Com uma voz envolvente e uma profunda ligação ao Fado, Inês de Vasconcellos tem vindo a conquistar o público com a sua autenticidade e versatilidade musical. Recentemente, a artista, de 35 anos, apresentou o mais recente tema, "Mãos do Destino", um single que carrega a força da espera, da saudade e da incerteza. Entre sonhos que se concretizam e a certeza de que nada acontece por acaso, Inês de Vasconcellos fala à SELFIE sobre o novo trabalho, aquilo que a move, a magia da música e a forma como cada nota escrita é um pedaço do seu destino.
Recentemente, apresentou o novo single, "Mãos do Destino", numa listening session exclusiva: o que representou para si e que memórias guarda desse dia?
Foi um momento muito especial e marcante. Embora este seja o meu oitavo single, foi a primeira vez que fiz questão de organizar um evento de apresentação ao público. Tenho uma conexão profunda com esta canção e poder partilhá-la assim de forma tão intima e sentindo a reacção das pessoas foi uma experiência verdadeiramente inesquecível.
Estiveram presentes várias figuras públicas e algumas das pessoas mais especiais para si. Foi um dia de emoções fortes? Como foram as reações?
Foi, sem dúvida, um dia de emoções muito fortes (risos). Ver na plateia pessoas que admiro e que acompanharam o meu crescimento, tanto pessoal quanto artístico, fez-me sentir que estou no caminho certo. As reacções foram muito bonitas e pude perceber que as pessoas sentiram realmente a mensagem da música "Mãos do Destino". No final, desafiei o público a cantar comigo o refrão e foi tão emocionante ver como em pouco tempo já conseguiam canta-lo. Fiquei comovida.
Diz-se que o Fado carrega todos os sentimentos: levou-os a todos para esta música?
De forma consciente, não. Claro que a alegria de gravar e cantar esteve presente, mas a mensagem da canção não é essencialmente alegre. A tristeza, a saudade, a angústia, a apreensão e até a solidão - sentimentos muitas vezes presentes na narrativa de muitos fados - estão muito presentes na letra e música.
A letra e a música são da sua autoria: é um tema autobiográfico sobre espera, saudade e incerteza?
A letra e música são da minha autoria e também do João Direitinho, Guilherme Alface e Mário Monginho. Todos nós já passámos por momentos de espera e incerteza. Quem nunca ficou à espera de alguém que atire a primeira pedra.
Um desgosto de amor é sempre inspirador para quem escreve?
É um grande catalisador. A arte, em geral, nasce em momentos mais sombrios e de tristeza. Pessoalmente, acredito que a criação seja uma forma de cura, de transformar a dor num processo criativo que pode sarar as feridas do coração.
"Fica nas mãos do destino", canta. Acredita no destino?
Acredito que não existem coincidências e que muitas das coisas que nos acontecem têm um propósito. Contudo, também acredito no livre-arbítrio. Podemos influenciar o nosso destino, mas há algo misterioso e imutável, algo que já está traçado. Acredito que o nosso destino é, em parte, o que escolhemos, mas que também há elementos que são simplesmente inevitáveis.
Como tem sido a reação do público a este novo single?
A reacção tem sido muito bonita. Acho que as pessoas se identificam profundamente com os sentimentos e as emoções que a música "Mãos do Destino" evoca. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas a dizerem que esta canção tem sido a banda sonora das suas historias.
Fazer parte da banda sonora de uma novela com este tema seria um sonho tornado realidade?
Sem dúvida! Ter uma canção minha numa novela é um grande sonho. Desde que a música Mãos do Destino" foi lançada que tenho recebido vários comentários a dizer que esta canção encaixaria perfeitamente numa novela, até mesmo num genérico. Isso tem-me feito acreditar que esta pode ser a canção certa. O futuro dirá se esse sonho se torna realidade.
A música foi sempre uma paixão?
Sempre, desde pequenina. A música esteve sempre muito presente na minha vida. A minha mãe tocava Mozart e Chopin em casa e eu adorava ouvir. Com 14 anos, comecei a querer explorar mais a minha voz e a música de forma mais profunda. Entrei para o Coro dos pequenos Cantores do Estoril, comecei a estudar violino e, mais tarde, com cerca de 16 anos, comecei finalmente a ter aulas de canto. A música sempre fez parte de mim.
Apesar de o Fado estar sempre presente, sente que tem conseguido mostrar a sua versatilidade?
Quero acreditar que sim. Desde o lançamento do "Amplexo", cada canção que lancei reflete uma evolução natural, não só em termos de maturidade artística como também na sonoridade. Tenho explorado diferentes nuances dentro do meu universo musical, trazendo novas influencias e abordagens, sem nunca perder a minha identidade. Essa versatilidade é algo que me inspira e desafia constantemente e espero que o público consiga senti-la a cada novo lançamento.
O que podemos esperar para 2025?
