Como está a encarar esta nova fase da vida?
Com alguma expectativa e emotividade, sem dúvida alguma. Não vou mentir. Não se pode ser indiferente a um regresso destes.
Era algo que ambicionava?
Interiormente, talvez, embora não tenha manifestado publicamente.
Por alguma razão?
Não necessariamente. Acho que a vida tem ciclos e eles definem-se à medida que as coisas se desenvolvem. Muitas vezes, nós não temos controlo sobre isso. Esta foi uma das situações. De surpresa, o Nuno [Santos, Diretor de Informação da TVI e da CNN Portugal] veio ter comigo. Já é a segunda vez na vida que entro num projeto dele - o primeiro foi a SIC Notícias e é algo que me alegra poder fazê-lo outra vez.
Recebeu um telefonema?
Não. Uma SMS para almoçarmos.
Quando recebeu essa SMS, já imaginava que viria uma oportunidade destas?
Na SMS, ele dizia algo como "Há muito tempo que não nos encontramos. Queres almoçar? Tenho um desafio". E veio com o Frederico Roque de Pinho [Diretor Executivo]. Falámos e a conversa foi mais ou menos esta que estou a ter consigo.
Hesitou?
Hesitei, porque sete anos de comodismo são muitos anos e 77 anos de vida são muitos anos. Vamos ver o que isto dá. Sinto-me motivado, mas muito consciente de que isto é uma geração nova. Tenho de encontrar códigos e diálogos para ter com gente que tem um desfasamento de vida de várias décadas em relação a mim.
Olhar com bons olhos para as novas gerações.
Tenho de tentar entender. Felizmente, já produzi várias novas gerações [risos]. Tenho netos, filhos e filhas e tento entender esses diálogos. No entanto, são mundos nos quais nem sequer tento penetrar. Tento entender, o que é diferente. Esse tem sido um objetivo de vida. A haver algum mérito, esse mérito é a memória. A memória solicita-se de vez em quando.
E faz falta.
E faz falta. Eu fiz parte da memória de várias redações. Lembro-me, por exemplo, de trabalhar com o grande Joaquim Letria. Meu Deus! Não consigo imaginar um vulto maior no nosso jornalismo. Tive momentos encantadores no ar com a Manuel Moura Guedes. Foi maravilhoso partilhar essas experiências. O José Eduardo Moniz teve a coragem de criar o "Jornal das 9", que era um produto noticioso alternativo [na RTP2]. Teve ainda um maior arrojo de me convidar para o dirigir. E creio, como disse na minha despedida, que não o desapontei, porque ele teve suficientes problemas [risos].
Agora, volta como analista e comentador.
Mais ou menos. Vou tentar dar um complemento de enquadramento a uma situação que é muito interessante.
Volta num momento muito importante [aproximam-se as eleições presidenciais nos Estados Unidos, disputadas por Donald Trump e Kamala Harris].
Crucial.
Porquê?
Há um despique imenso entre duas correntes muito claras de formas de entender o estado e a governação. E é preciso perceber que estamos a falar de uma nação de nações. São 52 nações, que impactam o resto do mundo. E, depois, a herança histórica é muito grande. Há uma coisa que não tem sido suficientemente entendida, que é uma espécie de missão que tenho de dizer: a revolução francesa, que nos trouxe as primeiras repúblicas à Europa, foi dez anos depois da revolução americana. Para nos situarmos, 20 anos depois do terremoto em Lisboa.
Este momento também reforça a importância do jornalismo.
Vamos tentar exigir das pessoas que nos sigam, que nos oiçam, que oiçam o jornalismo validado.
Isso significa o quê? Que sempre houve bom jornalismo mas que nem sempre houve interesse do público?
Talvez, em certas ocasiões, muito do jornalismo era tomado como adquirido. Estava ali, eram os fulanos que faziam umas coisas... Aqui, não. As grandes empresas são caras, têm de ser validadas e são validadas pelas pessoas que as seguem e que as veem. Ver um noticiário da TVI e da CNN é importante. É importante ver noticiários, é importante ler... E não ficar só pela rama do que diz o Facebook.
Tinha saído da televisão há dez anos. Triste, revoltado?
Na altura, digamos, não foi confortável. Houve um certo inconformismo editorial da minha parte. Houve um desentendimento editorial com quem dirigia as notícias na SIC. Fui chamado à pedra várias vezes. Depois, decidiram que os meus serviços eram prescindíveis.
No imediato, houve tristeza ou aceitação da sua parte?
Foi mais ou menos isso. Ainda trabalhei uns tempos com umas almas generosas que me quiseram levar para um grupo. Eu só perguntava o que estava ali a fazer. Supostamente, estava a tratar da área de comunicação deles, que já tinha gente a tratar disso. Mas também durou pouco, ainda que tenha boas recordações. Agora, entro num projeto em movimento e isso é importante, porque temos de ter a humildade de olhar e dizer que esta gente está a funcionar lindamente.
Nestes anos de ausência, desligou-se do jornalismo televisivo ou continuou sempre a acompanhar?
Continuei a acompanhar, seguramente, mas como consumidor.
Não houve aquela mágoa que o fizesse desligar.
Não. Com toda a franqueza, as coisas têm o seu tempo. Hoje, tenho interesses pessoais, como toda a gente. A mágoa não me descreve. Vejo uma boa reportagem... Há boas reportagens a serem feitas em todo lado ainda. Há muitíssimo bom jornalismo a ser praticado.