Entrevistas

Em entrevista intimista, Helena Sacadura Cabral confessa: "Aos 90 anos já não há arrependimentos"

Helena Sacadura Cabral, que completou recentemente 90 anos de vida, fez um balanço de vida, numa entrevista exclusiva à SELFIE.

O que a levou a escrever "Olhos nos Olhos"?
De certa forma, o desejo de escrever este livro nasceu com o principio da pandemia que me obrigou a fazer uma revisão profunda da minha vida

Como tem sido a reação dos leitores? Houve alguma mensagem em especial que a tenha emocionado?
A reação dos meus leitores foi muito boa, porque o livro tem estado nos top das livrarias e continua a vender muito bem. Tive muitas mensagens emocionantes, sobretudo quando, com toda a franqueza, me dizem que querem chegar à minha idade e ser como eu.

Considera que, nos dias de hoje, é primordial fazer uma pausa?
As pausas são sempre necessárias para que possamos abrir-nos aos outros e perceber melhor o mundo à nossa volta.

"Quem tem asas se quiser voa" é um dos seus conselhos. Acha que a vontade é superior aos obstáculos exteriores?
A vontade é ao longo da vida treinada para aquilo que nos faz felizes e para o que nos torna infelizes. Ora a nossa maior obrigação é ser feliz. E, para isso, temos que ter uma disciplina da vontade que nos ajude a superar o que nos torna infelizes. Porque a vida continua…

O amor é um dos temas abordados no livro. A forma de amar é diferente aos 90 do que aos 40 anos?
Claro que sim. Mas também aos 40 é diferente da chama dos 20 anos. A vida vai ensinando como conduzir com felicidade essas mudanças!

Que balanço que faz de 2024?
Pessoalmente foi um bom ano, mas com perdas irreparáveis de grandes amigos. É o preço de se viver muito!
Do ponto de vista do mundo sou um pouco menos otimista. Rondam-nos eventuais perigos que, a concretizarem-se, levantarão sérias dificuldades.

Este último ano foi marcado também por algumas perdas de amigos. Como tem lidado? A escrita é uma forma de superar o luto?
Em certas alturas escrever é uma forma de catarse, que nos obriga a olhar para dentro de nós. E esse olhar íntimo permite que o luto seja menos cruel.

Aos 90 anos guarda alguns arrependimentos? Algo que faria de forma diferente?
Aos 90 anos já não há arrependimentos. Restam apenas erros. Na minha vida, de importante, só houve um!

E que erro foi esse?
Entendo que é melhor não partilhar, dado que envolve outras pessoas.

Se pudesse voltar atrás no tempo, voltaria a que momento?
Aos 50 anos, data em que eu já sabia quem era, o que queria e o que faria. Foi nessa altura que a minha vida começou a ser minha.

É hoje a mulher que imaginou?
Sou muito próxima do que queria ser.

O que gostaria de dizer à Helena da sua juventude?
Trabalha e sê genuína. Nunca dependas de ninguém que não sejas tu. Foram as últimas palavras que a minha mãe me disse antes de morrer. Cumpri até hoje. Nunca dependi a não ser de mim.

Foi há 13 anos que se despediu do seu filho Miguel. O tempo passa e a saudade aumenta?
O Miguel está tão presente na minha vida como se fosse vivo.

Era muito mais o que unia do que o que separava o Miguel do Paulo?
Muitíssimo mais. Eram dois irmãos que se adoravam e se protegiam mutuamente. Foram o melhor que fiz na vida. E o amor que os unia era tão grande ou maior do que aquele que eu sinto por eles!

Considera que ser avó é ser mãe com açúcar? Como é sua ligação com os seus netos?
Não. Os avós não servem para deseducar. Devem respeita a educação que os pais dão aos seus filhos e dentro desse critério criar uma relação com cada um deles, essa sim, muito especial.

Qual é o segredo da sua eterna juventude?
A minha permanente alegria e força de vontade de viver como quero.

Como surgiu o gosto pelo exercício físico?
Como quase tudo na vida. Por decisão própria face às desvantagens de mobilidade que a idade certamente me iria trazer.

Sente-se uma mulher realizada?
Sinto-me muito grata a Deus por poder continuar a trabalhar, ter sonhos e projetos que vou conseguindo realizar. Enquanto tiver sonhos nunca serei velha num sentido depreciativo.

O que sente que ainda lhe falta fazer?
Levar a cabo o meu trabalho na área do Desenvolvimento Pessoal e da Economia da Felicidade, trabalhos que iniciei e quero deixar a andar pelos seus pés.

Quais os motivos por que nossos leitores devem ler "Olhos nos Olhos"?
Se nalguns pontos se sentirem identificados comigo, então leiam o livro porque vão passar a compreender-se melhor!

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