Será um ano cheio de novidades e surpresas. Tenho muitos projetos a desenvolver e canções que quero partilhar com o público ao longo do ano. E, quem sabe, culminando num novo álbum. Será um ano de crescimento, novas sonoridades e emoções por descobrir.
Há alguém com quem gostasse de cantar?
Sem dúvida! Há muitos artistas com quem adoraria cantar. Por cá: Simone de Oliveira, Marisa Liz ou Carolina Deslandes. A nível internacional, nomes como Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Jessie J e Lady Gaga são grandes referências para mim. Seria um privilegio partilhar o palco ou o estúdio com qualquer uma delas. Cada colaboração traz algo único e especial e gosto da ideia de cruzar universos musicais diferentes.
Tem alguma referência musical que tenha sido fundamental para a sua carreira?
Sim, tenho várias referencias musicais que foram fundamentais para a minha carreira, especialmente no Fado. Houve um momento muito marcante para mim, num concerto de uma artista que admiro, a Carminho, em que ela interpretou uma canção chamada "Voltar a Ser". Naquela altura, eu já acreditava que a música não teria um papel central na minha vida mas, ao ouvir essa canção, senti que era um gatilho, um chamamento para voltar a ser tudo o que eu já fui um dia, tudo o que eu já queria ser. Esse momento foi transformador e ajudou-me a reencontrar o meu caminho na música e a mergulhar de cabeça no Fado.
Qual foi o momento mais emocionante ou significativo que viveu em palco até hoje?
Houve dois momentos que marcaram profundamente a minha carreira até agora. Um deles foi ganhar o prémio Song of The Year nos International Portuguese Music Awards, nos Estados Unidos, com a canção "Estou Bem" (letra: Capicua, música: Ricardo Cruz). Foi um reconhecimento muito especial nesta ainda curta caminhada e um daqueles momentos que me fez sentir que tudo vale a pena. O outro aconteceu em agosto do ano passado nas Festas do Mar, em Cascais. Cantar na minha terra, diante de centenas de pessoas, num dos maiores palcos do país, foi simplesmente inesquecível e emocionante. Estes dois momentos fizeram-me sentir que o sonho se está a materializar.
Tem algum ritual antes de entrar em palco?
Não tenho um ritual especifico antes de entrar em palco, mas há algumas coisas que faço sempre. Para mim, é fundamental hidratar-me bem e beber muita água, porque tenho sempre receio de que a voz possa falhar. Normalmente, como pouco, apenas uma banana para não ter refluxo. E, por mais nervos ou receios que existam, há sempre algo dentro de mim que me diz que estou a viver o sonho e essa sensação dá-me a a força e o foco de que preciso para subir ao palco.
Onde se imagina daqui a 5/10 anos?
Daqui a 5 ou 10 anos, espero olhar para trás e sentir que construí uma carreira sólida, com uma identidade bem marcada. Mais do que pisar grandes palcos, o que realmente desejo é saber que a minha música chega a cada vez mais pessoas, que há um público que cresce comigo ao longo do tempo. Se, um dia, encher um coliseu, por exemplo, isso significará que a minha música encontrou o seu espaço no coração das pessoas - esse é o maior sonho de todos.
O que diria à Inês da sua infância/adolescência?
A Inês da minha infância e da minha adolescência, muitas vezes, duvidava de si mesma e via os palcos como algo distante, algo quase inatingível. Lembro-me de olhar e pensar: um dia, ainda vou estar ali. Mas esse momento parecia sempre algo muito longínquo. Foi quando comecei a mergulhar no Fado e a construir a minha carreira que percebi que tudo é possível, assim haja determinação e paciência. Uma das coisas que mais me marcou na adolescência foi uma caixinha em seda bordada com muitas velas coloridas oferecida pelo Manuel Luís Goucha e que dizia "Dreams come true". Esse gesto marcou-me profundamente. E essa caixinha tornou-se uma âncora para mim e uma lembrança constante de que os sonhos, por mais distantes que pareçam, podem concretizar-se. E concretizam-se mesmo. Eu diria à Inês pequenina para continuar a sonhar muito alto, porque, com trabalho e persistência, tudo é possível.
O que nos pode contar sobre esta ligação especial ao Manuel Luís Goucha?
Conheci o Manuel Luís Goucha na minha adolescência, por volta dos 13 ou 14 anos, porque era visita assídua do restaurante dele em Fontanelas, onde a minha avó e eu ficávamos sempre na mesa 1. Íamos lá semanalmente, e foi assim que nasceu uma amizade que se fortaleceu ao longo do tempo. Mais tarde, ele abriu outro restaurante em frente à loja de antiguidades da minha avó, em São Pedro de Sintra, e essa proximidade manteve o nosso contacto. O Manuel Luís Goucha foi uma referência importante para mim e continua a se-lo até hoje. Para além de tudo o que representa no mundo da televisão, é uma pessoa de enorme generosidade, sempre atento e inspirador. Tenho por ele um carinho imenso e uma admiração profunda.
