Mas será mesmo um novo começo ou apenas uma página rasurada com tinta disfarçada? É fácil apaixonarmo-nos pela ideia de recomeçar. O problema é que levamos sempre as mesmas malas para a viagem. Há quem chame a isso bagagem emocional; outros preferem dizer que são lições de vida. No entanto, na maioria dos casos, são só tralhas que teimamos em guardar porque o desapego dá trabalho.
A cada janeiro, desfilam os clássicos: perder peso, ler mais, poupar dinheiro, ser mais feliz. Repetimos os votos como quem reza, esperando que desta vez os santos nos ouçam. E é aqui que o ano novo nos testa - será que aprendemos alguma coisa com o anterior?
Por vezes, parece que encaramos o ano novo como uma dieta: entusiasma-nos na primeira semana, mas ao fim de quinze dias já estamos a negociar com a balança. Dizemos “este ano é que é”, mas adiamos mudanças para a segunda-feira seguinte - que nunca chega.
No fundo, o ano novo é só uma desculpa. E talvez seja essa a sua beleza. Dá-nos a oportunidade de acreditar, nem que seja por um momento, que podemos fazer diferente. Porque, sejamos sinceros, ninguém se transforma num dia só porque o calendário virou. Mas talvez o ano novo seja menos sobre mudar e mais sobre continuar - continuar a tentar, a melhorar, a cair e a levantar.
Então, que seja um ano de tentativas e de pequenos triunfos. Porque não precisamos de grandes resoluções. Precisamos apenas de um bocadinho mais de coragem para fazer o que já sabemos que devemos fazer.
Nota final? Que o ano novo traga o que procuramos - ou, pelo menos, que nos deixe mais perto disso.