo" foi um êxito estrondoso em 2004. Como surgiu a ideia de recuperar o tema e de lhe dar uma nova roupagem?
A ideia surgiu numa conversa com um dos autores do tema, o Rui Calças. Percebemos que a canção iria fazer 20 anos e achámos uma excelente ideia brindar os fãs deste tema como uma nova versão. Quis ao máximo alterar pouco da estrutura, ou da forma de cantar, para que as pessoas continuassem a sentir aquela conexão com a música. Acho que correu bem, porque a aceitação foi muito positiva.
Quando pensa que já passaram 20 anos, o que sente?
É uma nostalgia mas positiva. Parece que não passou assim tanto tempo, mas, na realidade, passou e vivi tantas coisas boas ao longo destes 20 anos. Agradeço sempre tudo aquilo que me proporcionou, o facto de cantar esta música, a primeira da série e a primeira de todas as músicas que fiz e cantei.
Como tem sido recebida esta nova interpretação? O que sente quando a canta? É como que "transportada" para aquela altura?
Tenho recebido um feedback muito bom. Esta musica marcou uma geração, há muitos sentimentos associados à letra, à série, até mesmo à personagem Sara. Recebi centenas de mensagens, nas quais as pessoas me contavam como eram naquela altura, que também pintaram o cabelo de vermelho. Acho que esta nova versão voltou a criar uma conexão entre mim (cantora) com o público.
É atriz, encenadora, autora de teatro musical, mas a música sempre fez parte da sua vida, tendo inclusive lançado três álbuns ("O Outro Lado", 2004; "Só Um olhar", em 2006; "Frenética", 2017). Gostava de apostar e ter mais oportunidades nesta área?
Sim, gostava, por isso mesmo estou novamente em estúdio a criar temas originais para lançar em breve. Por vezes, não é fácil conciliar os diferentes projetos que abraço em áreas diversas, mas representar e cantar será sempre para mim prioridade.
É uma artista multifacetada, apesar de não ter uma presença regular em televisão. O último desafio na TVI foi na série "Inspetor Max", em 2017. Sente que merece mais? O que acha que tem falhado/faltado?
Sim, na TVI, creio que foi. No entanto, fiz, posteriormente, personagens em novelas noutro canal. Mas, de facto, sinto que mereço mais, sei que sou boa profissional e, por vezes, as oportunidades em televisão são escassas. Estou, atualmente, a gravar uma participação na série "Vizinhos Para Sempre", para a TVI, mas sabe a pouco.
Em 2001, estreou-se na novela "Sonhos Traídos". O que guarda dessa primeira experiência? O que diria hoje à Patrícia daquela altura?
Exatamente, uma personagem bem desafiante. Guardo muito boas memórias e ensinamentos. Num primeiro projeto ter a honra de contracenar com Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Artur Agostinho, Henrique Viana, Helena Isabel, Pepe Rapazote... e tantos outros atores de referência, foi um privilégio. Acho que, se pudesse dizer-lhe alguma coisa, seria: 'Continua a sonhar que tudo o que sonhas vai realizar-se.'
Já em 2003, deu vida à personagem Sara na primeira temporada dos "Morangos Com Açúcar". O que fica de melhor dessa altura? E de pior? O que foi mais difícil de lidar? Teve de se privar de muita coisa?
A Sara será sempre a Sara, teve tudo de bom e de mau. Foram, praticamente, dois anos em televisão, teatro e concertos com a Sara dentro de mim. Foi com esta personagem que me levei ao limite, que comecei a cantar. Eram muitas horas de trabalho, quase não via a minha família. O sucesso estrondoso da série não me permitia sequer sair à rua, ir à praia... fazer coisas banais. Para uma miúda de 22 anos foi complicado lidar com essa privação.
A personagem Sara tinha uma imagem muito marcante (madeixas vermelhas) e uma personalidade forte. Ainda hoje as pessoas lhe falam sobre ela? Como imagina que seria agora a Sara?
Sim, sem dúvida. O cabelo é quase das primeiras coisas que as pessoas referem. Mas, às vezes, há algumas pessoas que não fazem logo a ligação, porque tenho uma imagem muito diferente, mas, quando percebem, vejo sempre o brilho no olhar. É incrível como uma personagem que era vilã era tão acarinhada e bem recebida pelos seguidores da série. Talvez fosse a rebeldia e a personalidade forte. Acho que se a Sara voltasse teria, obviamente, o cabelo vermelho e aquele olhar penetrante, e seria agora uma cantora muito conhecida nos "states", como ela dizia.
