Cheguei numa tarde luminosa, logo à entrada, a imponência do edifício surpreende. A ala sul do Mosteiro de Arouca, datado do século X, foi cuidadosamente restaurada, respeitando a herança de séculos e acolhendo agora um hotel de cinco estrelas que emana serenidade. Um lugar de espiritualidade, contemplação e memória. E agora, também, de hospitalidade e excelência. O hotel é um refúgio onde o passado se encontra com o presente, com a graciosidade de quem sabe respeitar ambos. No dia da minha chegada, o tom estava dado com uma delicada surpresa de boas-vindas no quarto: uma seleção de doces conventuais de Arouca, apresentados com a elegância de quem sabe que os pequenos gestos contam. E se eu adoro doces conventuais!
O edifício que outrora acolheu a Rainha Santa Mafalda - neta da Rainha Mafalda de Saboia e de D. Afonso Henriques - é agora lar de 53 quartos onde se respira tranquilidade, emoldurada pela natureza envolvente. Há algo de profundamente comovente entre a solidez de uma construção com quase mil anos e o conforto contemporâneo que preenche cada recanto. Dei por mim - imensas vezes - a contemplar a estrutura do local onde estava hospedada.
Durante a noite de inauguração oficial, o Chef Rui Paula assumiu o comando do catering. Foi uma noite pautada pelo requinte, com pratos que prestaram tributo à região com sofisticação. A primeira noite foi mais do que repouso. Foi um reencontro com o silêncio - não o silêncio vazio, mas o que acalma e reequilibra. Dormir num espaço com tanta história tem uma energia própria, inexplicável! No meu quarto, os tons naturais e os tecidos de qualidade criam uma atmosfera que convida ao recolhimento. Dormi lindamente!
Acordar no MS Collection é uma experiência em si. Fui brindada com um dos pequenos-almoços mais surpreendentes dos últimos tempos. Assim que entro no restaurante deparo-me com uma mesa dedicada aos doces conventuais de Arouca, com opções infinitas. O pequeno-almoço é um dos grandes destaques do hotel e excede as expectativas até dos mais exigentes! Mas é a mesa dedicada aos doces conventuais de Arouca que me roubou o olhar primeiramente. Uma seleção de iguarias preparadas com a mestria de quem, ao longo dos séculos, transformou ovos, açúcar e amêndoas em verdadeiras obras de arte. Castanhas doces, Pedra Boroa, roscas de amêndoa, pedras parideiras, ovos de pega, charutos de amêndoa, pão de São Bernardo, pão de ló cremoso, pão de ló seco, morcelas doces...ufa. Mas também uma seleção requintada de tudo aquilo que possam imaginar num pequeno-almoço digno da realeza. Os meus preferidos foram a seleção de queijos, a vasta opção de frutas frescas, pratos quentes preparados na hora, sejam doces ou salgados. Difícil é escolher! Entre a serenidade da paisagem e a elegância dos interiores, vive-se uma experiência gastronómica pensada ao pormenor.
É uma celebração sensorial, na qual tradição e sofisticação se cruzam à mesa - e, mesmo sem pressa, fica sempre algo por provar. Imperdível! Fãs de pequenos-almoços deliciosos, este é obrigatório de conhecer!
Enquanto atravessava um dos corredores do mosteiro, reparei em algo inesperado - portas originais do edifício, transformadas em obras de arte pelo artista português Vhils.
Este hotel apresenta um spa com piscina interior aquecida, jacuzzi, sauna, banho turco e salas de tratamento, é um convite ao recolhimento profundo, à escuta do corpo e ao silêncio.
No exterior, há piscinas para adultos e crianças, kids club, e uma promessa implícita: a de desacelerar. E cumpre-a com mestria. A piscina exterior — com zonas para adultos e crianças — convida ao descanso prolongado, com espreguiçadeiras estrategicamente colocadas ao lado de árvores centenárias. É esta a banda sonora da natureza: o canto dos pássaros, a brisa nas árvores e o silêncio que só a serenidade de Arouca pode oferecer. Vou ter muitas saudades deste jardim e dos cocktails sem álcool servidos à beira da piscina.
O restaurante do hotel, HERITAGE 1220, é um tributo ao ano em que Santa Mafalda trouxe prestígio e devoção ao mosteiro. À frente da cozinha está o Chef Fernando Machado e a Chef Ana Duarte e Silva na pastelaria. A carta convida à descoberta: pratos de conforto com identidade, onde a memória e a modernidade se sentam à mesma mesa.
Começamos com um aveludado de legumes, seguimos para uns camarões fritos em azeite e alho, suculentos e aromáticos, continuamos para um ceviche clássico de salmão e robalo, com acidez precisa e notas de frescura que despertam o palato. Depois, chegam os sabores da terra: a vitela de Arouca — em versão assada, acompanhada de grelos, batatas e arroz branco. Carne da Vazia assada lentamente no forno, um clássico da região — e a posta laminada, grelhada na brasa e servida com puré de batata-doce. O bacalhau com broa, servido sobre batata a murro e regado com azeite, é um abraço português num prato. Já o caldoso de peixe e gambas, com salmão, robalo, camarão, arroz e coentros, faz-nos viajar pela costa sem sair da serra e foi o meu prato preferido.
Nas sobremesas, a trilogia conventual dá a provar várias opções, castanhas doces - pequenas obras-primas de doce de ovo e amêndoa, assadas uma a uma na brasa. Roscas de amêndoa com a crocância delicada do açúcar, e charutos de amêndoa envoltos em folha de hóstia. Não resisti a pedir também Barriga de Freira, uma perdição! Para quem quiser prolongar o doce encantamento, há mousse de chocolate servida com gelado e frutos vermelhos, pudim Abade de Priscos com brilho âmbar, leite-creme queimado na hora, acompanha com gelado e ainda carpaccio de ananás delicioso, leve e fresco, também acompanhado com sorbet.
Arouca não é só o berço do mosteiro — é um destino a descobrir. Parte integrante do Geopark, reconhecido pela UNESCO, a vila convida a passeios lentos, trilhos pela natureza e mergulhos na alma de Portugal. Existem serras, cascatas, trilhos, os passadiços do Paiva, a ponte suspensa, fósseis e formações geológicas únicas para visitar. Este hotel é o ponto de partida ideal para essa viagem.
O verdadeiro luxo não está apenas nos acabamentos — está no silêncio, na luz que atravessa os corredores de pedra, nos sabores de sempre reinventados, na sensação de que ali, sim, podemos respirar e sentir.
Este hotel não se limita a oferecer conforto. Oferece profundidade. Não é um luxo de ostentação. É um luxo íntimo, tranquilo, feito de história, natureza e sentido. Cada elemento do MS Collection Mosteiro de Arouca foi pensado para nos fazer parar. Agradeço a toda a equipa a forma como nos receberam! Já tenho saudades e quero muito voltar!
