Com uma participação envolta em polémica desde o início, Yuval Raphael, com a canção "New Day Will Rise", conquistou o segundo lugar para Israel.
Entretanto, esta classificação está a gerar celeuma com algumas estações de televisão a exigirem auditorias ao televoto que, em vários países, atribuiu a pontuação máxima a Israel.
Casa da VRT, a televisão pública de língua neerlandesa da Bélgica, que exigiu à organização do Festival Eurovisão, que este ano decorreu em Basileia, na Suíça, "total transparência" sobre o sistema e as regras de votação, e pôs mesmo em causa a participação da emissora em futuras edições do concurso.
"Constatamos que a Eurovisão, tal como está organizada atualmente, é cada vez menos um evento unificador e apolítico. Entra, cada vez mais, em contradição com os valores originais do concurso e com os valores do serviço público de radiodifusão", acrescentou a VRT.
A emissora belga interrompeu a transmissão do evento durante a atuação de Israel na final, tal como já tinha feito em 2024, e exibiu um ecrã negro criticando as violações dos direitos humanos em Gaza, o silêncio da imprensa, e apelou a um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Já a RTVE, emissora pública de Espanha, publicou na sua conta oficial da rede social X, momentos antes do início da final do concurso, uma mensagem em inglês e espanhol, sobre um fundo preto, na qual se lia: "Perante os direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina."
Paralelamente, o partido socialista flamengo Vooruit pediu uma investigação aprofundada sobre o televoto do público, que, no caso da Bélgica, atribuiu os 12 pontos máximos a Israel, enquanto o júri profissional não lhe concedeu qualquer pontuação.
"Um sistema em que cada pessoa pode votar até 20 vezes é um sistema que fomenta a manipulação. É necessário examinar se essa manipulação ocorreu no nosso país e nos restantes países participantes e não participantes. A VRT deveria tomar a iniciativa de solicitar esta investigação, e abrir o debate sobre o sistema de televoto dentro da UER e sobre a participação de Israel", declarou, em comunicado, a deputada social-democrata Katia Segers.
Fontes da televisão pública de Espanha, citadas por diversos meios de comunicação social locais, disseram que a RTVE vai pedir uma auditoria aos resultados do televoto no país na edição deste ano da Eurovisão.
Também o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, defendeu a exclusão de Israel do Festival Eurovisão da Canção e de outras competições internacionais, tal como aconteceu com a Rússia após a invasão da Ucrânia, em 2022.
"Não podemos permitir duplos ‘standards’", disse Sánchez, num discurso num evento em Madrid em que realçou que "ninguém levou as mãos à cabeça" quando a Rússia foi excluída de competições desportivas internacionais ou de iniciativas como a Eurovisão.
A polémica, em linha com a controvérsia gerada em Espanha, surge após Israel ter ficado em segundo lugar no concurso, estando prestes a superar a Áustria, que venceu nos momentos finais, entre celeumas ligadas à grave situação humanitária na Faixa de Gaza.
Já nas redes sociais, há quem também questione a independência da Eurovisão numa altura em que a Moroccanoil, uma empresa israelita, é o principal patrocinador do evento.
A atuação israelita obteve apenas 60 pontos por parte do júri profissional, ficando na décima quinta posição, mas somou também 297 pontos do voto popular, sendo a música mais votada em 13 países, incluindo Portugal, o que representa 50% da ponderação no resultado final.
Por sua vez, a Áustria recebeu 258 pontos do júri e 178 pontos do público.
Recorde-se que na classificação atribuída pelo televoto português a primeira classificada foi a canção de Israel. Entretanto, citada pela Rádio Renascença, a RTP nega estar a preparar uma posição oficial e diz apenas manter-se atenta aos desenvolvimentos da polémica.
O tema "Deslocado" dos NAPA, que representaram Portugal, terminou a votação do júri do Festival Eurovisão da Canção em 21.º lugar, com 50 pontos (13 do público e 37 dos jurados), em 26 concorrentes.