O regresso da série fez com que "revivesse" aqueles tempos? Aceitaria voltar a participar? O que a faria aceitar? Tem acompanhado a série? O que está a achar?
Um pouco, talvez, mas o conceito agora é totalmente diferente, e tem mesmo de o ser. Tive a oportunidade de ver uns poucos episódios e, apesar de serem tempos diferentes, o mood está lá. Sim, aceitaria. Por que não?
E o regresso dos D'ZRT, 4Taste, JustGirls... O que a fez sentir?
Fez-me sentir que eu também devia fazer parte daquele momento. Como fui a primeira cantora da série, faria sentido. Recebi muitas mensagens mesmo a questionar-me sobre este assunto. Nada disse até este momento. Mas, como me perguntaste, eu tinha de ser sincera na minha resposta. Mas, atenção, não é, de todo, um ressentimento, é só a constatação de um facto. Obviamente que gostei e gosto deste sucesso que os D'ZRT estão a ter, novamente. Acompanhei muito de perto o nascimento e crescimento da banda, e há muitas memórias boas daquele tempo.
O que ainda existe em si da Patrícia mais reservada e mais tímida daquela altura?
Acho que essa Patrícia foi ficando para trás ao longo dos anos. O que existe é a essência do que sou, os meus valores e os traços mais vincados da minha personalidade.
Há dois anos, foi mãe pela segunda vez, aos 40 anos. Em que medida foi diferente da primeira gravidez?
Ser mãe aos 40, hoje em dia, é muito banal, mas é claro que houve diferenças nesta segunda gravidez. O cansaço, alguns cuidados médicos extra pelo factor idade, mas também senti a gravidez de uma forma mais plena e consciente.
O que mudou em si com a chegada da Maria Clara e da Margarida? O que quis fazer diferente? Ser mãe é o seu grande papel?
Tudo muda quando somos mães, por mais que pensemos que não. A responsabilidade de educar, alimentar, cuidar... É um amor avassalador que nos invade... Na realidade, não pensei no que queria fazer diferente, mas sabia que queria ser uma mãe presente. Ser mãe é o papel mais desafiante de todos, sem dúvida.
Partilhou que, antes, passou por uma perda gestacional. A que se agarraste para superar a dor?
Sim, antes da Maria Clara. Foi um período difícil, de alguma revolta, e que levou bastante tempo a superar. Infelizmente, escolhi fechar-me em mim, nos meus sentimentos, e fingir muitas vezes que estava tudo bem. Percebi, mais tarde, que foi um erro, que deveria ter dividido essa dor com a família e com os amigos mais próximos. Na realidade, é algo muito comum de acontecer, mas, naquela altura, eu desconhecia por completo.
Ser mãe era um sonho? Gostava de ter mais filhos?
Sim, era um projeto de vida que aconteceu naturalmente. Mas fica por aqui, por estas duas princesas lindas.
Também partilhou que sofreu de bullying quando era mais nova. Tem, por isso, um receio acrescido pelas suas filhas?
Fiz essa partilha no meu Instagram para assinalar o dia de combate ao bullying, porque, por vezes, vivemos episódios nas nossas infâncias que desvalorizamos, mas que, na realidade, deixam marcas invisíveis. Enquanto mãe, sim, tenho esse receio, procuro educar as minhas filhas para que não o façam, e procuro que tenham autoestima e amor-próprio e que não permitam esse tipo de comportamentos.
Casar está nos planos?
Não sei, mas não é algo em que pense com regularidade ou que seja prioritário.
Na altura da gravidez, lançou o podcast "Mãe aos 40". Gostava de investir mais nesta vertente de entrevistadora?
O conceito era mais de conversa, gosto desse género de podcasts. Talvez faça novamente algum conteúdo parecido, mas com outra temática.
Aos 42 anos, é a mulher que gostava de ser?
Sim, gosto muito do que vejo ao espelho e do que espelho nos que me rodeiam.
O que faz por si e pela sua imagem, que é uma das suas ferramentas de trabalho? Que cuidados tem?
Faço exercício com alguma regularidade, uso bons cremes e adequados à minha pele, tento ter uma alimentação saudável.
Onde se imagina daqui a cinco anos? Ou daqui a dez?
Bom, daqui a dez anos, hei-de ter... 52! E a minha filha mais velha vai ter 16, por isso, estarei a lidar com a adolescência dela. Não sei se estou preparada! A nível profissional, espero ter conquistado e somado bons projetos de teatro e em televisão, e cantado muito. Sempre rodeada pela família e pelos amigos, que são, sem dúvida, o melhor da vida.