Entrevistas

Fábia Rebordão destaca momento especial: "Mudou tudo"

Joana Freitas Araújo entrevistou para a SELFIE Fábia Rebordão.

Relações públicas - "Dois às 10" e "Em Família"
  • 7 out, 08:50

Estive à conversa com Fábia Rebordão, que me falou sobre a respetiva carreira... e não só!

Cresceste numa família com uma herança musical fortíssima. Como é carregar esse legado e, ao mesmo tempo, construir a tua própria identidade artística?
É uma responsabilidade bonita, mas também um desafio. Desde muito nova cultivei-me musicalmente e sempre soube que precisava de encontrar a minha própria voz. O legado é inspiração, nunca peso.

Amália Rodrigues é um nome incontornável. O que mais te inspira nela e o que quiseste trazer de novo ao fado através da tua voz?
Amália é intemporal. Inspira-me pela entrega absoluta, pela coragem de ser diferente. O que procurei trazer foi a minha verdade, o meu olhar sobre o fado, sem medo de arriscar e de o fundir com o meu tempo. É isso que tenho feito desde o meu primeiro disco.

O fado é tradição, mas também é reinvenção. Como tens equilibrado a autenticidade da raiz com a modernidade que também trazes às tuas interpretações?
O segredo está no equilíbrio, mudar a forma, mantendo o conteúdo. O fado é raiz, é chão. Mas também é inquietação, liberdade. Respeito profundamente a tradição, mas gosto de lhe dar a minha cor, a minha forma de sentir. E tudo o que dou é aquilo que me compõe, enquanto intérprete e também compositora.

Ao longo da tua carreira, houve algum momento em que pensaste desistir? Se sim, o que te fez continuar?
Houve momentos difíceis, claro. Mas foram esses momentos que me deram ferramentas emocionais para crescer como mulher e intérprete e para passar verdade quando canto ou componho. Ainda assim, a música fala sempre mais alto. Quando sinto a dúvida, lembro-me do porquê: foi a música que me escolheu, não o contrário.

Qual foi a conquista mais marcante para ti até hoje, tanto no palco como fora dele?
No palco, talvez os encontros com artistas que admiro profundamente, como Fausto, Sérgio Godinho, João Pedro Pais, Dino D’Santiago, Lura, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Jorge Fernando, entre tantos outros. Essas são as verdadeiras medalhas que a vida me dá. Um privilégio imenso. Fora do palco, a conquista maior é nunca ter deixado de acreditar no meu caminho, mesmo quando parecia mais difícil.

O que é que a maternidade mudou em ti?
Mudou tudo. A forma como vejo o mundo, a forma como canto. Trouxe-me uma profundidade e uma doçura que não conhecia. Tornamo-nos maiores perante todos os olhares e mais fortes perante todas as adversidades. A maternidade torna-nos invencíveis.

Quem é a Fábia quando não está a cantar?
Sou mãe, sou mulher, sou amiga. Gosto da vida simples: cozinhar, rir, ouvir música, ler, compor, estar com os meus. A música é parte de mim, não sei viver sem ela.

Qual é a emoção mais difícil de traduzir a cantar e que tu sentes vontade de explorar mais?
 A leveza da felicidade. A dor traduz-se mais facilmente em canção, em fado. A densidade da dor, da dolência e da amargura é uma catarse emocional enorme. Já a plenitude e a alegria são mais desafiantes. Talvez aí esteja o meu próximo mergulho.

Tens algum sonho que guardas em segredo?
Tenho muitos sonhos, mas há um que guardo só para mim. Faz parte da magia… sonhar em silêncio para um dia surpreender.

Por fim, o que gostarias que o público sentisse e levasse consigo cada vez que te ouve cantar?
Quero que levem consigo toda a verdade quando me entrego. Que sintam que não ouviram apenas uma voz, mas uma vida inteira a cantar. O fado é isso, deixar que algo maior passe através de nós e da nossa voz.

Joana Freitas Araújo
Relações públicas - "Dois às 10" e "Em Família"

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